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Aeris: A Rainha do amor!

Era uma vez uma história escrita com o sangue de quem a vive, forjada das furnas incandescentes das catacumbas do mundo.

Nas terras inóspitas do Golfo Pérsico, um homem trabalha de sol a sol, envolto numa escravidão desumana que esgota as potencialidades e reservas de energia do corpo. Esse homem chama-se Chamah, libanês de origem foi  comprado em troca de camelos para erguer o palácio real do sheik do Golfo Pérsico, Abdel. Durante 1 ano trabalhou só com direito a água e pão, totalmente racionalizados entre ele e os cerca de 200 escravos que labutavam chicoteados por capatazes insensíveis e viscerais, não tolerando qualquer veleidade ou contemporização no trabalho. Durante o dia de folga que tinham quando os capatazes assim o entendiam, Chamah, aproveitou para passear na capital da Arábia Saudita, Riade. A Arábia Saudita é um dos países que integra o Golfo. Naquelas ruas tão movimentadas, Chamah, homem reservado, de tez morena, olhos esverdeados, cabelo despenteado e uma magreza que impressionava só de olhar, sentia-se um moribundo, deambulando por entre aquelas tendas de mil e uma vendas, desde galinhas, legumes, bugigangas, artesanato rural e camelos e afins, numa barulheira ensurdecedora que enchia a sua cabeça de dores entre regates e discussões intermináveis. Ao dobrar uma esquina, Chamah, como se de uma aparição se tratasse vê de relance uma menina lindíssima, morena, de longos caracóis acastanhados, lábios carnudos e uma sensualidade corporal que enfeitiçava tudo e todos com o seu jeito de menina rebelde, traquinice e inocência num cocktail que despertava as emoções mais arrebatadoras em Chamah. Chamah correu em sua direcção enfeitiçado pela magia rebelde que esta jovem emanava, Aeris era o seu nome, Chamah corria, corria e quando finalmente alcançou Aeris, seus olhares tocaram-se, como uma alquimia efervescente que derretia os seus corações. Ficaram paralisados, estáticos, durante meia hora. Chamah desbloqueou o gelo entre os dois dizendo " Aeris, és .... linda!", seus olhos brilharam como diamantes puros, a circulação sanguínea aumentou de velocidade vertiginosamente, explosão de sentimentos em forma de palavras, Aeris soltou um " obrigado.." tímido e fugiu...

Chamah foi de coração partido para a sua casa, onde pernoitava para depois às 7 horas da manha ir trabalhar na construção do palácio do Sheik Saudita, desumano encargo que foi obrigado a aceitar sob pena de ser degolado. Numa tarde de intensíssimo labor, o suor escorria vertical na face de Chamah, as mãos tremiam de sofrimento e desgaste. Num instante, os olhos de Chamah quase se extasiam de surpresa, quando viu Aeris com o traje de esposa do Sheik, a rapariga fascinante que tinha visto nas ruas pérfidas de Riade na sua folga, aquela beleza exótica e que cegava o mais vistoso olho, era nada mais nada menos do que a esposa do poderoso e omnipotente Sheik,  Chamah foi para casa com as lágrimas dançando nos seus traços faciais, tal era a decepção e tristeza que invadia ferozmente o coração desolado destes libanês amargurado.
Chamah revolveu-se em teorias, envolveu-se em esquemas megalómanos para voltar a falar com a sua musa, mas tal realidade era utópica dada a importância quase absoluta de Aeris, dona e senhora do coração do tirano Sheik.
Chamah traçou um plano que pela sua constituição era, e utilizo aqui um eufemismo, suicida! Consistia no facto de raptar Aeris e confessar olhos nos olhos a sua paixão, fugindo com ela para o Líbano..
Mas... como passar pela disciplinada, eficaz e sangrenta força de segurança privada de sua alteza?
Num dia tristonho, céu encoberto e uma humidade brutal, um calor abafado que dificultava a respiração, Chamah, vestiu-se de mendigo e passou despercebido à segurança, infiltrando-se nos aposentos do palácio, deparou-se com Aeris, era o momento ideal, Sheik estava fora em negócios, Chamah foi pé ante pé, silencioso como um gato, atento como uma raposa, e ao entrar no quarto de Aeris, despiu o disfarce e Aeris ficou petrificada,  reconheceu os verdes olhos que a encantaram naquele fortuito encontro numa esquina na baixa de Riade.
Chamah perdeu a vergonha e desafiou Aeris para fugir consigo para o Líbano, Aeris num esgar de felicidade, sorriu e pegou no que tinha perto de si, roupas, acessórios, valores entre outros artefactos, e com Chamah devidamente disfarçado saíram por uma porta secreta, só conhecida pelos altos cargos do poder. Fugiram a passo largo, ainda deslumbrados por esta paixão louca. Num laivo de sinceridade Aeris confessou que era libanesa de nascimento, mas foi seduzida pelo Sheik, aquando menor de idade sob promessa de que viveria num paraíso de alegria, amor e solidariedade, mas cedo percebeu que era tudo parte de uma densa fachada onde só a imagem de perfeição amorosa e social importava perante os súbditos . Chegado o Sheik ao palácio que estava no final da sua construção, dá pela falta de vulto de Aeris, uma beleza tão marcante não passa despercebida, perguntou aos capatazes, empregados, escravos e ninguém sabia de Aeris. Surpreso e atónico ficou quando um dos capatazes informou que Chamah teria desaparecido no mesmo espaço de tempo que a esbelta Aeris. Sheik cegou de raiva e fúria, incendiou de cólera, ordenou um exército de mercenários pagos a peso de ouro, para descobrirem Aeris e Chamah.

Estes estavam já a ultrapassar a fronteira para o Líbano, quando numa emboscada, são interpelados por mercenários sauditas mandatados pelo Sheik. Estavam numa situação de risco máximo, mas Aeris tentou ludibriar os mercenários, dizendo que não fugira, tratava-se apenas de um retiro com o seu irmão, (ajudou o facto de Chamah ser igualmente libanês) para perto da sua família, visitando seus entes queridos, que já não via à mais de quatro anos. Dado poder persuasivo de Aeris, mercenários foram dissuadidos, continuando a busca por outro lado, enquanto o casal fugitivo já se encontrava dentro do país de nascimento.
As juras eram eternas, cupido tinha atirado a flecha mais aguçada de amor e união neste casal com tantas diferenças sociais, uma diferença abissal que o amor ajudava a diluir em si mesmo.

Foram passando horas, dias, semanas, meses e nenhum sinal tanto de Aeris como de Chamah, Sheik gastou rios de dinheiro, quantias incalculáveis na busca dos dois. Fazendo autênticos banhos de sangue nas comunidades libanesas situadas na Arábia Saudita, desesperado e toldado pela traição da esposa e do escravo, fazendo-o pagar por anos e anos de tirania sem dó nem piedade, tratando seus empregados como a mais reles coisa à face deste mundo. Aeris quando chegou ao Líbano, escreveu um papiro, com uma curta mensagem para o Sheik.

Que dizia : " Abdel, estou no Líbano, fugi da tua cegueira pela fortuna, da frieza do teu coração, da falta de sabor dos teus lábios, do vazio das tuas palavras e do sangue dos teus actos, quero ser livre, amada, respeitada, valorizada e não um objecto estático cuja única utilização era fazer boa companhia e subir o ego da tua imagem perante o teu povo, amor não são rubis, safiras, esmeraldas, ouro ou prata, Não! Amor é carinho, valor, partilha e coexistência. Não me procures... Aeris"

Chamah arranjou um rapaz para levar a mensagem até ao palácio do Sheik, passado 3 dias e 3 noites lá chegou, deixou a mensagem num dos capatazes e saiu fugindo, velocíssimo, não fosse ficar lá a trabalhar naquela podre e abominável escravidão! Quando Abdel, o Sheik leu a carta redigida por Aeris, sua pele esbranquiçou, a tez ficou pálida, lívida, sem expressão, numa quase paralisia corporal, soltando depois berros hediondos contra Aeris e Chamah..
Enlouqueceu num ápice, torturou todos os libaneses que encontrava no seu burgo, tentava sacar informações à força, mas maioria deles sucumbia por falta delas, dada a sorrateira forma como fugiram a ex-amada e o ex-escravo deste poderoso mas transtornado homem. Durante anos espalhou pela cidade uma onda de carnificina totalmente horrorosa, mas sem efeitos práticos, visto que Aeris e Chamah já estavam estabelecidos no Líbano.

Passados 4 anos, Sheik deu os primeiros e sérios sinais de doença crónica, esquizofrenia, que lhe causava bastantes problemas e aliada e outras complicações do foro físico lhe incapacitavam em muito a sua total disponibilidade de governar a seu bel-prazer, já se apoiava nos assessores, conselheiros, alguns de duvidosa confiança e passado nem um mês, o Sheik faleceu, vítima de paragem cardíaca provoca por uma arritmia que lhe alterou e acelerou o batimento cardíaco. A notícia correu que nem uma flecha, atravessou fronteiras, chegando até o Líbano, onde Chamah e Aeris viviam já totalmente em paz, nascidos dois filhos, uma menina e um menino. Chamah ao saber, informou a mulher, que gostaria de assumir o trono, dado que Aeris ainda conservava em si o rótulo de rainha, fugida, mas rainha! Puseram pés ao caminho, dias e noites de travessia no deserto, até chegarem ao palácio majestoso, totalmente completo, edificado sobre a zona mais magnífica da inusitada e mítica Riade.  Aeris entrou no palácio, retirou o disfarce e gritou bem alto :

" Neste momento, acabou a escravidão, sofrimento, desolação e sobrevivência. Eu, Rainha Aeris de Riade, proclamo Rei Chamah meu esposo e juntos criaremos uma ordem de solidariedade, ajuda, interacção entre cada elemento da hierarquia saudita. Os tempos negros e densamente povoados de dúvidas, medos e angústias do reinado de Abdel, Sheik e senhor destas terras durante 3 décadas. A quem me procurou e matou para me encontrar, cá estou eu, senhora e dona de Riade!"

Estupefacção!! Foi como um golpe do destino, de duas pessoas que num relance atearam um amor que queimou barreiras e fronteiras, furando dogmas e preconceitos de estatuto social, acabando com décadas a fio de dor, tortura, fome e violação dos direitos humanos, para dar entrar a uma nova era, à era da compreensão, da entreajuda ! As tropas aliadas ao Sheik Abdel, tentaram chacinar Aeris durante anos, esvaziando recursos e esgotando reservas de armas e ouro, estando falidas e sem armamento, jogando com o medo que impuseram na população!O que restava de dinheiro foi usado para salvar o povo da fome e da peste que se abatia sobre si, evitando milhares de mortes, numa tragédia que iria roçar o bélico.

Aeris tornou-se heroína do País! Chamah um quase Deus, que apareceu qual profeta e devolveu a alegria e esperança aos descrentes que deambulavam quase em espectros pelas vielas desta capital!É esta a história de um amor clandestino, que como um maremoto varreu poder, estatuto e medo, para vencer e o querer e  a paixão trouxe a eloquência de que são feitas as grandes histórias!

Quando há paixão de verdade , o amor vence!
 

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domingo, fevereiro 26, 2012 - 02:45

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