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A Tudo Tenho
Onde o ter? Nunca terei!
Se não posso e em meu assomo.
Não querer ter: quererei!
Querei ter? Onde o ter? Como?
Entre arranha-céus e escombros;
Ou a escuridão, cegueta,
e à luz, de mil cometas
P’ra que ter? Dou de-me ombros!
Querei nada! A tudo tenho!
Vedes florestas – arbustos?
Vejo mãe-verde e seus bustos
nus e a mim, menos ferrenhos!
Tudo tenho! Não sabeis?
Rosas em campos no céu
Prosas com belas ao léu
no firmamento: olhos-reis!
Venham, venham os trovões!
Pondo suas tubas em punho
Algazar mil caramunhos
que não ouvem suas canções!
Os passarinhos cantantes
Que no cerne, inda que mudos
são de tudo: tartamudos,
pagodeiros; consonantes!
E o Pardal, tão belo deus!
Tão agreste e tão de casa
tão de todos, mas tão meu!
Tão mais meu que o tenho as asas!
Tudo tenho! Meus ouvidos
São trementes alaúdes
retornando em amiúde
iracundos carcomidos!
Eu não desejo o amor!
Nem ser tão bem venturoso
Nem ser vão – são! – desditoso.
Vede só! Onde há tal dor!?
E bem inda que pudesse
Ainda desejaria
Todo estio das poesias
que do quente-azul proviesse
Como flores em acenos
pululando em minha verve.
Tudo tenho! E tudo serve
tudo é tanto mais ou menos...
Que em companhia aos meus rastros
de estardes, sem céu, na Terra
possais acabar com a guerra
de me invejardes nos Astros!
Osvaldo Fernandes
-------------------
Um poema de paixão...
...ao olhar lírico.
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Comentários
Re: A Tudo Tenho
LINDO POEMA, GOSTEI MUITO!
Meus parabéns,
Marne
Re: A Tudo Tenho
Significativa exaltação do belo e dos montes, à margem, à fim.
Cumprimentos, Anita
Re: A Tudo Tenho
E nós temos a tua bela poesia.
Destaco:
Como flores em acenos
pululando em minha verve.
Tudo tenho! E tudo serve
tudo é tanto mais ou menos...
Mas nunca é o bastante, infelizmente.