CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Seja o que for que esteja no centro do Mundo...

Seja o que for que esteja no centro do Mundo,
Deu-me o mundo exterior por exemplo de Realidade,
E quando digo «isto é real», mesmo de um sentimento,
Vejo-o sem querer em um espaço qualquer exterior,
Vejo-o com uma visão qualquer fora e alheio a mim.

Ser real quer dizer não estar dentro de mim.
Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade.
Sei que o mundo existe, mas não sei se existo.
Estou mais certo da existência da minha casa branca
Do que da existência interior do dono da casa branca.
Creio mais no meu corpo do que na minha alma,
Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade.
Podendo ser visto por outros,
Podendo tocar em outros,
Podendo sentar-se e estar de pé,
Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora.
Existe para mim — nos momentos em que julgo que efectivamente existe —
Por um empréstimo da realidade exterior do Mundo

Se a alma é mais real
Que o mundo exterior como tu, filósofos, dizes,
Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade?

Se é mais certo eu sentir
Do que existir a cousa que sinto —
Para que sinto
E para que surge essa cousa independentemente de mim
Sem precisar de mim para existir,
E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível?
Para que me movo com os outros
Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos
Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo?
Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente.
E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas.
Cousa por cousa, o Mundo é mais certo.

Mas por que me interrogo, se não porque estou doente?

Nos dias certos; nos dias exteriores da minha vida,
Nos meus dias de perfeita lucidez natural,
Sinto sem sentir que sinto,
Vejo sem saber que vejo,
E nunca o Universo é tão real como então,
Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim.
Mas) tão sublimemente não-meu.

Quando digo «é evidente», quero acaso dizer «só eu é que o vejo»?
Quando digo «é verdade», quero acaso dizer «é minha opinião»?
Quando digo «ali está», quero acaso dizer «não está ali»?
E se isto é assim na vida, por que será diferente na filosofia?
Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos,
E o primeiro facto merece ao menos a precedência e o culto.

Sim, antes de sermos interior somos exterior.
Por isso somos exterior essencialmente.

Dizes, filósofo doente, filósofo enfim, que isto é materialismo.
Mas isto como pode ser materialismo, se materialismo é uma filosofia,
Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha,
E isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu?

Alberto Caeiro

Submited by

terça-feira, novembro 4, 2008 - 17:27

Poesia :

No votes yet

AlbertoCaeiro

imagem de AlbertoCaeiro
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 14 anos 50 semanas
Membro desde: 11/04/2008
Conteúdos:
Pontos: 28

Comentários

imagem de Henrique

Re: Seja o que for que esteja no centro do Mundo...

Um poema escrito com alma!

:-)

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of AlbertoCaeiro

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - Alberto Caeiro 0 581 11/23/2010 - 23:36 Português
Poesia/Meditação Quando eu não te tinha... 1 376 02/28/2010 - 14:53 Português
Poesia/Meditação Quem me dera que eu fosse o pó da estrada.... 1 388 02/28/2010 - 14:53 Português
Poesia/Meditação Se eu morrer novo... 1 450 02/28/2010 - 14:52 Português
Poesia/Meditação Sou um guardador de rebanhos... 1 414 02/28/2010 - 14:51 Português
Poesia/Meditação Seja o que for que esteja no centro do Mundo... 1 378 02/28/2010 - 14:51 Português