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Platonismo
É que te quero assim, desbloqueada
ilesa deste cárcere do achismo;
ciente da existência do heroísmo,
dos príncipes, finais felizes, fadas!
Te quero em voz, em riso, e mais: no cheiro!..
chorando ou rindo, triste ou jubilante!
E tanto faz se for num platonismo!
E tanto fez se foi por um instante!
(Pois, de tudo real que é prazenteiro,
só pode ter-se a preço de alma amante.
É que do que é fantástico ao talante
jamais se pode obter pelo dinheiro...)
Dizem do amor platônico inverdades,
chamam dos que assim amam de covardes,
e mal se sabem mortos para o amor!
Por isso, faz-te assim, desbloqueada,
e deixa que te admire no silêncio!
Vem! Dá-me o riso excelso... (se presente)
e à mesma intensidade, dá-me o tenso
e angustiante temor (se, então... ausente!...)
Eu não vou te contar tudo que sinto!
(e se contasse saberei que minto:
pois nada é tão real como cá dentro!)
Talvez, um dia, contarei ao vento
(naqueles dias em que carne é forte).
Talvez em dia algum. Talvez na morte.
Ou, quem sabe, não hei de contar nada!
É que, se descobrires que és amada,
meu coração, que sempre fora intenso,
enquanto te encontravas bloqueada,
pretender-te-ia mais que imaginada
desejar-te-ia mais do que magia
(e, quem diria: só, nu e hipertenso
por ouvir tua resposta, infartaria!)
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