CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Natal dos pobres
-Diz lá isso outra vez...
-Puta, a tua irmã é uma puta, P-U-T-A! E não a quero cá!
Eduarda recolhia assim para a sala, com o semblante marcado pela palidez de quem acaba de perder metade do seu sangue.
Leonor, cega de nascença, era a única que trabalhava para a dar alguma dignidade àquela pocilga humana. Às 9 em ponto atendia o primeiro telefonema, a 15 quilómetros dali, tarefa que repetia ininterruptamente até perto da hora de jantar (não querendo com esta expressão, propor que se chame refeição a algum dos momentos em que aqueles seres meio vivos, mais a pobre da Leonor, ingeriam algumas sobras da Marisqueira do Rés-do-chão).
Era ela que passava no restaurante e recolhia os restos, por caridade de Samuel, o filho do dono. A irmã e o Zé Vasco, que insistia em impor-se naquela casa, ainda por cima com o direito da última e quase sempre única palavra, quase sempre comiam do balde, como se também fossem cegos.
Desse Zé pouco ou nada se sabia - presumia-se apenas que iria morrer sem experimentar trabalho digno ou horário certo, apesar de não parar em casa, o que convinha a Eduarda. Eternamente deprimida, levava o dia a fumar em frente à televisão, com medo que ele chegasse e se pusesse em cima dela, a tresandar a vinho, incapaz de fazer o que fosse, senão culpá-la de todas as suas inactividades.
Era Natal, o que ali apenas significava que Leonor permaneceria em casa. Zé Vasco acabara de chegar. Leonor deu por ele porque já experimentara aquele hálito a vinho e sentia-o à distância.
Samuel já enfiava as fraldas da camisa nas suas calças pretas, pronto a fugir.
Zé Vasco, que nunca pensara no futuro ou no passado, não hesitou em correr com os dois, gritando a Leonor que não voltasse.
Eduarda, reuniu forças e levantou-se. Apagou o cigarro e já só viu a sombra da irmã na escada. - O que fizeste, Zé?
-Puta, a tua irmã é uma Puta!
Submited by
Prosas :
- Se logue para poder enviar comentários
- 713 leituras
Add comment
other contents of Conchinha
Tópico | Título | Respostas | Views | Last Post | Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Dedicado | De pequenino... | 7 | 3.438 | 03/13/2018 - 17:05 | Português | |
Fotos/Outros | Sem perdão | 2 | 2.019 | 03/13/2018 - 17:04 | Português | |
Fotos/Natureza | Abelha | 2 | 3.722 | 02/26/2018 - 13:39 | Português | |
Fotos/Outros | O que te prende? | 6 | 5.935 | 10/19/2011 - 02:47 | Português | |
Poesia/Geral | Vende-se T2 (em frente à funerária) | 1 | 2.238 | 02/18/2011 - 22:51 | Português | |
Fotos/ - | 1022 | 0 | 3.827 | 11/24/2010 - 00:37 | Português | |
Fotos/ - | 859 | 0 | 3.746 | 11/24/2010 - 00:36 | Português | |
Fotos/ - | 774 | 0 | 3.784 | 11/24/2010 - 00:36 | Português | |
Fotos/ - | 639 | 0 | 3.335 | 11/24/2010 - 00:36 | Português | |
Fotos/Pintura | Avião | 0 | 3.860 | 11/20/2010 - 06:16 | Português | |
Fotos/Pintura | Explosão de perfume | 0 | 3.320 | 11/20/2010 - 06:15 | Português | |
Fotos/Cidades | Cacilhas-Lisboa | 0 | 3.106 | 11/20/2010 - 06:12 | Português | |
Fotos/Outros | Azul | 0 | 3.090 | 11/20/2010 - 05:57 | Português | |
Fotos/Cidades | Saio do Porto com um sorriso | 0 | 2.695 | 11/20/2010 - 05:57 | Português | |
Fotos/Pessoas | Avieiros do Tejo II | 0 | 4.003 | 11/20/2010 - 05:57 | Português | |
Fotos/Outros | Atlantida | 0 | 2.695 | 11/20/2010 - 05:57 | Português | |
Fotos/Cidades | Santiago Maior | 0 | 2.499 | 11/20/2010 - 05:56 | Português | |
Fotos/Outros | Natureza selvagem | 0 | 3.875 | 11/20/2010 - 05:55 | Português | |
Fotos/Outros | Páscoa | 0 | 2.329 | 11/20/2010 - 05:55 | Português | |
Fotos/Outros | R.I.P. | 0 | 2.869 | 11/20/2010 - 05:26 | Português | |
Fotos/Outros | Reciclagem | 0 | 2.480 | 11/20/2010 - 05:26 | Português | |
Fotos/Paisagens | Reflexos III | 0 | 3.024 | 11/20/2010 - 05:26 | Português | |
Fotos/Cidades | Lisboa | 0 | 3.446 | 11/20/2010 - 05:26 | Português | |
Fotos/Outros | Mar | 0 | 3.282 | 11/20/2010 - 05:26 | Português | |
Fotos/Pessoas | Velhos | 0 | 4.146 | 11/20/2010 - 05:25 | Português |
Comentários
Re: Natal dos pobres
Texto fantástico!
Pura realidade, nua e crua.
Abraço.
Vitor.