CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

O Ipê Vermelho

Os caminhos que já tínhamos andado parecem ter marcado encontro na esquina do Ipê. Árvore singular. Pedantemente singular, já que não se contenta com a beleza das flores roxas ou amarelas que suas outras irmãs ostentam e se cobre de um manto vermelho para se distinguir de todas.

Há cerca de vinte metros, ainda próxima de sua sombra, encontra-se a Escada Rolante que leva à Estação Subterrânea do Metrô Santa Cruz; e foi ali, hesitando em lançar-se rumo ao “abismo desconhecido”, que a vi, realmente, pela primeira vez.

Contornando seu sorriso imenso, o rosto moreno afirmava toda a sua beleza latina amalgamada com a herança que alguém trouxe do Báltico para a pobre América e deixou no azul de seus olhos.

Talvez nós já nos tínhamos visto, mas não sei o porquê foi só naquela hora que o fascínio absoluto me atingiu. Só então, o impacto de M. me paralisou. E quebrou, num átimo, a segurança de quem se imaginava imune ao “Canto da Sereia”.

Balbuciei um cumprimento tímido, confuso e quase infantil. E bebi um largo sorriso como resposta. E se nada mais se disse, devo reconhecer, foi por conta de uma inexplicável timidez que me chega, bem sei, às vésperas de cada nova paixão.

Tentei me justificar com a chegada do Metrô, do barulho dos passageiros, dos engates, dos autofalantes etc. Tolice. Nada mais se disse, agora sei, porque a partir daquele momento a minha vida já tinha outra direção.

Mas hoje não será assim. Mostrarei o quanto posso ser agradável, culto e interessante. Não, não será como foi. Nada será como antes. Eu voltarei a ser feliz.

O Ipê já perdeu suas flores rubras, mas os olhos azuis de M. não perderam sua luz. Ainda me perco em murmúrios insossos, mas sinto que as palavras chegam para me socorrer e só lamento que as minhas mandingas fossem insuficientes para descarrilar o trem que se aproxima. É pena que nosso segundo encontro termine tão breve, pois logo ela embarcará.

O calor que fez em pleno Inverno foi substituído por um frio impensável nesse inicio de Primavera. De longe posso ver que o sorriso de M. me aguarda para o terceiro encontro. Embarcamos juntos na Escada Rolante rumo ao abismo que já não nos parece desconhecido. Hoje, pouco importa o horário e o itinerário do trem, pois irei acompanhá-la. Dentro do vagão, sinto o calor do seu corpo apoiado no meu e sinto a suavidade de sua pele ao segurar seus dedos entre os meus.

Eu sei que já se passaram três estações além da que seria o seu destino original. Eu nada digo e nem a escuto dizer qualquer coisa. O calor que produzimos aumenta a intensidade com que nos roçamos e a paixão que o balanço do trem acirra, acomoda os nossos encaixes de tal modo que certamente todos nos veem como apenas um, embora poucos entendam o porquê de rirmos quando a voz anasalada do condutor informa que logo chegaremos ao Paraíso.

A folha em branco ficará em branco. Eu sei que nada conseguirei escrever enquanto o calor de M. habitar meu corpo. De soslaio eu percebo que as pessoas nas mesas ao lado me olham com curiosidade e é certo que se perguntam o que faz aquele homem com um buquê de flores inexistentes, na mão que não segura o copo.

Como lhes explicar que existem flores vermelhas de Ipê?

Digitada por Taisinha.

Submited by

quarta-feira, setembro 26, 2012 - 11:35

Prosas :

No votes yet

fabiovillela

imagem de fabiovillela
Offline
Título: Moderador Poesia
Última vez online: há 7 anos 51 semanas
Membro desde: 05/07/2009
Conteúdos:
Pontos: 6158

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of fabiovillela

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Poesia/Amor Ausentes 0 1.494 01/05/2015 - 01:04 Português
Poesia/Amor O Gim e o Adeus (2015) 0 1.470 12/31/2014 - 15:02 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte XII - A Metafísica 0 2.050 12/29/2014 - 20:06 Português
Poesia/Geral Gauche 0 1.271 12/26/2014 - 19:50 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte XI - O Método 0 1.979 12/24/2014 - 21:01 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte X - A Geometria Analitica 0 2.995 12/24/2014 - 20:57 Português
Poesia/Amor Quietude 0 923 12/21/2014 - 22:03 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte IX - O primeiro filósofo moderno - Cogito Ergo Sun 0 3.015 12/20/2014 - 21:29 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte VIII - A época e o ideário básico 0 2.155 12/20/2014 - 21:25 Português
Prosas/Contos Farol de Xenon 0 2.295 12/20/2014 - 01:40 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte VII - Notas Biográficas 0 2.242 12/19/2014 - 13:56 Português
Poesia/Meditação Sombras 0 1.888 12/18/2014 - 00:21 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte VI - Preâmbulo e índice de obras 0 2.836 12/17/2014 - 14:07 Português
Prosas/Drama Nini e a Valsa 0 3.566 12/17/2014 - 01:56 Português
Poesia/Amor As brisas e as rendas 0 1.496 12/15/2014 - 22:08 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - os Tipos de Razão Filosófica 0 1.517 12/13/2014 - 19:53 Português
Poesia/Amor Desencontros 0 1.366 12/10/2014 - 20:41 Português
Poesia/Amor Navegante 0 1.764 12/05/2014 - 01:21 Português
Poesia/Amor Evoé 0 1.767 12/03/2014 - 01:17 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte IV - o Racionalismo 0 1.841 12/01/2014 - 15:21 Português
Poesia/Amor A Face 0 1.269 11/30/2014 - 00:20 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte III - o Racionalismo - continuação 0 2.893 11/27/2014 - 15:33 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Parte II - o Racionalismo 0 1.464 11/26/2014 - 15:03 Português
Poesia/Amor A Dança 0 898 11/23/2014 - 19:28 Português
Prosas/Outros Descartes e o Racionalismo - Preâmbulo (Apêndice: a Razão) 0 2.171 11/22/2014 - 21:56 Português