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Bebe... a minha alma!

“Bebe… a minha alma!”

Ontem foi um dia difícil. Recordei um passado muito próximo, mas que já não me pertence. À medida que inalava o ar pesado da saudade e mexia freneticamente o lençol por entre os dedos, sentia um vórtice de emoções, um misto de incredulidade, desespero, angustia. Subitamente as minhas entranhas eclodiram em lágrimas, que, de certa forma, acalmaram o meu peito que oscilava em movimentos contínuos, abruptos, ofegantes e quase explodia… derramando todo o pesar, distribuindo-o pelas paredes que me sufocavam, pelo chão que a todo o custo me tentava absorver, levar-me ao mais profundo abismo.
Tudo desapareceu…
Não fui capaz… não fui capaz de amar…
O olhar entrava, queria despir-me… gostei. Fiz daqueles momentos, momentos de força, de ousadia, um desafio pronto a irromper. Havia uma procura mútua, sentia a qualquer momento a sua presença, o meu corpo transformava-se, envolvia-se em sensualidade… No momento em que lemos a nossa alma decidimos avançar…
Antes mesmo de me aperceber já minhas mãos transpiravam, estava incrédula, excitada, em cada poro da minha pele coexistia o desejo inebriante de tocar, de beber todo o seu corpo, de me alimentar do seu cheiro. Os nossos olhos tocavam-se intensamente, os corpos tornaram-se num só de forma desesperada, intensa e envolvente. Olhava de forma selvagem como se estivesse a saborear os últimos momentos da minha vida, teria de vivê-los rapidamente, sofregamente, deliciosamente e sem pensar no amanhã… Deitei-me, nada pensei, deixei de sentir. Afinal não era capaz de amar… usava mais uma vez o meu corpo para transportar a mente vazia de sentimentos. Queria apenas viver, ainda que através do deleite, sabendo que simplesmente procurava uma razão, um motivo para continuar a fazer parte deste insípido mundo, cruel, vazio de tudo e no entanto repleto de palavras, atitudes, convenções, ideologias, enfim … repleto de uma moralidade …forjada.
A noite assumia um papel onde se contavam histórias, declamavam poesias, se sonhava o dia. Quando esta terminava o rosto cobria-se de sulcos vincados pelo cansaço da vida, da rotina da viagem politicamente aceitável, dos sorrisos mordazes, sarcásticos, ainda que disfarçados de idoneidade.
A claridade ofuscava os meus olhos, passando por entre poeiras causadas pelo movimento da roupa que acabara de deixar o meu corpo exposto.

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sexta-feira, novembro 25, 2011 - 01:20

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