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EXISTENCIALISMO - Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético

EXISTENCIALISMO – “Olhei a bandeira da França e vi apenas um pedaço de pano ..” Não é raro que o público leigo associe o Existencialismo com Jean Paul Sartre. Para tanto, contribuiu o fato de o filósofo ser contemporâneo e muito popular por sua atuação política nas décadas do Pós Guerra até os anos de 1970, em plena Era da Guerra Fria. Sua voz, como a da maioria dos intelectuais, sempre esteve à Esquerda no Tabuleiro da Política e sua filosofia contempla várias idéias nascidas de sua militância. Dentre outras, pode-se citar a do “Relacionamento Aberto” que manteve com a escritora Simone de Beauvoir, o Ateísmo* e a critica aos Valores Burgueses, ou ao “Sistema”, como se dizia à época. Um “banquete” para a efervescente juventude que queria “derrubar o Sistema”, fazer “Amor Livre” e, principalmente desacreditar de Instituições como o Estado, a Igreja, O Casamento, a Família etc. Juventude que buscava o fim das Crendices Religiosas, Morais e Cívicas, das quais denunciava o caráter de “meras ferramentas do Capitalismo” para a Burguesia perpetuar a exploração do Proletariado e manter seus privilégios (sic). Pregava-se o fim de “Símbolos ultrapassados de idéias vazias”. Afinal, perguntava-se, qual o real interesse do Patriotismo? E respondiam: iludir o Proletariado Sentimental, Passional e fazê-lo lutar guerras que não eram suas. Por que venerar um símbolo religioso, se a própria Religião era apenas outro instrumento de dominação e de coação? Não! Os tempos mudaram! Foi esse grito o que se ouviu e que paralelamente proporcionou à assunção de Pensadores como Marcuse, Marx, Mao Tse Tung e, claro, Sartre. Era tempo do Existencialismo. Existencialismo que, ao cabo, afirmava que só a Existência é Real (verdadeira) e como é finita não tem o menor Sentido. Conseqüentemente qualquer ilusão metafísica (como a da vida pós morte) não passava de mera ferramenta para perpetuar o Poder em mãos erradas. E, quase que beirando o Materialismo Puro, rejeitava tudo que não fosse perceptível pelos Sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato). Claro que essa Corrente Filosófica era muito mais que isso, mas para o público que ansiava por uma teoria que organizasse sua revolta, essa era a leitura a ser feita. E foi assim que se ouviu a voz de Paul Nizan proclamando que a bandeira francesa era só um pedaço de pano, ou seja, que todo simbolismo patriótico era uma quimera perversa assacada contra os miseráveis para lhes dar uma sensação de pertencerem a algo maior que suas toscas vidas. O Existencialismo foi iniciado por SOREN KIERKEGAARD (1813/1855 – Dinamarca) e teve entre seus adeptos Pensadores de peso, como MARTIN HEIDEGGER (1889/1976 - Alemanha), KARL JASPERS (1891) e, claro, Sartre. Cada qual com suas características tinham em comum o foco principal do Existencialismo que é o Homem em sua existência concreta, sempre tida como Real, Verdadeira, mas NÃO necessária; pois se NÃO existisse o SER Humano em nada se comprometeria definitivamente o processo da Natureza. Se for certo que o Homem existe por algum motivo, esse motivo não é de modo nenhum eliminatório para o conjunto do Universo. Aliás, como ocorre com qualquer outra espécie. O Individuo, pois, é o “Ser em Situação”; ou seja, só “É”, porque existe em uma determinada situação. É o “Ser no Mundo (Dasein, em alemão)”, de Heidegger: o Homem “É” porque Está no Mundo. A partir desse fato, ou seja, só Existe porque está no Mundo, sem propósito ou utilidade imprescindível para o Todo (a Natureza, o Universo) o Homem “está CONDENADO à LIBERDADE”. Liberdade semelhante à que desfruta um “menino de rua” que não tem compromisso de ir à escola, ao judô etc. Liberdade que ele tem, porque foi abandonado, com os devidos infortúnios relativos ao fato. “Abandonado” como o Homem, que é jogado no Mundo sem uma Essência que lhe dê parâmetros de comportamento, de atitudes. O individuo é o Arquiteto (ou o Pedreiro, segundo alguns) de seu Destino, de sua Vida. Embora essa “liberdade” não seja total, pois o Homem sofre com suas limitações físicas, intelectuais, sociais etc. é com a sobra que monta sua Vida, a qual, finda com seu corpo físico, pois se o SER Humano não tem qualquer Essência que lhe preceda, tampouco teria uma que persistisse após a morte física. O conceito de Existência, e diretamente relacionado a ela, o conceito de Liberdade, são os temas básicos para a Filosofia Existencialista. Não só pelo aspecto individual da questão, mas também porque há (ou houve) um grande comprometimento com a Política (Partidária, de Estado), pois se cada qual é responsável por suas escolhas e delas colhe os frutos, nada mais compreensível que atuar firmemente no sentido de influir sobre o Governo, sobre o Poder, de qualquer esfera, e sobre a Sociedade. Em termos abstratos (ou Intelectuais) e generalizantes o Pensamento dos Existencialistas não considera, não estuda a Existência Individual, na qual, aliás, a Angústia tem um papel de destaque, como veremos na seqüência. Viu-se que para o Existencialismo NÃO EXISTE qualquer Essência no Homem; antes e depois de sua vida física. Ora, se não se teve qualquer encaminhamento, apoio; não haveria porque ter “algum dever de gratidão” para com seus pares; e exerce-se a Liberdade de maneira tão completa quanto às condições sociais, econômicas, intelectuais, psíquicas permitirem. As suas limitações são os únicos obstáculos que o Individuo obedece. Servindo-se desses dois temas centrais do Pensar Existencialista, seus críticos não tiveram - como não tem - qualquer dificuldade para rotular o Existencialismo como uma Doutrina Materialista e Atéia, e, portanto, nociva (sic), posto que nega a existência de Deus, de uma alma humana e de qualquer outra dimensão metafísica. Nega, principalmente, que haja alguma razão, ou motivo, para suportar durante tantos anos uma condição de desespero se tudo é absolutamente inútil. Para o Existencialista o Homem é apenas o seu corpo, suas idéias e os seus atos. O Homem NÃO é membro de uma “espécie Eleita”. É só uma criatura que vive como as demais, com o agravante de ser o único Existente1 que sabe que irá morrer. Que inexoravelmente terá um fim. Ele sabe que nasceu por mero acaso, que sua vida não tem importância nenhuma para o Todo e que o ato de viver é absolutamente sem Sentido (sem uma razão lógica, aceitável). Sabe que caminha para a morte e que nela, segundo o Existencialismo, nada existe. Sabe, portanto, caminha para o NADA. Ai está a causa, o motivo da ANGUSTIA Existencial que se vê, mormente, em KIERKEGAARD. A total falta de importância em tudo. A completa falta de Sentido, de motivo, para continuar o ato de Viver que traz em si apenas sofrimento, pontilhado por pequenas alegrias. Como já se mencionou, o Existencialismo é questionado por muitos e rejeitado por outros tantos. Afinal, ele atinge crenças, crendices e ilusões que fazem o Homem suportar a Vida com resignação. São eles os “INAUTÊNTICOS”, conforme Sartre, que formam a absoluta maioria. Porém, visto sem passionalidade, observa-se que é uma Doutrina que está longe de ser moderna, contemporânea e mesmo original. Ideários de outras Tendências, como o MATERIALISMO*, o DETERMINISMO* e até o HUMANISMO, já traziam noções similares. Em algumas, como no Humanismo, noções de sentido inverso, é fato, pois nesse o Homem é retratado como o Centro do Universo, enquanto que naquele o Homem é rebaixado e tratado como apenas uma espécie a mais. A Doutrina Existencialista teve seu ápice na década de 1950 e, depois, no final dos anos sessenta e inicio da década de 1970. Primeiro por refletir o caos e a desesperança resultantes da Segunda Guerra, na Europa que foi seu berço. Posteriormente em escala mundial, por fazer oposição sistêmica aos símbolos sociais, patriotas e, também, por questionar a Religião e o modo de vida burguês, reafirmando “o vácuo das convenções e dogmas”. Contribuíram grandemente para divulgação do Sistema o fato de vários adeptos do Existencialismo como PAUL NIZAN, SIMONE de BEAUVOIR, KIERKEGAARD e o próprio SARTRE serem renomados Escritores, Conferencistas, Dramaturgos, Artistas Plásticos etc. Na atualidade ainda tem seus seguidores, mas sua importância é cada vez menor. Até por conta do triunfo (vitória de Pirro?) que o modo Capitalista experimenta. O que, aliás, não deixa de ser uma ironia à primeira vista na medida em que o Egocentrismo* e a exagerada preocupação com a aparência, retratos da atualidade, são comprovações do acerto da visão Existencialista. Tão logo lhes seja possível, Homens exercem sua auto veneração; intuindo que nada existe além do físico, material, concreto. É certo que continuam adorando Símbolos, mas agora, apenas os que se relacionam com prazeres individuais. Quanto aos que poderiam ser relacionados com a Comunidade, como patriotismo, honra ou amizades caem em progressivo desuso. Mas, como mencionado, é uma similaridade irônica que existe só à primeira vista, pois entre os autênticos Existencialistas e os atuais Consumistas há um enorme fosso. Se os segundos primam pela falta de Cultura, essa virtude abundava entre os primeiros. Exerciam sua filosofia alicerçados em vasta erudição, o que lhes permitia a coragem para afrontar símbolos que o vulgo reputava de sagrados. Como no caso da bandeira francesa que para NIZAN “era apenas um pedaço de pano...” 1) Por fim, faremos um Recorte com alguns termos relacionados ao Existencialismo que por serem de uso freqüente são necessários para o bom entendimento da matéria. 1. ENTE – do alemão SEIN = Ser. Esta palavra é usada para traduzir e abreviar o termo grego “TO ON”, que no alemão é dita “DAS SEINDE”, particípio presente do verbo SER. Para Heidegger, ENTE é o “SER que existe”, concretamente, efetivamente. Porém, há certa confusão entre os termos “ente” e “existente” e para dirimi-la esclareçamos que “ENTE” é “tudo que cerca o Homem, que o conduz, constrange-o, enfeitiça, preenche, exalta e decepciona”, conforme Heidegger. Embora imperfeitamente, poderíamos usar o termo “CIRCUNSTÂNCIAS” como seu equivalente. O “Ente” não se apresenta como “O Ser em Si”, ou seja, aquele que existe efetiva e absolutamente, sem depender de outros em termos relativos. Esse “Ente Geral” ou as “Circunstâncias” que cercam o Homem é diferente, claro, dos “Entes Particulares”, isto é, os objetos, as estrelas, os vegetais etc. Já o vocábulo “EXISTENTE” deve ser usado apenas para significar o Homem. EXISTENTE – do alemão “DAS SEIENDE” significa toda Realidade material, concreta; os outros Homens, as coisas. Significa o DASEIN, ou o “Ser aí”. SER que é um SER porque está num espaço/tempo real, definido. Não é, pois, um produto da imaginação, da fantasia. É a “Realidade Humana”, isto é, a Verdadeira presença concreta do Homem dentro de uma Natureza física. Note-se que esta é a condição imprescindível para o Homem existir, posto que ele só existe dentro da circunstância de viver concretamente. Não existe (como Essência) antes do nascimento e não existirá (como Essência, alma, espírito etc.) após a morte do corpo. Como “Existente”, o Homem é simultaneamente o SER (o estar) entre as “Coisas Existentes” (é o SER “vestido” com a realidade (aparência) humana); e o SER (ou o existir) em relação consigo próprio. Para Heidegger, o EXISTENTE e o SER no MUNDO (ou estar presente no Mundo).

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sexta-feira, fevereiro 5, 2010 - 19:13

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fabiovillela

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Re: Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético

Lindo texto.

Parabéns.

Um araço,
Roberto

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