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Filosofia Moderna e Contemporânea - CHOMSKY, Noam - A Ètica e a Moralidade
1928
Se escolhermos, poderemos viver em um Mundo de reconfortante ilusão.
Noam nasceu em uma família judia multilíngue. Estudou Matemática, Filosofia e Linguística na Universidade da Pensilvânia, onde escreveu a inovadora tese sobre Linguística e Filosofia que lhe assegurou a celebridade ainda em vida, fato raro entre os Pensadores.
Intitulada de “Estruturas Sintáticas”, escrita em 1957, colocou-o entre os Grandes Linguistas e, ao revolucionar os estudos na área, contribuiu efetivamente para o avanço da matéria. Ao oficio de Professor, CHOAM agregou sua militância política e se tornou um pacifista de escol, sobretudo em relação à Guerra do Vietnã. Sua pertinaz censura ao conflito levou-o a escrever “A Responsabilidade dos Intelectuais”, em 1967, que se tornou um símbolo de critica pertinaz a Cultura e a Intelectualidade estadunidense.
Atualmente o filósofo se dedica a escrever e a proferir palestras sobre Linguística, Filosofia e Relações Internacionais. A seguir, citaremos mais algumas de suas obras que primam pela profundidade e pela clareza de estilo.
• A Responsabilidade dos Intelectuais, 1967.
• O Poder Americano e os Novos Mandarins, 1969.
• 11 de Setembro, 2001.
• Estados Fracassados: o abuso do Poder e o ataque à Democracia.
Embora seja mais conhecido por sua lida no campo da Linguística (a qual não abordaremos nesse Ensaio por fugir ao mote da obra, a Filosofia), pode-se afirmar que a importância de seu Pensamento vai além de uma só vertente do Saber. Seu Ideário é uma contribuição efetiva ao Conhecimento Humano e redime a grandeza do pensar filosófico dos Estados Unidos da América, que enfrenta muitas resistências no eixo europeu que o acusa de rasteiro.
CHOMSKY investiu, principalmente, na análise do Poder e da Política e aqui estudaremos suas Ideias nesse campo. Para tanto, faremos um resumo sintético no inicio e posteriormente detalharemos os Conceitos aqui delineados:
• Se admitirmos que o “nosso Governo (o dos EUA)” é naturalmente mais ético do que outros governos,
• fica claro que escolhemos viver em um Mundo de ilusão reconfortante, embora seja uma tola ilusão.
• Para rompermos com essa tola ilusão precisamos:
• analisar com toda honestidade possível, os atos do “nosso Governo”. Ou melhor, examinarmos os Atos que realmente são praticados pelo “nosso Governo”.
• Depois, aplicar ao “nosso próprio Governo” os mesmos “princípios éticos” que recomendamos, ou que cobramos de outros Governos.
Há certo tempo, um funcionário público da burocracia dos Estados Unidos da América, em visita ao Brasil “aconselhou” as Autoridades brasileiras a serem mais “responsáveis” e terem “mais seriedade” e “rigor na fiscalização” contra as fraudes ocorridas no terreno das Finanças e, mormente, na Bolsa de Valores.
Por infeliz coincidência, no dia seguinte a sua fala (com a insolência que caracteriza alguns setores estadunidenses), ocorreu à falência fraudulenta da Empresa “Eron”, gigante estadunidense, que vinha cometendo toda sorte de falcatruas ao longo de vários anos sem ter sido incomodada, ou fiscalizada, ou punida com rigor e seriedade pelas Autoridades estadunidenses. O triste conluio de malfeitores e de maus gestores, e entre funcionários corruptos, funcionários inábeis e funcionários corruptos e inábeis, causou um enorme “rombo” no Mercado e uma série de turbulências econômicas que afetaram a todos.
Por feliz situação, o mesmo país que gera indivíduos como o burocrata insolente, também gera filósofos como CHOMSKY, e o que fez o primeiro foi justamente ilustrar a tese do segundo, que acima expusemos.
Sim, esse fato verídico ilustra perfeitamente a doutrina de Noam. Por comodismo, por insolência, por ignorância etc. não é raro que cidadãos e Governantes do chamado “Primeiro Mundo” se arroguem o “direito” de censurar e cobrar os Governantes e os cidadãos do dito “Terceiro Mundo”, sobre fatos e condutas que, a rigor, são tão errados e funestos quanto os que ocorrem em seus próprios quintais.
Nota do Autor – ao aspecto nefando de tal conduta se junta outro comportamento horrendo: cidadãos do País atingido – o Brasil no caso – dão crédito aos supostos virtuosos e lanosamente aceitam carapuças que não são devidas. Máscaras de pessoas de 2ª categoria que habitam o 3º Mundo e sujeitas, portanto, a censuras e ultrajes desferidos pelos “Seres Superiores” (sic).
Desde a publicação de sua primeira obra sobre Política – O Poder Americano e os Novos Mandarins, em 1969 – que CHOMSKY afirma não ser rara a ocorrência de incompatibilidade entre o Discurso, a Promessa e as Ações efetivas do Estado. Para ele, os argumentos empregados pelos governantes Não são suficientes para que nós alcancemos a Verdade de fato sobre o Poder Político. Os Governos podem usar os fatos ocorridos para justificarem os atos que praticaram, porém se tais alegações não forem embasadas por evidências inquestionáveis, não passarão de meras falácias, de simples ilusões. Falácias para os que dizem e ilusões para os que escutam.
E as ações praticadas voltam a necessitar de justificativas honestas.
Mas como avaliar as intenções e ações do Estado? Para CHOMSKY é necessário desprezar os Discursos Oficiais e avançar para além das retóricas. Será preciso uma investigação sobre a História, sobre as Estruturas das Instituições (ou como funcionam o Congresso, o Judiciário etc.), sobre os Documentos oficiais e todas as outras formas de se chegar à verdade. Desprezar, em principio, a versão oficial e só aceitá-la quando as buscas paralelas a validarem, será sempre o recurso a ser empregado para desmascarar as fraudes e incompetências. Ou ambas.
As análises Éticas de CHOMSKY originam-se naquilo que ele chama de “Principio da Universalidade”; cuja formação baseia-se em aplicar a nós mesmos aquilo que aplicamos (ou sugerimos, ou criticamos a falta) em outrem. É um Principio simples e antigo, podendo ser encontrado inclusive nos Livros religiosos que pregam “ama os outros, como a ti mesmo”. Contudo, malgrado sua simplicidade e, talvez, ingenuidade (pois o lado animal do Homem é difícil de ser vencido e é ele que faz com que cada qual privilegie o seu interesse antes de qualquer outro), CHOMSKY o defende como a pedra basilar para qualquer Sistema de Ética, com um mínimo de responsabilidade.
Porém, como citamos acima, a demonstração sobre a fragilidade do Ideário não se faz esperar: gostamos de usar a “Linguagem Ética” para reclamar dos outros, mas não nos autocondenamos com facilidade. Contudo, se nos propusermos seriamente a defender qualquer conjunto de padrões *Éticos ou *Morais e se quisermos ser persistente em nossa conduta, devemos nos esforçar para aplicar a terceiros os mesmos critérios que usamos para nós próprios.
Em termos de Governo, isso nos leva à constante preocupação em analisar o fato em questão com a máxima isenção, imparcialidade e equidade; ao invés de cedermos ao impulso cego, à retórica falaciosa, ao patriotismo rasteiro e à intenção belicista, pois tais armas sujas são de uso comum para os maus governantes e Tiranos de plantão.
*Nota do Autor – embora as palavras: “Ética” e “Moral” sejam usadas, na maioria das vezes, como se fossem sinônimas, ambas significam coisas diferentes, embora aproximadas. Para evitarmos erros de apreensão será oportuno defini-las com clareza:
Ética – são normas singulares, ou um conjunto delas que a Pessoa adota para balizar seu comportamento em relação ao próximo, sem que haja necessidade de Lei que o obrigue a agir com urbanidade, generosidade, honestidade etc. O individuo segue essas normas por acreditar que são corretas e que se não as praticar sofrerá um doloroso arrependimento, ou, como se diz, “ficará com a Consciência pesada”. Um castigo de foro íntimo, sem o concurso de Leis, Processos, Cadeia etc.
Exemplo – um indivíduo devolve a carteira que outrem deixou cair. Assim procedeu apenas por que quis, sem que outra pessoa, ou regra, o obrigasse à devolução. Esse, pois, é o Comportamento Ético.
A discussão sobre a origem e natureza desse comportamento, se é genético, congênito, hereditário, formado pela Religião, pela educação familiar etc. não será abordada aqui, por fugir ao escopo desse Ensaio.
Moral – são as normas sociais, ou seja, o conjunto de regras de comportamento, pré-estabelecido pelo agrupamento social, e não apenas por um individuo, que as aceitas, ou as cumpri mesmo sem aceitá-las, por temer o castigo que advirá pelo não acatamento.
Exemplo – ter apenas um cônjuge, em sociedades que não admitem o casamento poligâmico é um Comportamento Moral.
É possível, com alguma liberalidade, associar a Ética com a Legitimidade (o direito “superior”, a nobreza de sentimentos e de atitudes) e Moral com Legalidade (o cumprimento das Leis e dos costumes estabelecidos). Por essas associações é que se podem definir determinados atos, ou determinadas intenções como “legais”, mas “ilegítimas”, pois as mesmas só observam o aspecto exterior e formal das Leis e Costumes, sem obedecer a nenhum sentimento mais nobre e decente.
Para o filósofo, o parágrafo anterior às Notas é um Imperativo Moral e Intelectual, sendo que entre ambos há uma vigorosa ligação e, talvez até, certa interdependência. Com efeito, apenas os indivíduos que desfrutam de uma intelectualidade apreciável, advinda do esforço e do estudo, são capazes de reivindicarem uma Moralidade Universal (ie, que a todos contemple). Aliás, reivindicação que não tenha esse caráter Universal, não deverá sequer ser considerada. Se quisermos de fato ultrapassar a vazia Retórica e investigar com rigor o “Jogo Político" será imprescindível que tal escrutínio tenha a característica de ser de todos e para todos (Universal), como ponto de partida.
Algumas ideias de Noam, relativas ao “Poder Global” tem suscitado calorosas discussões acerca de sua validade, mas isso não corrompe a sua ideia principal, ou seja, que os outros recebam o que almejamos para nós mesmos. Da qual, aliás, até podemos discordar em pontos específicos, mas sempre reconhecendo a sua validade e importância.
São Paulo, 10 de abril de 2012.
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