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Navegante

Lá vai ele, no seu percurso de sempre, em direcção ao nada porque dentro do vazio se encontra. E aqui estou eu, todos os dias observando essa lenta e imponente caminhada dele em direcção ao nada, e quando dou por mim, bem, também me encontro vazio, porque o nada que eu observo preenche um pequeno grande pedaço de mim, embora encontre talvez uma única diferença.
Passam-se anos e ele continua na sua caminhada, sempre firme nos seus passos e com aquele semblante que transparece deveras serenidade. E porque essa rotina mostra uma grande solidez, pensei e me perguntei, porque não conhecer esse navegante!? E foi assim que um certo dia tomei-me de coragem e o perguntei: porque todos os dias sais nessa direcção e com olhar preso no vazio. Ele, tal como o seu semblante, de forma calma e serena respondeu: saio nessa direcção porque esse vazio é o único que me da amparo, nesse vazio me sinto preenchido, e nesse grande escuro que ele é, encontro uma luz, esse vazio é o meu companheiro, porque só ele olha para mim, só ele me permite ter o que dizer. No meio destas sentidas palavras o interrompo e digo, á anos que te observo e preenches um pequeno grande pedaço de mim, só hoje consegui obter coragem de contigo falar e depois de te ouvir te pergunto: deixas-me fazer-te companhia? Ele responde, claro que sim!
E ambos começamos a caminhar, juntos fomos fazendo uma grande aliança, movidos de esperança vimos os dias deixarem de ser tão cinzentos, e dentro do escuro(da nossa mente) encontramos luz, e a ela nos agarramos.
Continuamos a caminhar e outros anos se foram passando, tal como o via, os percursos, as direcções e acções continuam iguais, o semblante... E la continuamos as nossas caminhadas, cada vez mais sólidas, ate que a determinada altura, para nosso espanto, eu me confundia nele, e ele em mim. Certo dia, paramos, olhamos um para o outro, e em simultâneo perguntamos, quem és tu? E num olhar hesitante, palavras tornaram-se um acto gestual, e nossos olhos passaram a exprimir frases, todas elas repletas de sentimentos e angústias. Nesse momento encontrei a tal única diferença, deparo-me como o meu eu a olhar pra mim e me apercebo, que ele navegante, sou eu.
Ele que tanto navega entra em mim, ele que navega é o complemento do meu imaginário, ele representa deste triste cenário algo positivo, porque a situação em que estou, nem num vazio escuro encontro amparo, nem o vazio me permite falar! E só me vejo amparado quando o imagino, porque quando o imagino, alguém me consegue ver, alguém me consegue ouvir!

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domingo, junho 28, 2009 - 15:37
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yamusswoho

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