"A MINHA ALMA"

A luz do horizonte é o rumo que procuro ou será que busco simplesmente o fio ténue que espreita os sonhos que envergam a minha alma? A minha alma é uma espécie de ocaso que se adensa, tem asas de condor num corpo quimérico de andorinha e por fatalidade miserabilista dorme nas grutas onde o vento repousa da sua correria de avestruz assustada. Busca silêncios nos gritos abafados. As pitangueiras em flor a sorrir para as nuvens. Vive das lágrimas que morrem nos olhos secos das baleias a esmurrar as ondas dos oceanos. A minha alma vagueia… Contrai-se na secura desértica que escorrega na garganta, sempre que uma ilusão é apunhalada impunemente. Na sua teimosia anacrónica, não há escadas nem precipícios. Reluz altivamente, nesse bafiento covil que aninha os insectos que roem a luz que promete auroras... Por vezes não sei e questiono-me. - Perdi a alma ou ganho-a a cada instante? ...Eu sei que nasci para cantar a dor, para vaiar a solidão, tal como a andorinha nasceu para cumprir o calendário que se enfeita com a multiplicidade das flores e odores perfumados a benzer a terra.
(VÓNY FERREIRA