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Segurança domiciliar

Pedro pagou satisfeito o homem que instalou a cerca elétrica. Agora os ladrões, aqueles danados, que se lascassem tentando invadir sua casa, o tempo da safadeza estava acabado, ninguém mais tiraria uma colher de dentro da sua propriedade!
Foi para dentro orgulhoso, afinal, sua casa tinha cerca elétrica, era uma fortaleza, poderia ficar descansado, nenhum ladrão desaforado iria se meter a roubar-lhe os pertences.
Na semana seguinte Pedro resolveu fazer uma viagem com a família, nada muito demorado, apenas uma visitinha a alguns parentes que viviam no norte do estado. Como sua casa era guarnecida com cerca elétrica, nada precisava temer. Lá se foi então o Pedro, com o carro entupido de gente, despreocupado pelas estradas estaduais.
Naquele mesmo dia, por volta das dezenove horas, Ruela avistou a casa de Pedro. Estava apenas caminhando despreocupado pelas cercanias, sem pensar nada, apenas exercitando as canelas. Viu a cerca elétrica e logo sentiu uma pontada de interesse, estava precisando de um negócio daqueles para colocar em casa, para impedir que os malandros surrupiassem suas galinhas, coisa que já haviam feito mais de uma vez.
Com a melhor das intenções foi tocar o interfone, iria apenas pedir ao dono algumas informações sobre como conseguira a cerca elétrica. Tocou várias vezes, mas ninguém atendeu. Ruela olhou a cerca, apreciou aquele engenho durante um tempo e, finalmente, decidiu que estava na hora de ter uma solução como aquela. Foi então rapidinho para casa, precisava de algumas ferramentas e de um veículo.
O relógio marcou zero hora quando Ruela conseguiu arrancar toda a cerca elétrica de seu muro original. Agora ela iria defender outro território. Ele estava satisfeito, entender de eletricidade servia para alguma coisa, ali estava um exemplo dessa verdade, sempre tivera certeza quanto a tal coisa.
Ruela enfiou toda a parafernália dentro da carroceria de sua velha Chevrolet. Assoviando uma canção qualquer, dirigiu rumo à sua casa.
Semanas antes, Ruela havia comprado um cachorro e colocado para vigiar suas galinhas. Era um cão de raça, nada parecido com os vira-latas que infernizavam os passantes nas ruas. Um bicho bonito, com cara de bravo, bem grande e esperto. Estava satisfeito com o animal, apesar de ainda pensar que precisava de um reforço extra — a segurança é sempre algo que não convém negligenciar. Mas enfim, o cachorro havia lhe custado umas cinqüenta galinhas — mas ainda estava no lucro, pois esperava que o bicho protegesse muitas galinhas durante muitos anos. Enquanto Ruela surrupiava a cerca elétrica de Pedro, Marcão passou bem pertinho da casa do primeiro e notou o latido potente do cachorro. Ele gostava muito de cães e, além disso, ficara sabendo que um camarada do centro — que possuía cerca elétrica em casa, mas mesmo assim queria se sentir ainda mais seguro — estava querendo um cachorro grande para proteger sua propriedade. Sem pensar três vezes, verificou se tinha alguém em casa. Constatando que somente cachorro e galinhas habitavam a residência no dito momento, Marcão foi para casa correndo, apanhou uma coleira, uma corrente forte e um bom pedaço de carne. Voltou correndo ainda mais ligeiro, arrebentou o cadeado do portão, usou o pedaço de carne para conquistar o cachorro e, sem muita demora, levou o bicho para casa – e mais cinco galinhas de brinde.
Quando Ruela chegou em casa ficou possesso, nunca vira na vida alguém roubar cachorro bravo. Como é possível alguém roubar um cão de guarda?! O bicho não serve justamente para guardar o que não se quer que seja afanado? O mundo vai acabar mesmo, pensou. Naquele resto de noite nem dormiu, tamanha era sua fúria.
Pedro voltou de viagem e deparou-se com sua casa sem cerca elétrica. Ficou tão enfurecido que ligou para o homem que a havia instalado, xingou barbaridades, mas só ouviu um “vai pentear macaco” dito de forma muito desaforada. Sua raiva foi amainada quando, à tardinha, apareceu um sujeito vendendo um cachorro de raça, um bicho com cara de bravo, um animal que inspirava respeito. Comprou o bicho e sentiu-se mais seguro, afinal, quem ousaria roubar um cão de guarda?
 

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quinta-feira, dezembro 16, 2010 - 23:47

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