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Grândola Vila Morena
Portugal, mais especificamente Lisboa, foi um marco em minha vida. Amei aquela terra como poucas. E sinto saudades doloridas porém belas até hoje.
Tenho uma história para contar a respeito desta música.
Quando vim embora, por motivos de força maior (minha companheira naquele momento estava doente), chorei como criança ao decolar do aeroporto da Portela. Às sete horas de uma manhã triste porém azul-ensolarada como Lisboa costuma pintar, prometi para mim mesmo que pisaria de volta naquela terra em no máximo 365 dias.
Após muita luta interno-mauricística, voltei a pisar sobre o chão de Lisboa 361 dias depois. Só para relembrar, devolvi todas aquelas lágrimas deixadas na ocasião, mas agora eram deslágrimas, porque não eram salgadas, mas doces. Desci em grande estilo: terno gelo risca-de-giz, chapéu panamá, e charuto fitzcarraldiano no canto da boca e um cravo na lapela; era a minha revolução(creio que nem me questionaram na imigração por pensarem ser eu um artista extravagante pensando ser Gardel).
Já havia alugado uma casa em Cascais, região da grande Lisboa, no encontro do Atlântico com o Tejo. Fui direto para lá. Durante o trajeto, assobiava Grândola Vila Morena, que havia gravado em um cd que costumava escutar muito enquanto distante daquela terra amada, terra amante. Finalmente estava em casa. A minha casa, que levo comigo para todos os lugares do mundo.
Acordei cedo na manhã seguinte, para caminhar descalço sobre as areias geladas de Cascais. Eu carregava o cravo que trouxera comigo, para deitá-lo ao mar. Ao chegar à praia, um gari varria bitucas.
O homem assobiava Grândola Vila Morena.
Nunca me esqueci daquele gari.
Seu assobio ecoa até hoje em minha alma. Como se fosse uma frase, perguntando se deus existe. E o diabo?
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