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O ASSALTO

Foi há 29 anos. Estava uma magnífica manhã de outono. Naquele pequeno núcleo habitacional de Nova Oeiras com moradores,na sua maior parte, da classe média alta ,havia um pequeno balcão bancário destinado a melhor servir a população local.  Várias lojas de comércio  ali existentes facilitavam a vida a quem ali residia.
Um pequeno jardim embelezava aquela área que era tratado diàriamente por um jardineiro bastante empenhado nos cuidados prestados naquele espaço.
Da janela de um gabinete envidraçado e através das persianas meio abertas de tela até ao chão, dava fé da vida circundante. Como sempre, lá estava o polícia de giro,fumando o seu cigarro e descansando uma das mãos no cinto onde pendia o coldre da pistola. Namoriscava uma serviçal lá do sítio que, de olhos no chão, bamboleava-se à sua frente em constantes sorrisos e movendo pendularmente o saco que transportava para as compras do dia.
Era meu hábito deitar uma olhadela para este cenário envolvente onde por vezes, também, algumas crianças brincavam. De certa maneira, constituia uma descontração antes de deitar mãos ao trabalho! Era a moldura matinal rotineira!
Já sentado, dei inicio ao despacho das operações que faziam um pequeno monte de papeis, entretanto já colocados na minha secretária.
Um som amalgamado de carimbos metálicos e das máquinas de calcular entrava no gabinete, já que a porta estava normalmente aberta. E,assim, tudo corria com naturalidade naquele dia ensolarado de outono até que,repentina e inesperadamente, um tremendo berro ecoou pela sala contígua ao gabinete: É UM ASSALTO. DEITEM-SE TODOS NO CHÃO!
A minha colega Rita entra espavorida e tenta avisar-me da ocorrência. Porém ,não teve tempo de balbuciar qualquer palavra, já que uma espingarda de canos serrados estava apontada para mim e acompanhada de uma ordem para me levantar imediatamente e encostar-me à parede. Ao meu lado, a Rita estava lívida e de olhos fechados. Parecia que estava rezando!
Consegui ver que outra personagem munida de uma pistola e encapuçada, corria para a caixa e lhe gritava ordens para que lhe desse todo o dinheiro que tinha até então recebido dos depósitos já efectuados.
Tudo se passava em grande velocidade. A personagem á minha frente gritava para o companheiro se despachar. A arma que me apontava tremia ligeiramente e naquele momento cheguei a sentir um mêdo terrivel . Foram breves minutos que pareceram uma eternidade! A adrenalina tornava a minha garganta sêca e um gosto amargo instalava-se na minha boca. A minha colega continuava colada à parede.
Não tendo acesso a qualquer possibilidade de comunicar pelo telefone, só me
restava esperar, já que estava completamente refém daquela arma apontada para mim. Cada minuto avolumava o meu receio. Eis então que muda o cenário: a personagem que me estava apontando a arma grita para não fazermos qualquer gesto sob a ameça repetida de atirar sobre quem o fizesse! Depois saí ràpidamente e segue-se por momentos um silêncio. Percebemos que terminara o assalto. Então olhei entre as persianas: lá fora,já na esquina de um prédio,desapareciam os assaltantes levando com êles um refém: o nosso colega caixa!
No jardim continuavam a brincar as mesmas crianças. O polícia de giro,fumando o seu cigarro,com uma das mãos pousadas no cinto onde pendia o coldre da pistola ,continuava a namoriscar a serviçal que,na sua frente,ria alegremente!
Nota: Foi um assalto à Dependencia do BESCL hà cêrca de 30 anos. Já nessa altura aconteciam estas coisas! Posteriormente, os assaltantes foram apanhados pela polícia e condenados em tribunal. Tratava-se de dois irmãos residentes em Cascais e filhos de um ilustre advogado de Moçambique.
Helder Gonçalves
24-9-2008

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quinta-feira, novembro 3, 2011 - 00:59

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