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TURBILHÕES
O inferno dos sentimentos que me vêem a tona,
a sufocar-me as noites de um calmo verão,
e o mesmo inferno de quem se aniquila e morre
a dizer sempre sim, a nunca dizer não.
Minha alma caminha a perguntar-me quando
serei capaz de dar-me o direito
de declarar-me dono de meu próprio leito
e de beijar o corpo de quem estou amando.
Mas como os dias as noites vão passando
e em mim procuro a força do guerreiro
que um dia, como o dia derradeiro,
teve a coragem de sair pra luta,
sem se importar que nela fosse morto.
Mas hoje, vejo um sorriso torto
a enganar-me os próprios desejos
que se esvaem como se esvai o beijo
que tanto temo quanto tanto almejo.
Minha alma triste todo dia chora
a esperar que o sol abra as janelas
do quarto escuro onde durmo agora,
fabrica de sonhos, rio de seixos,
onde eu me banho e brinco de crianca,
com esse menino que hoje dorme e sonha,
sem saber-me ao lado, a velar-lhe o sono,
a cantar cantigas, morto de desejos,
a espera de que finalmente chegue a hora
de receber o já tão esperado beijo,
que o guiara de volta a noite eterna
onde mora a lua, habitam as estrelas,
onde tudo e calmo, quieto e infinito,
como um livro, música ou filme que se conhece
a se repetir nas telas da memória,
como no amor se repete a história,
onde nada e novo e tudo e sabido,
menos o sabor, que sempre se difere,
como se difere o sabor dos frutos
mesmo se oriundos da mesma colheita.
E então me deito nessa velha cama,
onde aguardo o sono, onde apago a chama
desse amor de outono que me martiriza
mas me ilumina, como a luz de um fósforo,
que o ilumina a o exterminar.
Paulo Nunes
New York 1980s
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