Espelho

O espelho quebrou.
Nas noites gélidas de Primavera costumava ver-te reflectido nele, preenchia o vazio que a tua longa ausência deixara.
Naquele dia o sol nascera longe e o dia estava frio, o espelho estava desfeito em 1000 pedaços, neles via cada lágrima, cada sorriso, cada momento. Aquele dia marcou a minha vida, o quebrar daquele espelho significava mais uma derrota, tentei cola-lo em vão, era o fim de tudo, pensava eu. Guardei todos aqueles pedaços na caixa mais importante da minha vida, a de recordações. Pôs-me a ouvir música, como se ela conseguisse fazer-me esquecer o pesadelo que tinha começado naquele dia. Na verdade nem mesmo a melhor musica, conseguiria pôr-me um sorriso na cara, apetecia-me apenas deitar-me na cama e chorar até não conseguir mais.
Recordo todos os momentos frente aquele espelho, era magica a forma como ele reflectia toda aquela luz que ia entrando no meu quarto quando era feliz. A escuridão desta manhã fez-me sentir ainda mais a falta daquele cantinho onde me sentava a olha-lo como se estivesses abraçado a mim, não era apenas um espelho, era um amigo, o único objecto com que falava horas a fio, ele foi o meu maior confidente.
Hoje sentei-me no chão, puxei a caixa e tirei o “espelho”, olhei para ele serenamente, não consegui conter as lágrimas, elas saiam mesmo que tentasse abafa-las. Os meus olhos reflectiam o cintilar dos teus quando sorrias, o teu sorriso iluminava-me. Hoje nem mesmo a tua lágrima mais triste vejo, destruíste a minha única forma de ser feliz, saíste daquele recanto e nem um adeus deixaste.
Já não importa, estás longe e tens a tua felicidade, não quero destruir isso. Sabes no fim de cada noite, costumava olhar aquele espelho e pensar: será que amanhã ele vai ser meu? Hoje sei que o silêncio do espelho, queria dizer um não.

“O amor não conhece sua própria intensidade até à hora da separação.”