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O Sonho da Cotovia
Um dia, no topo de uma árvore nasceu um passarinho muito belo. Ele era tão belo, tão belo, que os seus progenitores o sobre protegeram. Depressa cresceu e ganhou uma linda plumagem e os seus pais pelo tempo não deram passagem. Recusaram-se a aceitar a ideia de que a sua cria já estava pronta para voar. Com a curiosidade natural de um jovem irreverente, inocente e inconsciente, olhou para o céu e sentiu vontade de o explorar. Abriu as asas, sentiu a brisa passar por entre elas e começou a batê-las. Preparava-se então para uma nova experiência viver, quando os seus pais que haviam saído do ninho por alguns instantes apareceram e começaram a repreender, obrigando-o a ali permanecer. Triste, a bela cotovia refugiou-se no seu cantinho continuando a sonhar e agarrando-se à esperança que ainda tinha, de um dia por entre as nuvens mergulhar. Ao alimentar e preservar esse sonho conseguia continuar a ter vontade de viver e amenizar a dor que sentia por não lho deixarem concretizar. Sentia-se encurralada, sozinha, aprisionada, mas com o passar do tempo ao conforto daquele pequeno espaço se foi acostumando e o céu receando. Os seus progenitores tinham conseguido o que queriam, mantê-la para sempre debaixo das suas asas. Muito quieta, já mal se mexia naquele pequeno, mas acolhedor para ela, amontoado de palha e quase tinha esquecido e desistido da ideia quase absurda de voar, até ao dia em que um lenhador que não reparou no ninho que por entre as folhas estava bem escondido, cortou a árvore onde estavam, fazendo o seu pequeno mundo desabar. O ninho caiu a pique e os seus pais voaram para fora dele antes deste cair no chão mas ela não! Caiu, desamparada por nunca ter sido ensinada! Ao verem-na ali, inanimada, aperceberam-se finalmente do erro que haviam cometido ao terem-na híper protegido. Envergonhados e arrependidos em vez de a ajudarem para se redimirem, resolveram abandoná-la e partiram, deixando-a ali sozinha a padecer. Felizmente o homem tinha bom coração e resolveu levá-la e tratá-la.
Semanas mais tarde, depois de recuperar totalmente dos ferimentos ficou a viver com ele. Sentia-se novamente feliz e começou a cantar. Começou a fazer coisas que nunca imaginara fazer e a sua alegria e auto estima voltou a crescer. Então, finalmente lembrou-se que lhe faltava fazer só mais uma coisa para ser uma verdadeira cotovia…voar. Olhava para o céu, depois para o lenhador e novamente para o céu. Um bando de outras aves sobrevoou perto deles e ela baixou a cabeça e fechou os olhos.
_ Vai! Voa, linda cotovia! Voa atrás deles! _ Disse o lenhador. _ Sê livre e feliz! Adoro-te, tenho pena que partas, mas apesar de ter-te tratado não sou eu o teu dono, não é só a mim que pertences, mas sim ao mundo. Segue o teu instinto e o teu próprio rumo. Não cabe a mim mudar o que és. Adeus, bela ave!
Surpreendida abriu os olhos, ergueu a cabeça e depois as asas. Uma força interior invadiu-a e ao sentir a brisa passar-lhe por entre as penas decidiu finalmente, embora ainda renitente, levantar voo. O sorriso do lenhador ao vê-la voar fê-la sentir que apesar de partir, um pedaço dela iria ficar e um pedaço dele ela iria levar. Não iam estar sozinhos. Seus corações e pensamentos por entre os céus também iriam se cruzar, por isso, voou livre e sem remorsos nem receios rumo à felicidade.
Fim
José Vidas, 2013
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