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Sereias
Paul Robertson
Rebecca Davis
Cale-se, por favor, ilustre Cientista.
Sim, eu sei e reconheço a tua razão.
São incontestáveis os teus argumentos.
As tuas provas. Tuas contraprovas.
Sim, eu sei. Por ti, o arcano foi revelado:
a Criatura existe! É real.
Ainda que a canalha oficial não reconheça,
tu a revelou. Tua ciência iluminou
o lusco-fusco em que o fantasma habitava.
Mataste uma quimera e paristes uma espécie.
Mas eu te imploro, homem do Saber, esqueça-a.
Faça com que seja esquecida.
Não a ofereça em sacrifício
no altar da ganância humana.
Livre-a da escravidão que a todos nós condenamos.
Livre-a da tortura dos "testes científicos",
do sádico divertimento que embala
as bestas-feras que andam erectas
e se julgam "Sapiens".
Não a condene ao horror das superstições,
à tola (e talvez hipócrita) generosidade
daqueles que se julgam "A Espécie Eleita",
feita à imagem e semelhança de um demiurgo
inventado pela ignorância.
Eu te suplico, nobre Erudito que nada mais diga.
Não a ilumine com os holofotes de
quem vive da exploração alheia.
Deixe-a seguir pelos Oceanos abissais,
pois escondida no útero da Terra
ela permanecerá livre do perigo que somos.
Deixe que siga seus incógnitos destinos e motivos
em busca da paz que fizemos questão de perder.
Deixe-a desfrutar da Liberdade
que abandonamos em troca de Poder e dominação.
Guarde para si o que chamas de "BLOOP", o hipnótico Canto
que a tantos seduziu e ao qual Odisseu só resistiu
graças às amarras com que a pena de Homero o atou.
Quem sabe, o homem do Futuro
não tenha se depurado de nossa ferocidade
e ao ouvi-lo possa entender
a paz que ele contém?
Não a catalogue como mais um "Fato Científico",
um "novo animal" a ser estudado.
Tenha a certeza, homem Sábio,
de que a Ética é maior que a Ciência
e o coração é mais importante que a Razão.
Deixe-a, pois tu bem sabes
do terror Materialista que impera em nosso tempo pobre.
E das trevas em que vagam insólitos
os nossos espíritos corrompidos.
Deixe que ela viva apenas como um Ser imaginário.
Que continuem a crer que é apenas uma fantasia.
Não a condene a uma outra "crucis via".
Permita-lhe vagar pelos Oceanos do Mundo
e pelas águas da Vida.
Tu prescinde da glória pela descoberta.
É nobre a tua alma
e generosos são os teus atos.
Dispense as fúteis honrarias,
as medalhas, os prêmios.
Nada valem. São apenas compensações
pela mediocridade que nos intuímos.
Persevere em tua grandeza, em tua coragem.
Um dia, talvez, possamos imitar-lhe
e, então, saberemos do conforto que há na partilha.
E da imensidão de se saber
além da ilha.
Poema dedicado aos Cientistas supra citados que ousaram arriscar suas reputações para defenderem a tese de que uma nova espécie habita os mares do Planeta. Criaturas que até então eram relegadas ao terreno da ficção e da fantasia sob o nome de Sereia.
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