OUTRA ALMA

Quisera uma outra alma, não a sua
Uma que fosse minha
Sem espinhos, sem dor, sem agonia
Uma alma que soubesse viver da beleza e da ternura
Que achasse um fim, com o sol que morre todos os dias
Como a lua guardada no céu para reaparecer todas as noites
E ser farol, musa, mistério
Corpo sólido e eterno, vazio.

Quisera que o momento anunciado desde o primórdio jamais chegasse
Este momento, em que mais uma vez a perco
A vez derradeira, porque junto de ti vai o amor
Que me tenho e dou à todas as coisas do mundo
Agora não amo, sofro
Engana-se o poeta, o sofrer não é do amor
É de si mesmo, é do medo, da angústia, da ausência.

Quisera agora rir, entender o enredo da comédia
Eu, o soberbo
Eu, o ateu
Eu, o senhor de minhas ações
Sucumbo, naufrago, agonizo
O amor é meu norte
Sou forte naquilo que amo
Na minha alma amante, que agora não ama

Quisera uma outra alma, a sua
Que fosse minha.