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DIÁLOGO ALGARVIO

 

 

 

UM DIÁLOGO EM ALGARVIO

 

Presenciei uma conversa entre dois pescadores e se eu não fosse algarvio e da mesma zona- Tavira, com certeza que não percebia o que eles conversavam, tinha que arranjar tradutor.

Sabes Quim, há dias fui à adoca pôr lá o barquinho de um amigo mas fiz tanta força que até me doeu o bucho.

É pá vê lá, isso pode ser ruim.

Mas proquê?

Proque podes ter uma úrsela no estâmago.

Iste nã há de ser nada.

Olha o outre dia queria ir para as Quatro Águas mas estava a chover e tive ali mais de um hora e na apraceu nenhum cabrão pra me dar estamporte, tive memo que ir pra lá debaxe daquele temporal.

Olha lá ouvi dezer ca tua filha se desvorciou do marido, é verdade?

Na, isse é mentira mó, esta gente na tem nada que fazer senão enventar coisas mas, parece que ouvi dezere ca filha recebeu uma carta anorma a dezer que o maride tinha uma amiga.

Tens razão, também no outro dia enventaram quê tinha roubade uma caxa de bergão; já viste iste, um home sério como eu roubar bergão, nã dá pra acreditar.

Mó na me digas que desserem isse?

É verdade, é come te digue mó.

Há gente munto malvada.

No outre dia sacedeu uma cosa engraçada cómigo.

Antão o que foi?

Tava santado à menza e me deu uma pancada de sone tã grande que me dexei dromir memo com a cabeça em cima dela.

Isse também já ma sucedeu a mim quande tava no almazem a remendar as redes, o sone foi tã grande que fiqui ca cabeça penderada na cadera.

Pois é a gente passa as notes enteras acordades e depois o sone é tã grande que nos pode causar muntos escontornos, porque pedemos perder uma note de pesca.

Sabes ouvi dezer que um endevido empregade num banque fez uma alcatrua tã grande que o peserem na rua.

Esses gajes são mesmo pulhas, fazerem isse para perderem um empregue tã bom.

Isse é ganança  desmasiada mó, só pode ser.

Há dias vi uma notícia na tevisão que um sassino matou uma pessoa pro causa de um pedace de terreno.

Esses gajes na sei o que têm na cabeça, fazende uma coisa dessas ficam insolitados pra vida toda.

Entã prequê mó.

Entã fiquem preses e depois já na conseguem ter empregue para ganhar a vida.

É verdade mó, o mundo tá perdide, já na há quem dê conta diste; só o Salazar.

Nã me fales nesse esgraçado que me fez passar tanta fome que até fui obrigade a quemer um triste gato que passava pela nha porta.

Há pouco tempe também ouvi uma noticia na tevisão que encontrarem uma pessoa sassinada no meio de um alvoredo.

É que eu digo, já na há quem dê conta diste, o munde chegou ao fim.

Sabes uma coisa Manel?

Não ainda na dessestes mas diz lá.

Agora vou goneciar um barque maior pra mim e pro mê camarada.

Avai mó, isse na é munto care?

Vou pagande a pouco e pouco conforme as pescas.

Atão e o home a quem compras se fia de ti?

Ó,ó, até parece que na me quenheces, a nha palavra é uma escretura.

Pois é e na conseguires pagar o home fica a gornir pro casa do denhere e essas coisas a gente pode envitir.

Tens razão pá, e depois ele podia julgar quê le tava a fazer alguma alcatrua e depois ê merria de vergonha, porque ê posse ser pobre mas alcatruero na sô.

Pois é pá ê antes preferia ser alcatruero do que panelero.

É pá, no outro dia, o mê filhe teve doente dos ouvides, fez uma febre de rachar lenha. O levi ao médico e recetou ao moço para curar os ouvidos uns sulpusitores.

Atão e querou – se o moce? Nã pá, ainda ficou pior e tive que o levar outra vez ao médico.

Atão o qué quele te disse?

Olha ele viu os ouvidos do moce e dê – me um descompostura das antigas.

Atão prequem mó?

Ora, os sulpusitores era para pôr no cu do moce e ê os meti nos ouvides, preque me disse que era pra curar ouvides.

Mó, atão tu na sabias que os sulpusitórios era para pôr no cu dele?

No cu do médico?

Não pá no cu tê filhe.

Pois é pá, engani – me. O que faz uma pessoa na saber ler. A enguenerância que uma pessoa tem dentre da cabeça.

Sabes uma coisa mó?

Pois, ainda na me contastes.

Olha, no outre dia fui camprar pitrol para o tromax à da Bentinha e sabes o que ela me disse?

Conta mó!

Ela disse que o maride duma finóra foi apanhade na cama com outro gaje, porra com tanta gaja boa que hai por esse munde fora e o padelere só gosta de omos, achas bem iste?

Ê na sei nada disse, cada um só faz do que gosta.

Na me digas que tu achas bem que um homo dê o cu a outre?

O cu na é dele? Então na tens nada com isse.

Tu tás mas é a detar pitrol  pa foguera. Já vi que hoje na se pode conversar cantigue.

O qué que tu tás pra aí gornir mó?

Tás – me a chamar porque?

Tou a brencar pá.

A brencar a brencar foi o macaque ao cu à mãe.

 

Sabes que o Manel das Conquilhas arrecebeu uma herdança?

Da parte de quem mó?

E tu precisas de saberi?

Pois precise.

Mas ê na te digue.

Mó má prequê?

Porque me pedirem segrede.

Entã nós na semos amigos?

Pois semos mas segrede é segrede, na tens nada que saberi.

 

É Manel, porra pá, já viste este má tempo? Entã não haverá de veri, tamém tenhe olhos. Na é nada disse á, na sejas burro.

Entã diz lá o queres dezeri:

Olha, dizem que choveu tante ó tampouco que as reberas até estabordaram e causaram muitos prejuizes pá.

Ena, pá, isse é mau, pois na vez que até o mar tá da cor da terra?

 

 Estêvão

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quinta-feira, abril 26, 2012 - 09:32

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José Custódio Estêvão

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