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Filosofia sem Mistério - Dicionário Sintéticoio
Obscurantismo, Ocasionalismo, Ocultismo e Onirismo - Ensaios Filosóficos
OBSCURANTISMO – do Latim “OBSCURU”.
Termo que automaticamente remete para o significado de “escuridão”, “sombras”, ignorância, mediocridade e afins. E, de fato, foi com essa significação que a palavra foi largamente utilizada a partir do século XVIII para classificar as doutrinas filosóficas, políticas, religiosas e/ou artísticas que vigoraram durante a Idade Média e, claro, todas as outras que se opunham ao progresso cientifico e a difusão do Saber. Ambos defendidos com ardor pelos adeptos do Iluminismo*.
A metafórica “obscuridade” é o contraponto exato à “luz” do esclarecimento que se iniciara com o fim da chamada “Idade das Trevas”, quando o Humanismo* foi resgatado e o poder da Razão revalorizado.
O termo “Obscurantismo” foi logo incorporado por outros grupos e passou a significar tudo que se relacionasse com tendências Conservadoras, Tradicionalistas e/ou Retrógadas, na opinião de seus opositores.
Atualmente questiona-se se de fato as Doutrinas Medievais foram tão “obscuras” quanto foram catalogadas. Há certo consenso de que se cometeu um erro de julgamento com essa classificação tão negativa, pois se entende que as mesmas foram fundamentais para alicerçar as teses atuais, as quais, diga-se, não são tão diferentes, na sua essência, daquelas.
Contudo, o nome ficou e se já não serve como titulo de qualidade, ainda é útil para delimitar os espaços históricos em que os Pensamentos ocorreram.
OCASIONALISMO – do francês “OCCASIONALISME” de Ocasional = eventual, fortuito, por acaso.
Em termos restritos, pode-se dizer que o Ocasionalismo é a doutrina que afirma serem os acontecimentos do Mundo e, principalmente, as modificações da alma e do corpo, resultado da intervenção direta de Deus. Acontecimentos que não dependem uns dos outros para ocorrerem, mas só da vontade divina. Por isso é que são chamados de ocasionais, pois ocorrem eventualmente e independente da vontade do Homem.
Essa tendência também é conhecida como “Filosofia ou Doutrinas das Causas Ocasionais” e foi gerada pelo filósofo e teólogo MALEBRANCHE (1638/1715, França) que defendeu com ardor sua proposição de que as Causas (ou motivos) dos Fenômenos (acontecimentos, fatos) que ocorrem na Natureza (rios, bichos, Homens etc.) são, ao cabo, “Causas Ocasionais” e não as aristotélicas “Causas Eficientes (1)”, que existiriam a partir da intervenção do Homem.
Recorte: Aristóteles (382/322, Macedônia) afirmou existirem quatro Causas: material, formal, eficiente e final. No exemplo abaixo, observa-se como se distribuem as mesmas:
No caso de uma estátua,
1. Causa Material – a matéria ou o material do qual a estátua é feita (bronze, gesso, madeira etc.).
2. Causa Formal – a figura que ela representa. O modelo que é retratado na estátua.
3.CAUSA EFICIENTE (1) – é o escultor que faz a estátua. O artista, o artesão.
4. Causa Final – o objetivo visado pelo escultor; isto é: a glória, a recompensa pecuniária, o reconhecimento etc.
Segundo MALEBRANCHE: “somos a Causa Natural do movimento de nosso braço, mas as Causas Naturais, não são as “Verdadeiras Causas”, são apenas ‘Causas Ocasionais’ que agem através do Poder e da Eficácia da vontade de Deus”. Em outros termos: se o meu braço realiza alguma ação resultando em algum acontecimento (ou fenômeno) a “Causa Real” ou o Motivo Verdadeiro é a “Vontade de Deus” que usou meu braço como simples instrumento. A “minha vontade” foi eventual, ocasional. Tudo, ao cabo, só acontece por vontade divina.
A partir dessa tese, MALEBRANCHE acreditou que elucidara a questão de DESCARTES (1596/1650, França) referente à interação entre Alma e Corpo, à medida que considerou o corpo como simples, mas indispensável, instrumento para que a Alma possa concretizar os desígnios divinos, vez que ela, Alma, é uma extensão de Deus (sic).
OCULTISMO – a doutrina que se baseia na crença da existência de Forças sobrenaturais ou metafísicas que governam a Realidade (ou o Real), o que leva seus adeptos a buscarem conhecer e controlar tais Energias mediante estudos e/ou rituais mágicos. O termo “Ocultismo” também intitula as várias Correntes de Pensamento que aceitam a existência de Seres supra-sensíveis (que estão além da capacidade de sentir, dos humanos) e Extra-racionais (que superam a capacidade humana de entender racionalmente), os quais agem no Mundo e interferem nas vidas dos Homens.
O termo “Ocultismo” é usado em certo sentido pejorativo, mas se olhado com imparcialidade, observa-se que ele também engloba as Seitas e Religiões que estão legalizadas e que, como as Correntes Herméticas, também propõem a existência de Seres angelicais ou demoníacos (ambos metafísicos) e de Forças onipotentes (Deus) que afetam e conduzem os atos dos Homens e todas as vicissitudes da vida. O que as torna “ocultas”, no mais das vezes, é apenas preconceito, ou elitismo, ou o temor das Religiões oficiais de perderem seus crédulos. As ditas “Ciências Ocultas” se dividem em um largo espectro que vai da alquimia, astrologia, cartomancia, quiromancia etc. até a hodierna ufologia.
Observa-se nesse assunto um paradoxo com as atuais condições das Ciências Humanas, pois não obstante o avanço tecnológico e seu presumido incentivo ao Saber Racional o que se nota é que as chamadas Doutrinas Herméticas não só resistem como prosperam. Em graus variados, o Homem continua querendo acreditar numa “Força Superior” ou em “Seres Especiais” – que vão das fadas, bruxas para os modernos alienígenas – que virão “salvá-lo”. Com exceção dos últimos, os extraterrestres, cuja crença é embasada por dados e hipóteses racionais, todos os demais são o que sempre foram: Seres Imaginários. E mesmo assim, continuam criveis, pois se nota que essa “Intuição” Humana faz parte do arsenal de “Esperança” de que o Futuro será melhor que o Presente e o Passado. Para os eruditos, é uma mera muleta que ampara as deficiências emocionais, mas o fato é que o Homem sabe de sua fragilidade e luta desesperadamente contra a consciência de sua transitoriedade e da própria falta de sentido que existe no ato de viver; e como se sabe, ainda que inconscientemente, incapaz de alterar essa nulidade, transfere para Seres Irreais a “responsabilidade” de lhes assegurar uma importância maior que a de qualquer outra espécie. É justamente nesse ponto que nascem os Anjos, os Demônios e até Deus.
A busca pelo “Fantástico” é obviamente desvinculada de qualquer Racionalidade, mas tal busca existe de fato. Tanto através das “Ciências Ocultas” quanto das Religiões instituídas e mais recentemente através dos “Avanços da Ciência”. Quer-se crer e dispensa-se qualquer tipo de juízo racional, condição que foi magistralmente definida por Tertuliano: “Creio porque é Absurdo! (se não fosse Absurdo eu não precisaria crer, eu poderia raciocinar sobre o tema)”.
ONIRISMO – do grego “ONEIROS” = sonhos.
O Onirismo não é um Sistema Filosófico na acepção literal do termo. Aqui constará apenas por ser parte integrante do Inconsciente Humano que será tratado com maior profundidade alhures.
É, pois, mais um Estado Mental que se compara ao dos sonhos. O termo “Onirismo” significa tanto um devaneio – que pode ser alucinatório devido a enfermidades ou ingestão de álcool e/ou psicotrópicos – quanto uma inspiração que resulte num processo de criação artística.
Nesse último sentido é que se dizem jargões como: “estado onírico”, “visão onírica”, “ambiente onírico” etc.
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