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Os Tormentos Das Águas

Marés atiravam-se ao rochedo,
aflições por míngua tortura,
trespassadas por melindrosos cânticos,
de eternos afogados,
e,
na orla pendulavam,
reflexivos celestes,
flagelos das persistências de insurgência,
como dilaceradas artérias,
de seivas marítimas em circulantes,
inflamáveis múltiplos octanos,
fragmentações explosivas ao penhasco,
álveos da caudalidade,
fendida em martírios.

Eterna galvanização do inconcluído,
em manchas de azul esverdeado ao negrume,
como vulcânicos extractos da cratera,
e,
por baixios de horizontes lineares,
suicídios,
vaga após vaga.

Peixes tropeçavam nos cadavéricos,
entesouradas valas incomuns,
sepulturas aquáticas,
por fragatas sufocadas,
arcas arrancadas ao destino terreno,
porque as flutuações se engolem,
em descidas,
ao abismo de corais trevas,
como majestosas cascatas de lenha.

Relâmpagos adulavam-se por cópula,
descarregadas cóleras ao ventre,
sémen à ventosidade,
imaculada materna fecundidade,
germinação dos tumultos ondulados,
ou,
profilaxias por evangélicas naus,
e,
da epifania aos peixes,
que não se apregoam,
que não se pregam,
negados incomuns túmulos aos eucarísticos,
fixados no prego aos recifes,
os nus messiânicos,
liquefeitos no esquecimento.

Transbordante produção do mártir,
como incesto de salinas,
porque o pânico desemboca no penedo,
como voraz aguilhão,
de húmidas tempestades,
fincado arpão ao suicídio,
vaga após vaga.

Voava fermentada a espuma da raiva,
porque na areia se roça o ódio,
marulhado cortejo ao coito,
e,
do furibundo ardor lascivo,
faróis em epidémicos terrores,
prostrações à insignificância,
sujeitas luzidias órbitas à privação,
porque descoberto caminho marítimo,
para a loucura,
e,
porque a secura ostenta o entediado,
ensopadas torres ao afogamento,
ricochete da lança do suicídio,
vaga após vaga.

© BM Resende

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sexta-feira, maio 15, 2009 - 11:26

Poesia :

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BMResende

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Comentários

imagem de Conchinha

Re: Os Tormentos Das Águas

Já havia escrito por aqui que um poema teu significa que tenho que ler e reler. Sem dúvidas, digo-te que o problema é meu - sou preguiçoso e quero ler tudo de uma vez.
Aprecio muitas das tantas imagens que crias e, leitura após leitura, vaga após vaga, vou construindo alguns significados. Talvez um dia consiga chegar ao que idealizaste ao conceber o poema.
Desconfio que gostas de cada verso que escreves.
Um abraço ( e voltarei :-) )

imagem de BMResende

Re: Os Tormentos Das Águas

Obrigado pelo comentário Conchinha. Em reducionismo, poderia dizer que a estrutura narrativa envolve o leitor na cognição, a poética na emoção, a meu ver a intensidade emotiva e subjectiva é muito mais importante que as significâncias. Fluídos de imagéticas a meu ver são mais estimulantes emocionalmente que descrições obectivas, ou quase. A exemplo, aqui apenas tive por fonte a contemplação do mar, apenas deixei fluir a mente, como que aglutinando diversos espaços e tempos num único. Algumas ideias objectivas podem ter servido de intermediárias, os Lusíadas de Camões, os Sermões aos Peixes de António Vieira, os Pescadores de Raul Brandão, o faról de Leça, as evangelizações e destruições aos ameríndios, a Guerra Civil Espanhola, sexo na praia...

Tento sempre não idealizar nada, só assim a mente e o espírito conseguem fluir livremente.

Sem dúvida, gosto imenso de cada verso que escrevo, não por amores de mim próprio, por neles ver espelhados tantas pessoas, tantas acções, tantos pensamentos, que nesse momento são meus, mas que em outras alturas foram de outros, aqueles que fizeram o que temos hoje, no bem e no mal. A meu ver somos um infinito de fluxos do passado, um terminal onde desembocamos a nossa essência, que não é puramente individual, é uma colecção de infinitos históricos.

Assim espero, que voltes.

Abraço.

imagem de jopeman

Re: Os Tormentos Das Águas

Excelente
O tormento numa magistosa poesia, vaga após vaga
Abraço

imagem de BMResende

Re: Os Tormentos Das Águas

Obrigado pelo comentário jopeman, os tormentos de uns são os prazeres de outros, demasiadas vezes.

Abraço.

imagem de Henrique

Re: Os Tormentos Das Águas

Eterna galvanização do inconcluído,
em manchas de azul esverdeado ao negrume,
como vulcânicos extractos da cratera,
e,
por baixios de horizontes lineares,
suicídios,
vaga após vaga...

Espectacular texto, vagas de loucura e ricochete poético!!!

:-)

imagem de BMResende

Re: Os Tormentos Das Águas

Obrigado Henrique pelo comentário. Uma simples contemplação do mar pode levar a mente a uma odisseia.

Abraço.

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