Somos?

O que somos?

Pequenos gnomos invisíveis buscando o indizível e o indecifrável dentro de si. Em cada pulo do pensamento um abismo a mais a pular, e assim o ar se multiplica nos peitos arfantes da ânsia do viver. E fraciono, adiciono, monto, remonto, analiso, deslizo sem querer para dentro do confortável abismo entre meus hemisférios cerebrais e observo os deslumbres pictórios fractais deste vão universo, que às vezes parece apenas habitar em mim ( talvez assim o seja). Mas mesmo assim existem os olhos, janelas que me unem aos outros, que podem ser o inferno como podem ser o sentido, o espelho, o motivo, mas as vezes parecem-me apenas ecos dos gritos dos ébrios na noite que. distorcidos, perturbam o sono da minha alma. Mas eles estão ali a grasnar barulhentos como um bando de pássaros malditos migrando do infinito até mim em busca de um clima melhor.
E eu? Sou na medida que somos, eu e o infinito de desdobramentos carbônicos destas falhas máquinas que Deus fez que, descartáveis, retornam ao solo sem mais nem menos.
Queria que fôssemos os ventos amenos que lambem as pernas dos enamorados à beira mar, mas as vezes vejo que somos os grilhões que nos prendem a manutenção da vida, da sociedade, do estatus estabelecido (por quem mesmo?).
E sozinha não sou nada e quando decido ser nós, sou apenas estranhamento...