O MOMENTO DO ADEUS

Gesto que tudo rasga,
aceno que a mão aprende,
movimento imóvel nos lábios.

Palavra que os olhos choram.

Cinza que o céu jorra,
repouso que o corpo não procura,
dizer que a boca do caminho não diz.

Paisagem que a tinta não pinta.

Desenho que não traça,
cais que o pensamento não espera,
sombra que o sal do mar não mergulha.

Nó que a alma não desata.

Fenda que não fecha,
acolhimento sem tecto,
abraço que o vento não abre.

Sol que não arde.

Vertigem que a asa não bate,
areias que o suor dos pés não calçam,
âncora que o fundo do ser não identifica.

Nascente que a água não ralha.

Chuva a quem a mãe não dá colo,
inocências que os amantes não culpam,
inverno onde o amor é cegonha que não faz ninho.

Janela de onde a vista é cega.

O momento do adeus.