Prazer

Como me apraz esse teu peito
teus seios duas colinas enfeitadas
por um sem numero de ilusões e fantasias
este desejo voraz de me anichar nesse leito
teu sorriso castelo de espuma serpenteando meu corpo
teus lábios doces me extasiando
Como me apraz, me enfeitiça, me corrói
esse toque, esse beijo inflamado
que não dei nesse teu corpo desnudado
Como me domina e me apraz este anseio
esse minuto enganador em que julgarei dominar-te…
Como me apraz enganar-me
essa ideia do herói cobarde reclamando a glória de um feito
a imagem desse herói combalido e dominado
Como me inebria e me apraz esse teu modo, esse sotaque
esse teu canto de sereia apregoando que me amas
Como me apraz o destino, meu fado, minha sorte
ainda que nunca te toque será sempre como se me tivesses pertencido
A matéria, o físico são uma experiência sublime
não tão sublimes quanto o que sinto
Nunca, nada te roubará de mim…
Mesmo essa ladra desavergonhada, a morte
mesmo tu não conseguirás nunca resgatar-te
não coloquei um preço a esta minha parte,
a esse sorriso prazeroso e irónico desse ultimo instante
em que pensarei para mim próprio
que foste… que me pertenceste de facto
Como me consola, me sossega, me alegra
um dia poder levar-te em minha memória intacta
um dia levar teu retrato em minhas retinas fatigadas
no céu os anjos hão-de revoltar-se
fá-los-ás pensar que sua beleza é uma vulgaridade
e eu rirei desalmadamente, rirei da sua ingenuidade
o verdadeiro anjo, meu deus, o mais maravilhoso de todos
é humano, não tem asas…