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Recenseando

O Brasil é feito de vidas
Mas há Brasis que são feitos de morte
Severina se apresenta para os sem-sorte
Que pelas barrigas ocas foram paridas

Juliano marcou o tempo a gosto
E hoje ele é referência
De porta em porta a diligência
Fará o trabalho disposto:

“Bom dia minha Senhora,
Vim depois da aurora
Para não lhe causar incomodo”

“Que nada meu filho
Já acordo ralando milho
Entre, deixe de modo”

“Não precisa, muito obrigado
Já me contenta o bom trato
Eu pergunto daqui e tu dizes daí
Assim é rápido, que nem asa de bem-te-vi”

“Então pergunte, qual é o quesito
Dita daí, que daqui lhe dito”

“É pouca coisa: sobre a vida
O pão, o fogão, sobre a lida”

“É, filho, então é pouco mesmo
Como pode vê, tenho muito não:
Ali é minha maloca
A luz é de lampião
A horta é de mandioca
Que me dá tapioca
Mas o solo não é meu não,
A água é de poço
O banheiro é um fosso
Tenho só uma muda de roupa
Um galo que não cacareja
Há tempo não vejo garoupa
E sou mulher Sertaneja”

“E com a Senhora, mora mais alguém?”

“Não meu filho, ninguém
Meu marido a muito faleceu
Minha filha, que era moça direita
Se imbestô com Irineu
Aquele, que só desrespeita
E ela com ele desapareceu
Me fez essa desfeita
E agora, entre o céu e o chão
Tá por ai nesse mundão”

“E, qual é a sua renda?”

“Renda? Só se for de linho!
Ás vezes me ajuda o vizinho
E me da um punhadinho.
Comida quem me põe na boca
É a mãe natureza, que pare da terra
E quando a estação encerra
Pra mesa me volta a dureza...”

“Minha Senhora, já acabei!
Viu, seu tempo não tomei,
Agora, assine aqui para mim”

“Assino... se soubesse
Mas não sei fazer isso não
Do nome só faço rabisco
De ensino o povo padece”

E o recenseador agradeceu e saiu
Contou mais um, mais cem, mais mil
Nesse país gigante. E logo a diante
Parou e refletiu:

“Conto, conto, conto...
E continuo sem um conto.
Já to tonto de ir em tanto canto
E contar que conto para que o montante
Possam dividir em proporção igual
Apesar de admitir que está muito desigual.
Espero que não tratem o resultado
Que para conseguir foi custoso e suado
Não o apliquem de forma banal
E que toda essa situação alguém reveja
Pois quero ver a Senhora Sertaneja
Pelo menos, com uma muda no varal”

(De dez em dez as galinhas enchem o papo)
 

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segunda-feira, março 7, 2011 - 22:04

Poesia :

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André Alves Braga

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