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Decisão
Eu havia tomado a minha decisão, pois não aguentava mais. Sabia que as outras pessoas só me consideravam um peso inútil na vida delas e queria achar uma maneira de me redimir. A verdade é que nunca quisera ser um peso na vida de ninguém, sempre tentara ser uma boa pessoa, útil e produtiva, mas não conseguira. De quem fora a culpa? Minha, por ser como era? Ou de Deus, que me fizera assim? Brigar com quem eu era, odiar meu jeito de ser, não seria pecado contra Deus? Pergunta inútil, eu sabia bem.
Fosse ou não fosse pecado, minha decisão era irredutível. Eu já lutara de todas as maneiras, orara por milagres sem ser atendida e não conseguira. Não surgira uma solução. Então, cansei de ser infeliz, de carregar o peso de um vida frustrada e de sonhos não realizados.
Esperei o dia certo. Meus pais haviam saído e assim ninguém podia aparecer para me impedir. Peguei água e quase sessenta cápsulas de calmantes, certa de que a dosagem não iria falhar e não haveria como eu ficar apenas tonta nem passar mal. Enquanto ia ao meu quarto, pensei se iria para o inferno, céu ou vale dos suicidas, mas tentei não pensar muito. Há anos, minha vida era um inferno e eu não aguentava mais me olhar no espelho, ser eu.
Peguei a cartela e o copo e... minhas mãos tremeram. Qual era o problema? Eu não estava tão certa de que queria me suicidar para me livrar da minha dor? Tentei novamente, falando-me: "Vá, sua miserável, deixe de ser covarde, tenha coragem de se matar, livrar o mundo da sua presença!"
Entretanto, quando eu ia levando a primeira cápsula à boca, não fui capaz. Apenas bebi a água e chorei, tremendo dos pés á cabeça, amaldiçoando-me por não ter coragem de dar um fim à minha existência.Que houvera? Fora uma mão invisível que me impedira? Ou eu ainda queria viver?
Depois de muito chorar, guardei as cartelas e fui para a varanda da minha casa, sabendo que não apareceria ninguém para me dizer por que eu voltara atrás em minha decisão. Mas a dor continuava lá, invisível. E apenas eu saberia de sua existência.
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