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ANEL DE FORMATURA


                   Nem sempre o laço consanguíneo fala mais alto. Às vezes, as afinidades constituem o DNA que mantém conectadas as pessoas pelo afeto, pelo apreço, verdadeiro sangue que corre nas veias do sentimento.
                   Assim é com a Greice Sea, uma menina que poderia ser filha minha, sobrinha, prima, mas não, é alguém que não tem seu código genético ligado ao meu, mas que tem comigo um laço de filha, de irmã, de sobrinha. Greice intitula-se Sea porque não quer ser ‘mar’.
                   Eu explico, seu nome verdadeiro é Greicemar, mas como ela acha cafona, ‘out’, prefere ser ‘in’, dando um mergulho em águas cristalinas de um mar verdejante. Moça com alma de menina, que sonha com um futuro, que a vida lhe dará certamente, porque há para ela um presente especial bem guardadinho: o tempo.
                   Greice Sea vai se graduar em Letras, profissão escolhida a dedo ou à caneta, tanto faz, igual à minha, que não exerço de certa forma, mas que de outra, está contestando aqui e agora com a existência desse texto. Escrevo, como podem ver, ou pelo menos tento. Tento fazer jus à minha formação, mas, sobretudo ao meu coração, que nasceu com a caneta na mão para anotar todas as intempéries das minhas emoções.
                   Eu tenho o anel de formatura, e Greice Sea, que vai se formar, não. O meu já traz em si uma história, a minha, muito mais do que a ametista e os demais símbolos da sabedoria. Resolvi então presentear a Greice com um pedaço da minha história, para que ela já leve meio caminho andado no mundo das letras, talvez ocultas, mas nem tão apagadas.
                  Não ofertaria meu anel não fosse a alguém tão família, tão chegado ao meu sentimento. Não daria esse anel sem ter a certeza da perpetuação da minha memória e do meu afeto. É o marco de uma parte da minha história, um filho que nasceu sem ter querido nascer, porque a formatura me foi uma despedida, um rompimento, e não uma condecoração.
                   O anel é o troféu, uma recompensa por anos de dedicação; mas o pesar da despedida das letras doeu bem mais em mim do que em qualquer outro colega.
                    Greice Sea o estará exibindo em breve, ornando seu dedo de um título bem merecido, mas sobretudo de ternura, pelo presente recebido. Talvez ela não saiba, mas o anel não me fará falta alguma e nem foi presenteado com um lamento sequer, já que o meu verdadeiro lamento ficou escrito nas paredes imaginárias da universidade, no convívio terno com os colegas, no empenho dos professores, nos livros que não serão mais pesquisados. O meu lamento empoeirou, o anel escureceu, mas agora renasce e reluz no dedo de uma sonhadora que quer somente ser Sea, infinitamente mar, que deságua no oceano de Si mesma.
                     O anel que forma parte dos nossos sonhos, é prova concreta e irrefutável de que matéria eles podem também ser feitos. Greice Sea será a única formanda com dois anéis de formatura, um de ouro e o outro de letras.

 


 

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quinta-feira, março 10, 2011 - 19:27

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Elizabeth F de Oliveira

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