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CRÓNICA DE UMA TARDE DE CHUVA

CRÓNICA DE UMA TARDE DE CHUVA

Chuvosa desgostosa chorosa a tarde destemperava-lhe o raciocínio com a raiva contida no silêncio que a amargurava em humedecidos sentidos, disposta a acabar de vez com a sua vida virtual, magicava um suicídio pomposo, capaz de fazer soar as sirenes de alerta de todos os continentes, e como seria darem pela sua falta nos mercados tímidos asiáticos, onde as máfias que traficam chifres de rinoceronte, quais comodoros de cinzas negras, as expelem como hálitos pútridos de corpos resignados aos favores sexuais de um turismo criminoso e desumano, onde a sobrevivência impera na desordem ordenada de um caos tempestivo onde todas as lágrimas se esgrimem na afetividade temperamental de uma pornografia arrebatadora pelas fantasias do exotismo e da luxúria.
Haveria lucro rendendo na banca do crime, da droga, da prostituição, símbolo do exotismo oriental, em tempos conhecida como Sião, as plantações de arroz desfilam perante o olhar, um passeio pelo mercado flutuante de Damnoem Saduak, os sorrisos espalham-se na água impura no embalo dos remos em coordenadas suaves marcando ritmo no tempo, diante dos templos, a sagrada flor-de-lótus embeleza a alma no liberto cativeiro da peregrinação labiríntica em exotismo delirante de cenários paradisíacos, onde espíritos doirados adormecem debaixo dos chapéus em cone, pelo lema “sanuk”, “sabai”, e “saduak”, significando sê feliz, fica tranquilo, contenta-te com aquilo que a vida te oferece, alcançando o nirvana na reencarnação de todas as inquietações deixadas a esvoaçar nas asas da imaginação.
As chuvas tropicais húmidas e quentes estão agora em adormecido temperamento, uma saudação ao sentir do sol sobre a paisagem verdejante, disfruto desse vagabundear pelo passado, olhando as fotografias que imortalizam essas memórias.
Volta-me a ânsia de terminar de vez com a minha existência virtual devido a um surto de paixão acometida por estas andanças virtuais, sentindo o pesado silêncio de quem nada diz mesmo depois de toda a loucura vivida a dois, sem comprometimentos, sem promessas, sem saber bem o que se quer, mas deixando-se ir, deixando-se envolver, deixando-se entreter por uma sedução e enamoramento casual, talvez seja isso o cerne da melancolia, a carne do desgosto, a amargura crua que se entranha saudosa no silenciar das horas ausentes desse ser.
Aconteceu o que não se queria que acontecesse. O fulcro vivencial rompeu-se como casulo de teia sedutora e enrolou o fio da vida no fuso da ilusão, essa fantasia criadora de sonhos eróticos e sensuais em cenários exóticos de tesão instantâneo.
Preciso pensar como vou acabar com esta existência insólita que se apoderou da minha pele e consumiu vasto chão de sentidos, deixando-me árida de temperamento e seca na vontade.
Talvez um vídeo com um simples olhar no silêncio.
A voz a silenciar gritos mudos de inquietação e loucura em variações menores, ao som de um piano numa sala onde ecoa um coração sofrido.
Devo dizer adeus e explicar porque parto e mato de vez este perfil que me assola de tristeza a minha fragilidade e sensibilidade perdida.
Ainda procuro as palavras testamentais do meu sentir e busco em imagens do passado forças ocultas para me darem a coragem de prosseguir com este fim.
Quero um suicídio discreto mas que chegue aos pantanais e tardes pluviosas dos agricultores de emoções.
É só uma vida que gasto a dizer adeus.

musa 

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domingo, março 24, 2013 - 22:51

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musarenascentista

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