O Sonho

O sonho
Dizem que os sonhos é o que nos dá a eterna esperança. Com eles, podemos voar, amar, matar, dizer tudo e mais alguma coisa, até morrer! No fundo todos nós sonhamos para esquecer a dura realidade da vida. Esperança... Sonho todos os dias contigo. Todos os dias te vejo nos meu sonhos. Não, não faço nada de mais contigo, não penses isso. Nunca te beijei num sonho sequer. Acontece talvez o contrário. Tu matas-me em cada sonho meu. Cruelmente ou docemente, no final dos meus sonhos, eu morro pela tua mão. Mas hoje sonhei algo que me fez pensar. Algo que me deu esperança, nem que tenha sido por pouco tempo. Algo que vou contar aqui neste texto.
Lá estávamos nós... Deitados na relva a ver as nuvens que nunca nos irão pertencer. Com a minha mão sobre a tua, apontávamos para as que tinham a forma de um coração. E eram tantas... Ao apontarmos para uma, aproximava-me de ti. Sempre que aparecia mais uma nuvem, encostava-me mais a ti. E eram tantas... Foi então que parei de olhar o céu para te fixar o olhar. Só olhava para ti. A certo ponto começaste a fazer o mesmo. E ambos olhávamos o que não podiamos ter. Estava a mirar a tua beleza impossível. Parecia que naquele momento nada nos podia deter. De testa encostada e de olhos fechados roubava o ar que respiravas. De repente, estávamos de pé e as pessoas que juntos conheciamos estavam à nossa volta. Juntos segredavam aos nossos ouvidos: “ Não pode acontecer!” “Tu não o amas!” “Vocês são só amigos!” “O que acontecerá depois?” “Ela não te ama!” “Ele é um falso!” “Não pode acontecer!” “Esquece-a!” “Ela odeia-te!” “Tu não a amas!” “Vocês são só amigos!” “Só amigos!” “Amigos.” “Não pode acontecer!” Mas nós não os ouvimos. Em vez disso, aproximávamo-nos mais, com o vento a passar sobre nós, e a ondular o teu cabelo, tornando-o de uma beleza tal que o mundo surpreendeu-se, pois tal beleza nunca tinha sido antes testemunhada. Mas eles não pararam. Continuaram, começaram a gritar, a insultar, a querer que o amor não se realizasse. Mas nós não queriamos saber. Queriamos era aquele momento, o momento que não se sabia se iria repetir, o que importava era o agora. Mas as pessoas não queriam. Começaram então a ameaçar-nos. A dizer que atirariam pedras se fosse preciso. Mas nós não ligámos. Foi então que dois deles apontaram uma arma às nossas cabeças, dizendo que se acontecesse, iriamos morrer os dois.
E olhaste para mim, lentamente começaste a desencostar a tua testa da minha, parei de sentir o teu respirar que me purificava o rosto e disseste: “Desculpa, mas eu não sou capaz de morrer por ti...Desculpa”. Viraste-te, deste dois passos, sacaste de uma pistola e disseste:” Mas tu eras capaz de morrer por mim, não eras?” E olhei para ti, recordando tudo o que fiz até aquele momento contigo, e acenei que sim. E tu, derramando uma lágrima, disparaste.

H.P