Ser mulher

SER MULHER

Ser mulher é divino, cansativo, difícil e maravilhoso!
Ser mulher já foi banal. Já foi exclusão, invisível, maldição até!
Mas ser mulher também sempre foi uma benção. Foi lhe ofertado o poder de gerar outras vidas, entre elas, a vida do salvador.
Com um papel importante nos lares antigos, cuidava da casa, do marido, dos pais e dos filhos. Cuidava das refeições, dos jardins, das roupas e amava seus homens quando estes não chegavam embriagados ou já cansados de outros braços.
Esperava com o coração apertado, voltarem dos campos de batalha, e por muitas vezes, em seu lugar, apenas recebiam medalhas envoltas em tecidos dourados.
A mulher foi amada, traída, agredida, violada, santa. Foi esposa, amante, filha, mãe, avó e por muitas vezes, homem.
Estamos em outros tempos. A modernidade chegou e com ela, muitas mudanças. A mulher foi conquistando seu espaço e aos poucos foi mostrando o seu valor. Algumas conquistaram a liberdade, independentes, não se casam. Outras preferiram ainda cuidarem de seus lares, de seus filhos e maridos, mas não estão mais cegas pelo medo, se fazem ouvir.
Ainda assim, muitas são agredidas, igualmente violadas, assassinadas, apesar de uma tal lei Maria da Penha.
Mas ser mulher é um espetáculo!
Madura então é sensacional!
Eu amo ser mulher. Já freqüentei a escola, escondi para dar beijinho no namorado, levei bronca da mamãe, perdi a virgindade (Foi péssimo, sem graça, pensei, é isso?)
Já fui para a cidade grande, cheia de sonhos e nenhuma estrutura, em busca de fortuna, e voltei quietinha, com o rabinho entre as pernas.
Por algum tempo eu fiquei a olhar os ônibus dos estudantes partirem e com a cabeça baixa e lágrimas nos olhos, eu fazia o caminho de volta. Este ritual durou até o dia em que minha mãe me chamou para a realidade, dizendo que eu agisse, que se não tinha condições de fazer uma faculdade, então que eu fizesse outra coisa, que eu deveria ser boa em algo que eu me dedicasse.
Assim eu fiz. Descobri várias mulheres em mim. Casei, tive filhos, cuidei deles com muito carinho, e se acabaram as vacinas, as reuniões escolares, o pediatra, a preocupação com a maconha na adolescência.
Trabalhei muito, me separei, sofri o que tinha que sofrer, resisti aos temporais bravamente.
Os anos se passaram, meu corpo mudou, minha mente também.
Hoje não tenho mais as belas curvas da juventude e corto o cabelo por ser mais prático. Dou valor a outras coisas, sei ver a beleza de uma flor e a ternura de um animal, sinto prazer quando o vento toca meu rosto e respiro música.
Não me preocupo com qual roupa vai me disfarçar a barriguinha, visto o que gosto e me sinto bem.
Hoje eu sei amar, faço amor e não sexo. Quero qualidade, atenção e carinho.
Uso creme antiidade, salto, rasteirinha e maquiagem, sem esquecer o hidratante no corpo todo e o filtro solar.
Sei escolher um homem, pois quero a companhia de seres inteligentes, sensíveis, cavalheiros, que tenham o cérebro maior que seu pênis.
Eu me amo, e cada ruga do meu rosto não marca minha idade, mas sim, quantas vezes eu sorri ou chorei.
Escrevo e me emociono. Canto danço e digo o que penso sem medos.
Não perco meu tempo com coisas fúteis, nem encho meu coração de mágoas. Esqueço o mal e lembro o bem. Tudo que me entristece, ponho no papel. O que me alegra também.
Tenho um milhão de amigos e ainda acho pouco. Compro uma briga se esta for para defender uma vida, seja ela humana, animal ou vegetal.
Não faz diferença para mim se o parceiro tem carro, se é do ano. Tão bom andar a pé, de mãos dadas.
Sou romântica, descaradamente emotiva e não me envergonho disso.
Orgulho-me de ser mulher e da idade que tenho, sabendo que este fato não me tira o charme, nem a elegância, pelo contrário, sei andar, me comportar e falar.
Ser mulher, em qualquer tempo, com qualquer costume, crença, raça. Ser mulher é sentir. Temos as lágrimas ao nosso favor. Podemos.
Mulher criança, adulta, rica, humilde, empresária, faxineira, solteira, casada, anciã. Simplesmente mulher.
Ser mulher é tão bom, mulher jovem, maravilha! Madura então é o máximo!