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Dias de Azar X

- E tu não passas de uma asneira do passado! – Lia olha para ele fixamente, como que tentando entender o porquê daquelas palavras de Renato. Toma a palavra:
- Aquela noite na praia deserta, não significou nada? - Renato entrava num estado de tal forma nervoso, que a sua reacção é agarra-la, encosta-la à parede e dizer-lhe:
- O quê? – Marisa apercebera-se do sucedido, voltara para trás correndo:
-Calma! Ela não presta, e tu sabes bem disso!
Renato estava nervosíssimo, só lhe vinham à memória os piores momentos que passara enquanto namorava com Lia, parecia que tinha voltado ao passado. Todas as pessoas paravam para ver aquela cena, era lamentável, e completamente despropositada. Lia tinha provocado tudo aquilo, tocando do ponto mais fraco de Renato: o passado. Renato grita-lhe:
- Que seja a última vez que me falas do nosso relacionamento. Sinto-me enojado sempre que vejo que me usaste para obteres prazer – Renato larga-a, dá a mão a Marisa, e continuam a caminhar, mas desta vez rapidamente:
- Não era preciso aquilo! Ela queria mesmo que perdesses a cabeça e fizesses aquilo! – Marisa estava preocupada com o que Lia poderia fazer a seguir. Será que ia atentar contra o seu casamento? Ou contra ela própria? O medo começava a correr-lhe nas veias, apesar de frequentarem faculdades diferentes, a faculdade frequentada por Lia, era relativamente próxima da deles. Cruzar-se-iam várias vezes, o que preocupava gravemente Marisa, já que esta perdia mais rapidamente a paciência que Renato quando a provocavam.
Após uma caminhada de cerca de 10 minutos, chegavam finalmente à faculdade, não estavam atrasados, mas estavam em cima da hora, já não dava para Renato acompanhar Marisa à sua sala, por isso pediu a João que a acompanhasse e que evitasse falar de Lia, já que Marisa e ela nunca tiveram uma boa relação, e Marisa não gostava de falar desta. Alias odiava Lia com todas as suas forças, apesar de Marisa não ser uma pessoa rancorosa, não suportava de tal maneira Lia, que era capaz de lhe bater sem que ela fizesse nada.
Entram no anfiteatro, mal o fazem o professor da cadeira, pede-lhes silencio e que desliguem os telemóveis, Marisa coloca a mão ao bolso, põe apenas o seu telemóvel em silêncio, já que no estado em que Renato estava era preferível tê-lo apenas em silêncio para o caso de Renato precisar dela. Sentaram-se e pegaram no caderno para apontarem tudo. O professor olha para Marisa, nunca tinha visto aquela cara por ali:
- A menina é nova? – Marisa levanta a cabeça rapidamente do seu caderno:
- Sou!
- quer se apresentar?
- se quiser que me apresente, faço-o!
- Se fizer o favor vem cá para a frente e apresenta-se! – Marisa levanta-se, desce as escadas do anfiteatro, à sua passagem todos os rapazes desviavam o olhar, tinha um corpo saudável, talvez as calças justas provocassem demasiado os jovens adultos, e um top branco que deixava realçar um pouco o seu lado feminino e um olhar sedutor faziam de Marisa uma excitação para todos os rapazes:
- Parece-me uma presa facíl! – dizia um dos muitos rapazes presentes no anfiteatro.
- Porquê?
- Já viste aquela carinha??? Tem jeito de santa. . . eh eh eh! Aquilo deve ser um diabinho na cama.
Marisa não tinha noção da sua beleza, embora quase sempre se vestisse da mesma forma. E por viver o seu grande amor não tinha percepção da sua beleza, interior e exterior. Por isso estava supresa, para não dizer constrangida, ao olhar à sua volta e ver os rapazes da primeira fila fascinados. Um deles, Marco, vira-se para o colega do lado:
- Olha-me para isto, menino. Ia a lua e vinha, por ela! – Catarina mudara-se de lugar para escutar melhor Marisa. Quando ouve isto responde:
- Não é água para o teu bico. – o rapaz ao seu lado concordava com Catarina:
- Andas com os standards um pouco altos, mas sonhar é de borla! – Marisa começa a apresentar-se:
- Olá a todos, chamo-me Marisa Soares, tenho 20 anos! E transferi-me recentemente de Viseu. – o professor fixou os olhos nela, tentando com certeza pensar o porquê de ela só se apresentar nas aulas naquele momento.
- Mas porquê que se transferiu de Viseu para cá? E porquê só agora? Pode nos contar? – a expressão facial de Marisa mudará, começava agora a relembrar-se dos seus últimos meses de vida, do pesadelo que vivera, do medo de morrer e deixar todos aquele que amava a sofrer.
- Bom, é uma história muito longa!
- Nós temos algum tempo, os seus colegas têm que fazer um trabalho de pesquisa, portanto há tempo. – Marisa sorriu, contou exactamente a mesma história que contou a João. No fundo da sala, este ria-se da situação que tinham colocado à sua nova colega, e mulher de um dos seus melhores amigos da faculdade.
- Quando acabei o secundário, tinha ideia de entrar a faculdade, decidi portanto ir para Viseu, porque tinha lá o meu namorado, nos primeiros tempos era agradável viajar todos as sextas-feiras para cá, mas depois começamos a ficar saturados das viagens todas as semanas, por isso optamos, caso os exames corressem bem, em arriscar vir para o Porto,não só era mais perto, como abria novas oportunidades,para ambos. Fiz os exames, todos correram bem, no último dia de exames, depois de fazer o exame tive um acidente e fui parar ao hospital… - o professor não a deixou continuar:
- Foi culpa sua o acidente?
- Não, eu circulava no sentido Viseu-Porto do IP5 e um carro vinha em contramão a alta velocidade. Quando cheguei ao hospital fizeram-me todos os exames, e não revelavam nada, mandaram-me fazer uma ressonância, descobriram um tumor, avisaram os meus pais que teria que ser operada o mais rápido possível para poder viver. Fui operada, estive uns dias no hospital e vim para casa, no dia em que ia para o hospital novamente fui á faculdade para ver as minhas notas. Agarrei-me ao meu namorado para festejar e desmaiei, não me lembro de mais nada senão, de acordar na sala de reanimação do hospital, e tinha piorado bastante, tinha pouco tempo de vida, o meu namorado com medo que eu morresse, pediu-me em casamento, casamos e continuei em tratamentos no hospital. Como a minha transferência foi aceite, continuei a estudar mas não vinha às aulas, o meu marido levava-me os apontamentos das aulas e eu ia estudando. Em Janeiro fiz os exames, e quando os resultados saíram eram melhores do que esperava. No dia 15 de Março, a medica que estava responsável pelo meu caso fez alguns exames e milagrosamente estava curada. Deixei o hospital à 2 dias e cá estou eu, preparada para uma nova fase da minha vida! – o professor estava maravilhado, nunca na sua vida tinha conhecido alguém tão determinado como Marisa, sem duvida era um exemplo para todos os presentes. Os rapazes que à minutos comentavam o corpo e o olhar de Marisa, engoliam em seco, acabavam ali todos os sonhos.
- Uma salva de palmas para ela! – todos bateram palmas, algumas das raparigas que ali estavam presentes choravam pela bela historia de vida de Marisa. O que trazia a Marisa uma certa confiança.
Marisa juntou-se a João, este já tinha meio trabalho feito, Marisa aproveitou para corrigir alguns erros e ajuda-lo a terminar o trabalho de Laboratório/ projecto II, não era das cadeiras favoritas de Marisa, mas fazia-se como ela costumava dizer. Entretanto já tinha uma mensagem de Renato:
- Não consigo concentrar nas aulas por causa daquela gaja! Porquê que tanto tempo depois, ela volta para me estragar a vida outra vez?
- Meu amor, ela é assim, não podes deixar de estar concentrado nas aulas porque ela voltou a “entrar” na tua vida, tens de saber deixa-la onde ela pertence, tal como lhe disseste ela é passado! Sabes que podes sempre contar comigo, não sou só a tua mulher, sou tua amiga a cima de tudo! E não te consigo ver estragar o teu percurso escolar, só por ela está a meia dúzia de passos daqui…nunca a tinhas visto no metro?

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sexta-feira, agosto 6, 2010 - 10:42

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lau_almeida

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Comentários

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Re: Dias de Azar X

A acção contuinua, desenvolta. Com alguns picos se intensidade, apesar de me revoltar a postura do professor.
Muito bem conseguido o diálogo e bem secundado pela trama emergente.

A gostar!

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