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O DIVÓRCIO
Anete e Carlos se conheceram na festa de aniversário de uma amiga em comum. Carlos foi o último convidado a chegar à festa. Anete estava sentada bem em frente à porta e logo que Carlos entrou, a percebeu. Não foram apresentados, mas Anete percebia os olhares dele para ela. Quando um amigo com quem Anete conversava se levantou, rapidamente Carlos sentou-se no sofá ao seu lado. Não demorou muito e eles estavam conversando como se conhecessem há anos e Carlos não perdia a oportunidade de trazer drinks e salgadinhos e oferecer à Anete. Depois da festa, os amigos decidiram que iriam a um baile de chopp que acontecia em um clube da cidade. Carlos convidou Anete para ir com ele e durante o baile, ele não se separou mais dela. Foi paixão à primeira vista. Nessa noite mesmo Carlos decidiu que a apresentaria a sua família no dia seguinte. Combinaram se encontrar no sábado e ele a apresentaria aos seus pais e passariam o final da tarde em um clube Campestre perto da cidade. Anete esperou até a hora marcada e como era muito pontual, não admitia esperar por ninguém, nem tampouco deixava alguém a esperar por ela. Quando o relógio bateu as duas badaladas, indicando a hora em que deveriam se encontrar, Anete não esperou mais. Retirou a sua motocicleta da garagem e saiu a andar sem destino. Voltou muitas horas depois. Sua mãe então lhe disse que Carlos estivera a sua procura e havia saído há poucos minutos. Anete não gostou do atraso, mas a curiosidade em saber o que havia acontecido não a deixou sossegar. Telefonou para a amiga de Carlos e contou o acontecido. Disse que estava furiosa com ele e que não costumava esperar por homem nenhum. Depois de dizer tudo o que pensava de Carlos a amiga confidenciou que Carlos estava ali com ela e ouvira toda a conversa. Ele então a convidou para saírem à noite e jantar. Prometeu ser pontual e assim aconteceu. Namoraram mais de três anos, sempre assim. Ele vinha todos os meses passar um final de semana com Anete e ela, sempre que dava, ia visitá-lo na cidade onde ele morava. Casaram-se algum tempo depois. No dia do casamento, Anete ficou em dúvida, se estava fazendo a coisa certa. Confidenciou a sua mãe, que se o casamento não desse certo, ela se divorciaria. Ficaram casados doze anos e tiveram um casal de filhos. Anete,logo que casou, percebeu que faltava alguma coisa no casamento, que ela não sabia o que era. Nos primeiros três anos, estavam decididos a terem um filho e isso ocupou demais os pensamentos de Anete. Quando a filha nasceu, Anete estava muito feliz e as suas preocupações, durante algum tempo, estavam restritas apenas à filha. Mesmo assim, Anete sentia que havia alguma coisa na relação com Carlos que a deixava triste. O marido era muito desleixado. Dizia que a amava, mas nunca fazia nada para demonstrar esse amor. Anete engravidou novamente algum tempo depois e acabou tendo um aborto. Ficou durante muito tempo com uma enorme sensação de vazio. Ficava horas na janela, imaginando o dia em que ela seria feliz. Ela tinha o seu trabalho, havia aberto uma micro-empresa com o marido e o ajudava sempre que podia, mas não era feliz. Durante muito tempo, foi alimentando a idéia da separação. Quando decidiu o que faria, esperou uma ocasião oportuna, em que os pais e a irmã estivessem presentes, para anunciar a separação. Conversou com a irmã, que era bioquímica e disse a ela que estava se sentindo diferente. Não sentia nenhum sintoma que justificasse que havia algo estranho nela, apenas havia ganho um pouco de peso. A irmã então, suspeitou que Anete estivesse grávida. Fizeram o teste e deu positivo. Mais uma vez, Anete sentiu que não era esse ainda o momento da separação. A mãe e a irmã a aconselharam a esperar mais um tempo, até o bebê nascer e então ela poderia resolver o que fazer. E foi o que Anete fez. Resignou-se a ficar junto ao marido mais um pouco, até os filhos ficarem maiores. Assim ela teria tempo suficiente para pensar e decidir com mais clareza. Mas Anete tinha certeza de que não era feliz. Sonhava em ser amada. Queria que o seu casamento desse certo. Carlos durante esse tempo, demonstrou ser uma pessoa inútil e vazia, sem nenhum interesse pelo futuro dos filhos. Não gostava de trabalhar. Dependia do pai, que todos os meses lhe enviava dinheiro para as suas despesas básicas. Até que chegou um dia em que Anete se cansou da vida vazia que levava ao lado de Carlos. Pediu o divórcio. Apesar dos filhos ainda pequenos, ela decidiu que iria morar bem longe do marido. O advogado que fez o divórcio era o irmão de Carlos e fez com que Carlos ficasse com todos os bens de Anete. Ela saiu de casa com o carro e levou o essencial para sobreviver bem longe dali. Voltou para a cidade onde morava com os pais. A casa da família estava desocupada. O pai de Anete já havia falecido e a mãe estava morando com a outra filha. No dia em que Anete saiu de casa, se preparava um temporal, mas como ela já havia enviado a mudança, com as poucas coisas que ela tinha, resolveu que precisava viajar assim mesmo. Apesar de não amar mais o marido, ficou sentida por ele não se preocupar nem com ela nem com a segurança dos filhos, pois a viagem era longa. Anete poucas vezes havia dirigido na estrada e muito menos com temporal. Mal ela havia viajado poucos quilômetros, o temporal desabou. A tarde virou noite e não se enxergava nada da estrada.
Era a chuva caindo em torrentes lá fora e no seu coração, o temporal ainda era maior. Anete sabia que precisava ser forte.
Tinha um casal de filhos viajando no banco traseiro e ela precisava de toda a sua coragem para atravessar aquele momento. Chegou uma hora em que se tornou difícil prosseguir. Anete então parou o carro no acostamento e esperou o temporal passar. As crianças estavam inquietas e Anete mais preocupada ainda estava em continuar a sua vida depois desse momento. Era uma vida completamente nova e ela estava sozinha. Depois de muito tempo ali parada, o temporal passou. Anete retomou a estrada e muitas horas depois ela chegou a sua casa. A sensação de abrir uma casa vazia e se instalar com os filhos pequenos era apavorante. Mesmo sem móveis, Anete montou um colchão de ar que havia levado, comprou um lanche para as crianças e adormeceram os três naquela primeira noite de vida nova. No outro dia, quando o caminhão chegou trazendo a mudança de Anete, foi que ela percebeu que os seus problemas estavam só começando. Era uma sensação estranha e os filhos teriam que se adaptar de qualquer maneira. Anete procurou escola para os filhos e conseguiu uma bem perto de sua casa e nessa mesma escola, ela conseguiu trabalhar, como professora, já que havia pedido transferência da escola anterior onde trabalhava. Recomeçar é uma palavra difícil e Anete sabia que os problemas estavam só começando.
Débora Benvenuti
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Comentários
Re: O DIVÓRCIO
Fiquei com vontade de ler mais. Gostei desta tua prosa.
beijos...