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Podemos conversar?

Podemos conversar?
Eu estou confusa, sou confusa ou algo me confunde.
Eu não sei se amo ou se não sei amar. Talvez ame o Amor e não alguém.
Confesso-me ao Amor entre homens e mulheres.
Aquele que cedo se tornou um imperativo e uma busca inglória. Aquele a que chamo de O Encaixe.
Quem o tem, tem tudo, mesmo não tendo mais nada.
Quem "encaixa" arrepia, ruboriza e o coração bombeia como um beija-flor.
O mundo pode estar de cabeça para baixo, a dor aumentando que no momento em que estes olhos se encontram e esses braços se abraçam tudo se esquece. Está-se com e no Encaixe. A salvo!
Ora, eu nunca estive a salvo. Se nunca estive a salvo, se a minha pele não arrepia, nem ruboriza e o meu coração chora porque não toca a melodia do Beija-flor, como eu sei que O Encaixe existe?
Existe apenas porque quero?
Existe num plano que me impele a escrever como um lamento, um pedido?
Porque eu quero sentir o coração aumentando a velocidade. Eu sei que se o sentir toda eu me ilumino e a felicidade é, no momento, transbordante. Sei porque já senti isso, ainda que a pele não tenha arrepiado e o rubor não tenha aflorado.
Eu já senti a pele a arrepiar, assim com um toque proibido, não necessariamente atrevido. A proibição estava onde foi plantada e as suas raízes emitiram pulsões nervosas e a pele arrepiou. Queria mais e não podia e este querer e não poder, gerou tão deliciosa energia... Mas não era amor, era brincar ao proibido. Mais do que isso e tudo desaparecia levado pelo nevoeiro. Apenas ficava o vazio e a indiferença pelo Outro.
Um dia eu senti tudo! Ondas e ondas de calor, o coração colorindo a pele, a pele arrepiada até às entranhas. As estrelas brilhavam mais e o nevoeiro levou a cidade, apenas ficámos nós. Nós e a proibição. A noite não foi menos mágica por isso. Sentir, falar, rir, beijar tiveram um outro significado. Respirava um outro ar, como se respirasse pela primeira vez.
Era bom e doía. Era tão bom que eu tive medo que desaparecesse. Se tocar, desaparece - pensei. Não houve outro encontro, fugi, repeli-o. Doeu ainda mais, mas era bom, estava lá...
Tentei esquecer, mas não esqueci...
Entregando-me a outro, sem perigo, cuidei que o afastamento fosse eterno, assim como o preservar desse monstruoso desejo e desse amar tão perdido... Casei! Escolhi o entusiasmo por alguém, mas sem fogueira. Dedicação total, mas sem perdição. O ar era respirável e o sentimento crescia. Sentimento, sem pele arrepiada e sem Beija-flor! Ainda assim, a intimidade era um movimento crescente, assim como, em sentido contrário, vi diminuir a liberdade e o meu crescimento. A vida corria sem projecto e o afecto era precário. Deixei-me agredir e continuei a dar tudo por tudo… Até não ter nada, não ser nada e sentir nada.
Vinte anos passaram, duas vidas que se consomem enquanto se desdobram nos cuidados das duas vidas que geraram…
Olhando bem no futuro, aquele que um dia será presente, diria que estou com a pessoa com quem quero envelhecer. Mas no presente, o gesto entre um homem e uma mulher enche-me os olhos de lágrimas e o coração bate como se estivesse à espera da morte. Ainda assim, olho-o com um misto de carinho e medo.
Inquietude.
Inquieto-me pelo desejo imenso de um arrepio, de um rubor e do meu coração Beija-flor.
Eu estou confusa, sou confusa ou algo me confunde.
Eu não sei se amo ou se não sei amar. Talvez ame o Amor e não alguém.
Confesso-me ao Amor entre homens e mulheres.
Podemos conversar?

 

Publiquei, hoje, nos meus Blogues: PEAPAZ e no Olhar_Joanna

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terça-feira, março 22, 2011 - 14:43

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Ema Moura

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