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Quase 4 da manhã...

entrei na escuridão sem nada ver do que vias. vias-me sentada fronte ao teu negro queixume, que sempre me convidou a enterrar o queixo no teu ventre nu. o teu ventre nu despista-me o olhar para o céu nublado, cinza, para escondê-lo entre a palma da mão. a palma recolhe o meu medo, de não te ver na solidão. na solidão sinto o vazio que te preenche, que sempre pontapeou a distância que nos aproxima entre olhares. olhares que se cruzam na troca de segredos partilhados, esquecidos outrora, relembrados pelo esquecimento do nada. nada! sinto a invasão do nada, em que nada me norteia o sentido do dever. sinto o dever da loucura que me lança para a escada, em que tropeço até ao fim. o fim configura-se-me sempre como o inicio do teu sorriso, que sempre não quis ver. não quis ver a lágrima que há-de cair para o chão enlameado do teu quarto, onde recolho o meu corpo. o meu corpo reencosta-se na sabedoria do teu fazer bailar a anca. a tua anca sempre ensinou o meu prazer a ir tão longe, tendo poucos visto a sua longevidade. a longevidade que pretendo alcançar contigo ninguém viu, entre os secretismos sofridos por todos, nunca desvendados por nós. nós enroscamo-nos um no outro, sempre com vontade de dar mais vontade ao outro. o outro encosta o seu ombro nas nadegas descansadas. descansamos juntos no desespero de confiarmos o pleno sentido do sentir. sentimos o que o outro quer que sintamos. queremos largar-nos nos desencontros para não sermos rotineiros nos prazeres. prazeres que nem sempre me tocam, mas tocam o desejo de ser tocada. tocada sempre. tocar sempre. sempre a bailar a bacia, de convulsões vistas no culminar; entregue entre as tuas duas pernas, que me entalam. entalada encontro o acordar do estado vigil. estado vigil que devo ter perdido enquanto adormeci entre marteladas que me ofereceste e eu agradeci. agradeci ao invés de adormecer com o copo entre as pernas relaxadas. relaxada vejo melhor o que te fiz e deixei de fazer. deixei de fazer o que sempre gritaste em desespero ao ouvidos dos outros e eu não entendi. não entendi o que te fizeram sem mim. sem mim não queria que te entregasses ao bailado. ao bailado só com a presença do meu corpo desvairado de levar muito de todos. de todos sempre desejei partilhar o que todos temos e pouco oferecemos.

 

Elsa Menoita

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domingo, maio 15, 2011 - 17:44

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