Passos côr de canela...

Desço a rua lentamente; hoje não tenho pressa. Nesta tarde de Novembro são as horas sábias a marcar um crepúsculo invisível aos olhares da maioria, ainda que estejam atentos aos pequenos pormenores. Um entardecer igual a ontem e esquecido entre tantos outros.
Continuo a caminhar e por momentos tenho a nítida sensação de nunca ter pertencido a este lugar; ao mesmo lugar onde sempre morei, adormeci e acordei...e os meus passos, amortecidos pelo tapete das folhas cor de canela e espalhadas pelos quadradinhos desenhados nas calçadas, são para mim segredos de um outono cinzento e sombrio, as respostas artísticas e insondaveis duma natureza que me abriga.

As folhas cor de canela são apenas os meus passos...
As folhas cor de canela são apenas os meus olhos visionários...
As folhas cor de canela são o ritmo pendente de um amor que vive e que voa para além deste rumor; o rumor dos meus passos de canela que não se faz sentir...

Profundos são os sonhos desse coração frágil, oprimido em dias negros de insatisfação negada.
Ainda que sorria aos dias, representa os sorrisos como se tudo fosse fácil; qual palhaço, mascarado, ilusionista, cómico e dramático...transformista dos meus passos de canela...

Sonhos inquietos de uma paz que se deseja...
Camas macias e falsas, fingindo a alegria que não existe...e enquanto riem os dias, choram as noites...
E a noite chora pelos filhos que jamais poderão ver a madrugada...

Distante de qualquer palco, sinto novamente que não pertenço a este lugar, mas grito para o voltar a encontrar. Mares largos e distantes talvez sejam eles a minha terra, exilada num mundo longíquo deste; um mundo onde os meus passos possam ser mesmo de cor canela..

Caminho...sobre as folhas deixadas para mim...as folhas cor de canela...