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Amor de Rendas

Ele parou o carro no meio da pista, tamanha a vontade de beijar os lábios meus.
Ao menos assim gosto de imaginar; não chovia e o céu também não se mostrava completamente limpo. As poucas nuvens escondiam nossos rostos da multidão pecadora que passava por nós.
Depois seguimos em frente esperando, com os corpos ansiosos, o encontro de peles tão leves e alvas de felicidade. Ninguém poderia imaginar, mas eu sabia que aquele dia entraria em nossas mentes e toda a vida se prolongaria como quem sente o sabor da comida mesmo após tê-la provado ou como quando sente-se o perfume ressoar pela rua como uma voz macia nos acariciando a face. Assim eram os encontros, assim eram as mãos dele sobre meu corpo.
Podíamos ir aonde quiséssemos, não só sempre teríamos Paris como também Patagônia, México, Peru, Itália... Nossos olhares eram o mundo, e através de palavras viajávamos. Primeiro até Ribeirão, depois, quem sabe onde mais...
Logo chegamos a um quarto um tanto quanto escuro, como se aguardasse nossa chegada em silêncio ao ouvirmos músicas; de alguma forma aquele mistério todo soou como uma reverência à nossa liberdade secreta.
O céu azul, anis, violeta, enuveado, marcado pelas gotas que não viriam a cair ficara do lado de fora, lá dentro somente flores, paixões, traições, abortos, encantamentos, cruéis verdades e fraquezas que por ventura poderiam fazer-me perder por entre suas pupilas.
A cerveja gelada recém saída do frigobar molhara nossas gargantas, em seguida saciamos nossa sede com nossos lábios e através de seus braços transportei-me para suas veias novamente, como uma droga perigosa, mas deliciosa. Ele cheirava-me como cocaína, mas eu não era pó, era somente ternura, desejos, carne, ossos, brincadeiras... E ele era fetiche, fantasias, realização, realidade e ainda sim eu o havia sonhado.
Seus sabores eram como o entardecer de uma tarde extremamente calma, aquele tipo em que já se sente na boca o orvalho da manhã por vir, no ouvido a ausência de cor que passa a ser sussurrada da noite que chega e nos dedos o suor da tarde que passou e nos deixa naquele instante.
Sim, seriam necessárias muito mais letras e vaidades para descrevê-lo com real merecimento, e provavelmente eu gozaria, mas não gostaria de dar esse prazer a ninguém mais além dele.
Com ele eu gozei aquela tarde, tarde não, porque já havia luzes acesas... E as velas? Queimando nossas costas no roçar do lençol. Minhas bochechas realmente só arderam ao encostarem-se às dele ao ouvi-lo confessar que era só meu, somente meu num tom de entrega, perdição e outros “ão’s” que a vida se encarrega de nos ensinar a viver.

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terça-feira, setembro 8, 2009 - 23:19

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