CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

Aldeia de sonho

Os miúdos corriam, era bonito de se ver. Corriam até ficarem cansados. Mesmo assim não descansavam. Correm escada acima escada abaixo. Aquela aldeia toda enfeitada, como naquela altura, também ajudava à excitação. Eu confesso. Até eu tive vontade de me juntar a eles, tal era a euforia, a risota. Havia dois miúdos sentados naquelas escadas. A irmã ficava ensinando ao irmãozinho como era aquela brincadeira com os dedos. E ele ficava ali parado, sentado, escutando com tanta atenção que fixava palavra por palavra o que a irmã lhe dizia. Ninguém ia à janela. Aposto que estavam todos a arranjar-se para a festa que vinha nestes próximos dias. Ninguém admitia, mas tenho quase a certeza que havia até quem nem dormisse a pensar na festa. Tão esperada era aquela. Podia até comparar-se como sendo a filha da aldeia, porque toda a gente espera por ela meses, para saber como será, e quando chega é a excitação total. Os risos das crianças eram tão bonitos que nem a noite se atrevia a chegar para não fazer sombras escuras que obrigasse aquele som a ir abrigar-se entre paredes. Não fazia vento naquele dia, apenas soprava uma leve brisa, quase nem se notava. Estava tão bonito aquele dia. O céu azul claro sem nuvens.
As escadas eram velhas. Havia quem dissesse que as escadas fora Deus que as fizera. Porque ninguém se lembra de elas não existirem. Diz-se que foi primeiro as escadas, depois a aldeia. Os miúdos adoravam aquela escada, ninguém percebia por quê. Não se compreende… eram tão velhas. Tinham buracos, umas eram maiores que outras e tinham altos e baixos no próprio degrau. Depois havia aquela caixa de madeira igualmente velha. Já nem era bem uma caixa porque não dava para guardar nada lá dentro. Algumas tábuas já não existiam. E as que haviam estavam frágeis. Estava suja, aquele amarelo esverdeado parecido com musgo. Era velha. Essa também suscitava à sua volta um grande mistério e tudo porque ninguém a tinha posto lá. Mas não interessava, aquela escada não era a mesma sem a caixa velha, por isso ninguém lhe mexia. Nem os miúdos com medo de a partirem. Também estava lá há anos. As avós da aldeia dizem que fora o padeiro velhinho, que morrera há pouco anos, que a tinha deixado. Se calhar já não tinha força para subir as escadas com ela e deixou-a ali. Mas as crianças adoravam olhar para ela. A brincadeira era sempre a mesma. E eu sorria, a olhar para eles. Também eu já fora daquela idade. Todos nós.

………………

Hoje acordei com vontade de correr, não sei por quê. Olhei para a janela. O Céu está azul claro sem nuvens. Há crianças a correrem no parque. Acho piada àqueles dois miúdos sentados, a menina mais velha está a ensinar qualquer coisa com os dedos, que daqui não consigo percebo o que é. Tenho de parar de escrever porque estou a ficar atrasada para o trabalho e ainda tenho de subir umas escadas. Mas isso hoje não me irrita. Acordei com um sorriso nos lábios. Não me lembro de nada. Porque será?

Submited by

sexta-feira, setembro 18, 2009 - 22:19

Prosas :

No votes yet

Kelly

imagem de Kelly
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 13 anos 15 semanas
Membro desde: 07/11/2009
Conteúdos:
Pontos: 26

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Kelly

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Fotos/ - 1586 0 772 11/23/2010 - 23:39 Português
Prosas/Contos Aldeia de sonho 0 596 11/18/2010 - 22:50 Português
Poesia/Aforismo Tivesse ficado 3 368 03/18/2010 - 18:44 Português
Poesia/Geral Reflexão 1 421 09/11/2009 - 03:14 Português
Poesia/Geral Acredita em mim 2 512 09/11/2009 - 03:10 Português
Poesia/Aforismo Não ter noção de quem se beija 2 427 08/02/2009 - 12:40 Português