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OS GÉMEOS - 28
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— Eu até podia responder a essa questão... Mas não o vou fazer sem a presença de um advogado.
— Ah! Não vai?... O que é que tem a esconder?
— Já lhe disse. — retorquia William, pressionado pela arrogância indisfarçada do polícia. — Não tenho nada mais a acrescentar. Salvo, o protesto, que quero que fique registado, pelo facto de me estar a fazer perder tempo. Esperei mais de uma hora para ser atendido, a seu pedido, e ainda por cima formula-me agora perguntas do meu foro pessoal, sem primeiro me acusar de qualquer delito!
— Ninguém o acusa de nada, na verdade... — persistiu a autoridade, com ironia e um salto ágil, a sair-se detrás da pesada mesa de mogno no gabinete do restaurante dos Gonçalves, onde o Conselho do Povo com pontualidade exercia o seu oficioso poder administrativo e no qual, agora, por falta de adequadas instalações em Lameira Grande, o investigador exorbitava, pelo menos em atitudes, interrogando-o com nenhuma sagacidade mas com a esperança paciente de encontrar a ponta do enrodilhado novelo em que, em momento inesperado, se convertera o desastre de viação em que perecera o intratável Zeca, promovido pois a vítima de homicídio premeditado. — Sr. Doutor... Eu gostava que o senhor compreendesse que estou a tratar de deslindar um assassinato!
— Pois sim. Isso posso compreender.
— E então?
— Não posso compreender é o que tenho eu a ver com esse assassinato! Nem tão pouco, que me faça perguntas dessas sem antes declarar: você é acusado de homicídio perpetrado na pessoa do senhor fulano. De outro modo, eu interrogo: — Mas que país é este, onde se fazem perguntas sobre a privacidade das pessoas, sem consideração nenhuma por elas?
— Estou bem arranjado! Não me vai pedir que venha estar presente também o excelentíssimo senhor Cônsul, pois não? Este país é igualzinho ao seu quando toca a fazer justiça. Ou será que lá os investigadores são tão espertinhos que nem precisam de fazer perguntas?
— Olhe, eu não quero indispor-me nem quero impedir o seu trabalho, mas assim não vamos a lado nenhum.
— Isso é que eu ainda não sei se vamos... Mas para lhe provar que sei muitas outras coisas vou elucidá-lo um bocadinho... vá dizendo, se tiver dificuldade em entender o meu português... Assim como assim, também pode vir um intérprete, além do advogado e de sua excelência o diplomata. Vejamos então. O senhor, e as senhoras Louise Ferraud e Hana Wangshi, em conjunto, têm na aparência um frágil alibi para a oportunidade, vinte e três horas, mais minuto menos minuto, em que ocorreu o homicídio do falecido senhor José Alcanena. Estavam, supostamente, em trânsito entre uma discoteca na cidade de Coimbra e uma outra muito perto da cidade de Aveiro. Certo?
— Dessa afirmação tão completa, mas insidiosa, a que parte devo responder “Certo!”?
— A nenhuma parte, se quiser. Ou a todas, se deseja ilidir a verdade. E para que raciocine certinho informo-o que não é por adivinhação que estamos a equacionar um crime de assassinato. Um exame pericial de rotina demonstrou que, apesar do senhor Zeca, mais conhecido por ser assim chamado, na ocasião se deslocar com demasiada rapidez, com mais rigor dizendo, bastante além da limitação de velocidade ditada pelo nosso codigozinho de estrada, foi com eficácia abalroado para fora da via, escaqueirando-se. Interessante, numa hora a que o senhor Doutor e as suas senhoras, por conseguinte, também andavam ao volante, por outros lados, parece... Mas não só o senhor e as suas senhoras, pois outros viajantes noctívagos, daqui perto e mesmo de lá longe, da sua terra, esquisito não é? Ora! Não vou contar-lhe mais nada. O senhor não está disposto a colaborar... Eu, a tentar solucionar um mistério, que pelos indícios ainda poderá trazer-lhe muito aborrecimento, ou coisa bem mais grave do que isso, e você ofende-se e puxa dos seus direitos, obstruindo a acção da justiça! Pois se está com vontade de refutar uma acusação formal, olhe que se calhar eu vou fazer-lhe a vontade. Já agora, só mais uma informaçãozinha para si... a D. Alzira não teve os seus pruridos em contar a verdade... E até foi ela quem solicitou o inquérito.
— Surpreende-me, em parte...
— Sendo vocês tão íntimos, ela deveria tê-lo avisado, não lhe parece? Pois eu sou uma pessoa franca e para que não se admire estou já a preveni-lo de que a partir de amanhã pode contar comigo lá na sua residência... para satisfazer uma certa curiosidade. E se o doutor convidar o advogado, o senhor Cônsul e o intérprete, até podem jogar uma partidinha de poker, comigo a assistir. Até mais ver, senhor doutor William Ryswick.
Antes de entrar no jipe deu uma volta em seu redor, à procura de algum sinal de recente amolgadela na carroceria. A pintura estava a estalar num ou noutro ponto mas não descobriu mossas suspeitas. Não tinha qualquer relação factual com o crime, mas por vezes há coincidências incríveis que desafiam a credulidade humana. Envolverem-no num homicídio passional era qualquer coisa absurda! Jamais lhe passaria pela cabeça assassinar um homem por questão de saias. E também nunca pensara que Zeca pudesse ter a noção do seu arranjinho com Zirá. A polícia estava a especular com hipóteses propaladas. De todo em todo, o homicídio, pelos vistos, era um dado adquirido.
Dirigiu-se ao centro da vila e parou no escritório de Louise. Gostaria de discutir a situação com ela, tanto mais que o seu testemunho era parte essencial na defesa que ele teria de apresentar se persistissem em ligá-lo ao caso.
Não estava. Saíra de manhã, ausentando-se para Coimbra.
Amélia não fora trabalhar nesse dia. Ia a passar junto da casa dela quando, por estulta inspiração, resolveu bater-lhe à porta, para a cumprimentar. Não foi atendido. Mas ela estava em casa! A janela aberta na cozinha comprovava-o. Não insistiu. A ideia de a ver agora, era uma tolice chapada. Esquecera-se que fora ele próprio quem rogara a Louise que afastasse Amélia para longe do Laboratório. Além disso, com o género de irmão que Zeca tinha sido, e com o rumo incerto que as averiguações policiais seguiam, não era despiciendo imaginar que também ela estivesse sob investigação, na mira de fornecer reservados detalhes sobre a zaragateira vida do José Alcanena.
Regressou à sua propriedade, macambúzio, preocupado apenas com a prometida intromissão do investigador. Seria detestável que o polícia fosse para lá, bisbilhotar aquilo que não entenderia com profundidade, ocupá-lo em atitude maçadora com pérfidas insinuações, aborrecendo Hana também, perturbando-lhes a paz. — Merda para o Zeca... Nem depois de morto é amigável! — não se conteve ele sem repetir a frase várias vezes durante o caminho, irritado.
A situação era caricata! E tanto ele se dera ao cuidado de se rodear de condições para viver em sossego e poder dedicar-se, pacificamente, às suas experiências investigadoras, obedecendo a um imperativo iniludível de ampliar o conhecimento e manipulá-lo com criatividade!
Um caso destes poderia representar, como já estava a acontecer, uma exasperante série de abusivas interferências nas suas rotinas de trabalho, e ele nada poderia impedir, sob pena de a sua conduta se tornar de facto suspeita.
Quanto a Zirá, assim por imprevisto, enfim, deveria acrescentar, tomava consciência de que ela não poderia voltar a ser parte funcional no seu sistema de vida. E por razões próximas o mesmo teria de suceder com Amélia. Resultaria daí uma perturbação adicional. Habituara-se com elas a uma serventia cómoda, que lhe preenchia a necessidade física de com regularidade balancear o seu equilíbrio hormonal, ao mesmo tempo que mantinha acesa a chama do divertimento amoroso. Abdicando da intimidade delas seria obrigado a dispersar-se por outras paragens, o que sobretudo exigiria que vivesse mais atento a si próprio. Mas uma coisa era certa também, e talvez providencial: livrava-se de consequências embaraçosas... uma vez por outra não pudera deixar de assustar-se com o pensamento de que andava a sujeitar-se à possibilidade de engravidar alguma delas, sobretudo Zirá. Elas eram tão arroubadas e ao mesmo tempo tão descuidadas com os fastos da sua fertilidade!
Sabia que se desejasse recorrer a Louise, ou a Hana, as encontraria disponíveis e receptivas. Mas da sua parte, embora sentindo uma tentação latente, reconhecia a existência de uma inibidora barreira psicológica que lhas tornava de todo intocáveis se não por imprevisíveis circunstâncias.
Escrito de acordo com a Antiga Ortografia
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