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Resgate (parte 1)

(Texto revisto e corrigido em 2010.04.27)
Névoa densa sobe o prado isolado... melancólico anoitecer... no
crepúsculo em que não é dia nem noite, uma simples
sombra…não se define, uma fusão completa entre o real e o
imaginário.
Momento predilecto pelos amantes da fantasia, santuário onde a
imaginação se materializa.
Névoa densa, rasgada por uma desvanecida silhueta, a colina...
no topo da colina meio que disforme, uma pequena habitação
em pedra e madeira, verde de musgo e gasta pelo tempo.
Ao seu lado, recente jazigo... no seu interior uma alma cansada...

Ainda no chão... a manta... onde ela deitava o seu corpo, a sua
mente, onde ela imaginava e criava as suas fantasias, os seus
incomensuráveis contos de paixão e ardor. Manta, ainda com o
seu forte aroma de ensejos muitos, aroma de sua existência pura.
Manta em que ela nua languidamente deitava, devagar... seu
frágil corpo, fechava os olhos e transpunha-se para um mundo
de criação, seu mundo imaginário.
Ele... prostrado perante a sua magia, ficava tempos infindáveis,
apenas olhando… divagava sobre a sua imagem, a sua beleza...
esperando por histórias de encantar.

Ele… agora em pé de frente à manta, com o seu corpo cansado,
de ombros caídos, braços como que sem vida, distendidos e
flácidos, olhar quase que vago… olhar brilhante, não de vida
mas sim de vida em pranto, com lágrimas em explosão de dor,
angústia raiva e... culpa? Desvanecendo qualquer sentimento
puro, qual réstia de vida ou vontade.
Ergue os braços, levanta o rosto, de olhos inundados em
sofrimento, descola os lábios numa última tentativa de abrir a
sua boca e... implorar, pedir para dormir e não mais acordar.
No entanto, da sua boca não mais que gestos, sua garganta nada
diz, quase sem vida, vontade ou mera réstia de compaixão com
sua alma, cai de joelhos a escassos centímetros do altar da sua
amada, aquela manta, esse santuário outrora por uma alma doce
ocupado, agora da sua alma apenas ligeiro odor.
Atormentado, apenas geme, de sua boca... perturbadores sons
em penitência, sua culpa.
Lentamente, em movimentos pesados, estende-se sobre a manta,
adormece e fica... sonhando em tempo passado... do seu amor
em auge... da sua paixão tomada em seus braços. De quando em
tudo e nada acreditava, de quando para seu amor apenas
existia... uma intemporal inabalável sede de existir... ambos
como um só ser.
Agora... o seu amor, há já muito levado, de vida em morte, de
morte em nada, apenas o seu pesar, a sua culpa... persiste na sua
lembrança, afogando os últimos suspiros.

O dia surge, lá fora murmurinhos... de muitas, pequenas flores
rasgando a terra p'la natureza, esticando os finos caules de
encontro a melodiosos cantos, vindos do roçagar de pequenas
pontas de raios de sol, ao pintar a terra com cores do amanhecer.
Quase imperceptível... suspiros, do roçagar das últimas gotas de
orvalho em seus leitos, escorrendo de encontro ao solo, saciando
a sede de viver. A embriagante e doce monção, gerada p'la brisa
do acordar da manhã.

Atormentado pelos pequenos raios de luz que atravessam a
janela, como que estrondos de trovão explodindo de encontro ao
seu corpo ainda trôpego.
Levanta-se arrastando todo o seu pesar, movendo-se como um
enfermo desloca-se em direcção à janela, com os olhos
entreabertos, fundos e gélidos em toda a sua penitência, com as
pernas vacilando, pousa as cansadas mãos no parapeito da janela
e muito devagar, lentamente, encosta a cabeça ao vidro e fecha
os olhos.
Por entre pálpebras, languidamente, pequenas lágrimas brotam,
lágrimas d'angustia por mais uma vez... ter acordado.
(Fim da 1ª Parte)

(Texto colocado no site, antes da correcção:)
Névoa densa sobe o prado isolado... melancólico anoitecer... no crepúsculo em que não é dia nem noite, uma simples sombra… não se define, uma fusão completa entre o real e o imaginário. Momento predilecto pelos amantes da fantasia, santuário onde a imaginação se materializa.
Névoa densa, rasgada por uma desvanecida silhueta, a colina... no topo da colina meio que disforme, uma pequena habitação em pedra e madeira, verde de musgo e gasta pelo tempo.
Ao seu lado, recente jazigo... em seu interior uma alma cansada...

Ainda no chão... a manta... onde ela deitava seu corpo, a sua mente, onde ela imaginava criava as suas fantasias, os seus incomensuráveis contos de paixão e ardor. Manta, ainda com seu forte aroma de ensejos muitos, aroma de sua existência pura. Manta em que ela nua languidamente deitava, devagar... seu frágil corpo, fechava seus olhos e transpunha-se para um mundo de criação, seu mundo imaginário.
Ele... prostrado perante sua magia, ficava... tempos infindáveis, apenas olhando, divagava sobre sua imagem, sua beleza... esperando por suas histórias de encantar.

Ele… agora em pé de frente à manta, seu corpo cansado, de ombros caídos, braços como que sem vida, distendidos e flácidos, seu olhar quase que vago, olhar brilhante, não de vida mas sim de vida em pranto, suas lágrimas em explosão de dor, angustia, raiva e... culpa? Desvanecendo qualquer sentimento puro, qual réstia de vida ou vontade.

Ergue seus braços, levanta o rosto, de olhos inundados em sofrimento, descola seus lábios numa última tentativa de abrir a sua boca e... implorar, pedir para dormir e não mais acordar.
No entanto, de sua boca não mais que gestos, sua garganta nada diz, quase sem vida, vontade ou mera réstia de compaixão com sua alma, cai de joelhos a escassos centímetros do altar de sua amada, aquela manta, esse santuário outrora por uma alma doce ocupado, agora de sua alma apenas seu ligeiro odor.
Atormentado, apenas geme, de sua boca... perturbadores sons em penitência, sua culpa.
Lentamente, em movimentos pesados, estende-se sobre a manta, adormece e fica... sonhando em tempo passado... de seu amor em auge... de sua paixão tomada em seus braços. De quando em tudo e nada acreditava, de quando para seu amor apenas existia... uma intemporal inabalável sede de existir... ambos como um só ser.
Agora... seu amor, há já muito levado, de vida em morte, de morte em nada, apenas o seu pesar, a sua culpa... persiste em sua lembrança, afogando seus últimos suspiros.

O dia surge, lá fora murmurinhos... de muitas, pequenas flores rasgando a terra p'la natureza, esticando seus finos caules de encontro a melodiosos cantos, vindos do roçagar de pequenas pontas de raios de sol, ao pintar a terra de cores em amanhecer. Quase imperceptível... suspiros, do roçagar das últimas gotas de orvalho em seus leitos, escorrendo de encontro ao solo, saciando a sede de viver. A embriagante e doce monção, gerada p'la brisa do acordar da manhã.

Atormentado pelos pequenos raios de luz que atravessam a janela, como que estrondos de trovão explodindo de encontro ao seu corpo ainda trôpego. Levanta-se arrastando todo o seu pesar, movendo-se como um enfermo desloca-se em direcção à janela, com seus olhos entreabertos, fundos e gélidos em toda a sua penitência, com suas pernas vacilando, pousa as cansadas mãos no parapeito da janela e muito devagar, lentamente, encosta a cabeça ao vidro e fecha seus olhos. Por entre suas pálpebras, languidamente pequenas lágrimas brotam, lágrimas d'angustia, por mais uma vez... ter acordado.

Pedro Martins (Resgate parte 1)

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quinta-feira, abril 22, 2010 - 09:44

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