Amor ou Sangue?

Pedi-lhe um beijo, uma lâmina e uma folha de coragem para cortar os pulsos… Ela só me negou o beijo, oferecendo-se para descobrir a veia maior e dar-me. Ela é corajosa perante a verdade do destino. Eu não. «Acalma-te, vou escrever a folha que te falta, com o teu assolado sangue, és tão cobarde» Diz-me suave, enquanto percorre a minha face em busca de alguém que não eu, alguém que já fui. Recosto-me na cadeira inclinada densa, não digo nada e deixo-a escrever-me.

Em sangue.

Ela rima cada verso do meu corpo, discorre-me num poema que só ela sabe ler e por isso sangro sem parar. O sangue treme, treme a palavra fugindo de quem não a diz… O mundo é silêncio perverso e eu sou o seu eco lacerado. Dispo-me, finalmente, neste último diário… Ela descobre-me e eu morro, grato por ela me ter amado…