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Tudo Acaba - Parte I
PARTE 1
Adães abandonava Santa Clara corria já o quinto ano deste século insípido. Estava farto daquela terra, daquelas andanças de estupor sem vontade própria, daqueles “dá cá mais uma palha para eu viver que tenho de encher o calendário com dias felizes”. Que tinha para lhe oferecer uma vida assim? Nada!
Nesse intento permitira que a sua vida ganhasse “vida própria”, e que ela por si mesma prosseguisse o seu caminho do viver, sendo ele, mero espectador daquilo.
E digo aquilo porque a sua vida era assim mesmo. Uma “coisa”, um conjugar constante do pretérito imperfeito do verbo viver, uma farpa mal afiada que ele trazia espetada na alma. Adães era um alvo a abater, ele próprio trataria disso. Já lá vamos.
Apesar da apatia tinha o sonho fugaz de se tornar escritor, (pobre idiota)! Mas as memórias conjuntas da sua vida, essa “coisa” amorfa que ele deixava seguir com rédea solta, não chegavam para tanto. Padecia de um mal ainda por rotular que era o de ser um “Hominus Apaticus”, um primo malcheiroso e afastado do “Hominus Vivus”, - perdoem-me o latim aportuguesado, mas para o efeito ilustra bem o ponto de vista.
Nascera, crescera, e morria já tendo apenas alcançado uma trintena de anos. Fenecia naquela terra maravilhosa á vista de todos os outros que melhor do que ele, viviam as suas vidas. E a sua a passar-lhe ao lado, poucas ou nenhuma experiência de vida tinha para contar. Sobre o que haveria ele de escrever?
Este rumo de viver tornara-se em boa verdade intolerável para si. Demasiado padrasto para aguentar. O dinheiro não lhe chegava, nunca chegava, o trabalho tolhia-lhe a moleza do cangote, e fosse ele qual fosse, dizia ser sempre um quebrantar da sua alma selvagem. Amestrava-o da mesma maneira que um domador de circo tornava manso um leão já agastado pelo chicote.
Sempre lhe restaria o amor. O busílis era que em amores cansados, gastos, caducos, Adães não se dispunha a apostar o resto dos seus dias. No fim de contas, fazia-se passar por um pobre coitadinho. Um irritante pedaço de cotão que se incrustava no umbigo da vida. Dinheiro, precisaria? Amor, bastar-lhe-ía? Nunca! Era um ser insípido sem dúvida, e nunca passaria disso.
O esquiço mal acabado de um romance presunçoso, era tudo quanto lhe restava da ânsia que tinha de colocar em papel os tormentosos caminhos da sua existência. Como não os vivia em pleno, inventava-os. E assim deu forma ao seu primeiro amontoado sério de páginas, às quais, em puro desespero de causa decidiu chamar: O meu Romance. Tendo já feito duas patéticas tentativas, em duas mirabolantes histórias de faca e alguidar, sem que estas revelassem qualquer talento, ou sentido. Teimava em insistir naquele rumo da escrita apenas pela insistência dos amigos, estes próprios insistentes em rotula-lo: “O Tolstoi da Ramada”.
Dois contos estranhos, pouco mais. Que havia martelado em constante embriaguez numa velha máquina de escrever. E que ainda hoje guarda como se de um tesouro se tratasse. A máquina, não os contos. Estes desbaratou-os num canto obscuro da gaveta das meias, para que ninguém nunca mais lhes pussesse a vista em cima. Todavia, estas linhas doentes eram e continuavam sempre a ser tudo aquilo que detinha até então para mostrar carteira profissional de escritor.
Granjeara a fama de o ser, antes mesmo de conseguir sequer perceber o que aquilo era, ou quanto muito de ter publicado fosse o que fosse. (Coisa que nunca veio a suceder.)
Bastava-lhe por ora o reconhecimento dos amigos que o olhavam com outros olhos, pelo simples fato de ter conseguido escrever um texto com mais de vinte páginas. Era uma pequena fraude, um semi-poeta de quadras de S.João, mas não se lamentava por isso. Persistia o incentivo das vozes amigas, e ele regozijava-se glutão.
Agora com o evento deste novo romance, “O seu Romance”, parecia ter encontrado na escrita, um sentido mais verossímil de se sentir homem. E mesmo assim teve o desprendimento boçal de tudo remeter a um canto perdido no seu escritório. Romance, contos e poemas algaraviados. Todos abandonados à perdição de um destino inglório, nunca mais alto do que a própria merda que eram.
Mas não foi este o fim dos seus sonhos de ser escritor. Adães haveria de emergir mais forte das experiências que acumularia, e tudo, por mais insignificante que pareça, é parte fundamental do estojo de trabalho de um escritor. Essas e outras trivialidades, constituiriam a cabala da sua história, e por fim, passadas em papel o seu verdadeiro Romance. Também já lá iremos.
Por ora tinha de arranjar um caminho certo dali para fora. E este pensamento peregrino, encastrou-se-lhe firmemente no cérebro, a ideia da ferida fina e da dor aguda de continuar se arrastando por uma vida que nunca o satisfazia, não foram um por de menos na ajuda à sua decisão.
Conhecia-se bem. Tinha suficiente covardia para não o fazer num impulso de bravura. Levou nove dias exatos nos preparativos para a espontaneidade. E finalmente quando teve de o ser esqueceu-se, e agiu automaticamente como que estando já pré-programado para isso. Fosse como fosse, tinha de ser agora.
Embalou todas memórias que conseguiram ali caber, num saco remendado, daqueles que se usam nas trincheiras da tropa. Alguns livros dos quais não se conseguia desapegar, um par de calças apenas, e três camisas. Roupa interior aos magotes, só para não dar parte de suíno rançoso. Era estranho pensar que deixaria os seus (livros) para trás, e levaria os dos outros, mas Adães apesar de bronco, sempre teve bom gosto nos livros que lia.
Encaixotou-os muito juntinhos e atafulhados numa mala de cartão e preparava-se para os levar a todos. No entanto, vinte passos depois arrependeu-se, e voltou atrás para os deixar no fundo do vão de escadas do prédio. Uma mensagem escrita a esferográfica ficara abandonada no topo da mala, - São teus agora. É a melhor parte de mim que te posso deixar. – Escreveu ele para a mulher. Via-se nitidamente que lhe custou tomar essa decisão. Ela compreenderia.
Levantou todo o dinheiro que ambos tinham no banco. (que nem para uma passagem aérea lhe bastaria). Estacionou o carro na garagem despedindo-se dele pousando ao de leve a mão por sobre o capot, deu dois retornos de vista com o olhar, e foi-se, Puf!.
Nenhum bilhetinho de despedida, nenhuma patética tentativa de inspirar pena ou raiva naqueles que abandonava, filhos e mulher, pai, irmãos e sobrinhos, uma mão cheia de bons amigos. Todos queridos em tempos, sombras agora. Imagens ténues que esperava que não o assombrassem por dias vindouros.
“O frio aperta, na manhã submersa, entre a neblina com o céu a nascer”, foi a mais vívida ideia que conseguiu formular no momento da partida, rídicula, sem sentido que o definisse, era tão somente a letra de uma música, e em nada lhe adicionava à razão deste acto, todavia, para si, era a soma de uma vida que não lhe chegava, e que se exibia prazentosa na sua frente. Nem sequer era grande fã dos Xutos!
Não lhe bastava nada, e por isso partiu, não se acomodava a ninguém e por isso deixava-os, não tinha pudor, nem ética, nem moral, nem amor, nem sequer réstia de sentido de humor. Não tinha nada de tudo isso, e por isso partia. Porque não somos nada, se não o mostrarmos. Ninguém nos permite viver, se não o fizermos. Era este o seu registo de todos os retalhos da vida que para trás deixava. Adães, sabia isso melhor do que ninguém. Aprimorou uma existência inteira de não existir, e sabia que isso tinha um preço, mas como nem sequer se resignaria a paga-lo, foi-se embora, sem deixar gorjeta.
Aquando da morte de sua mãe, contemplou finalmente a inutilidade de tudo aquilo. Foi a gota de água gelada no Oceano de uma vida inóspita, deserta.
Apostado em ser bom homem, bom pai, bom marido, bom filho, bom amigo, pensou nas consequências de prosseguir uma vida em que não acreditava, e a simples ideia de o fazer aterrorizava-o.
Com 33 anos apenas, a idade de um Cristo moribundo, já sentia o peso do cansaço dos anos nos ombros ossudos, a podridão apoderava-se de si, como se de um cadáver se tratasse, e o quotidiano entediava-o de morte.
Era este quadro que mais do que outra coisa, lhe fazia germinar insistentemente, a conspiração que engendrava no segredo do seu íntimo. Ir ou ficar? Ocupar-se em viver ou em morrer?
Nenhuma dúvida lhe subsistia, empenhara-se em viver. A fuga, era agora, o caminho da vida.
Foi mais forte do que esperava, pois decerto nunca esperaria ter a coragem de o fazer. Tinha-se estabelecido num nicho quente que era o combustível da sua existência. Qual lapa ranhosa, agarrara-se forte, áquela mulher, há sua mulher, sua esposa, Lurdes, e mesmo que por ela não vivesse, ás suas custas sobrevivia, pois ela era a fonte principal de rendimentos daquele lar, não era portanto o Carvalho orgulhoso que sempre desejara ser, mas a hera parasita, e todos os seus caprichos eram por ela satisfeitos, pois ela amava-o.
Que coisa terrível para se dizer, mas era verdade, e nunca se enganava deliberadamente nos pensamentos que tinha, era um verme parasita, mas era amado.
Ela não! Era pura e dedicada, amava-o pois, amava-o com a força de um primeiro e único amor, do homem que a fez ser mulher e mãe, uma e duas vezes, e com o desprendimento sincero, de alguém que por amor verdadeiro tudo suporta.
Adães sabia-o, sabia-o bem. Porra, sabia-o tão bem que por isso também partia agora. Porque não suportava o peso incomensurável dessa vergonha. Não ignorava o poder do amor, mas tinha plena consciência de que para se aprender a dar valor a alguma coisa, é preciso primeiro destruí-la.
Para se sentir a falta que uma perna faz, é preciso parti-la e ficar privado dela. Para sentirmos a falta que uma Mãe faz, (e faz tanta.) foi preciso que ela morresse, e com o amor não é nada diferente, é igual.
Despontava o Outono de 1995 quando eles se casaram. Tinham já vivido uma pré-vida juntos, um longo e difícil namoro, a Guerra metera-se pelo meio, como um interlúdio violento mas necessário a um começo de vida que Adães desconhecia a forma de realizar, mas, como haveria de ser de outra forma, com Adães?
Ele abandonava-a agora, finalmente, depois de já o ter feito mentalmente, vezes e vezes sem conta, mas nunca o fazendo a sério, por covardia, por medo, por comodidade da vida anódina que ela lhe proporcionava. Isso sim, era a parte realmente terrível que ele desesperadamente tentava ocultar.
Como poderia ele deixar aquilo tudo? As centenas de filmes em DVD e VHS que acumulara ao longo de tantos anos, verdadeira paixão da sua vida, o carro e a casa confortável, o dinheiro no final do mês e as idas abundantes ao supermercado onde nada faltava? Como poderia ele, deixar para trás aquele ninho quente e aconchegante? Aquela mulher que nada lhe negava? Aqueles filhos maravilhosos que só alegrias lhe davam? E porque não?
Tão simplesmente o poderia, como o fez. Deixou-os, e fechou a porta atrás de si. Sentia-se orgulhoso agora. Havia sido sem dúvida, o mais corajoso acto de toda a sua vida banal. Redimia-se por fim em coragem, por ter abandonado o seu melhor amigo, há tantos anos atrás, na sua gloriosa juventude, enquanto este era cruelmente espancado na sua frente por um desconhecido que os apanhara aos dois no lugar errado na hora errada. Má sorte para o Bruno, seu grande, grande amigo, que não se apercebera a tempo daquele punho cerzido de raiva que descia sobre si, melhor para Adães, que conseguira escapar.
Redimiu-se também, por ter abandonado todos os outros amigos, e colegas, e conhecidos, e se ter fechado para sempre numa concha dura de mutismo. Também se alegrou, pela coragem de agora, que o elevou mais alto, pensou, aos olhos de sua Mãe morta, sabia que era mentira, isto que pensava, mas alegrou-se ainda assim.
Mas não se preocupou, deixar tudo para trás, era uma benesse, abandonar aquela terra, era um bem maior, um golfo quente de satisfação plena, percorreu-lhe o corpo enquanto batia com a porta. Voltou a abrir-la, uma e duas vezes, como que a certificar-se de que a fechava, que partia mesmo, e só na terceira vez é que jogou o porta-chaves lá para dentro, deixando que o baque surdo pusesse fim a quaisquer dúvidas que ainda persistissem na sua mente.
Tantos anos e tantos erros, haviam passado e cometido, tantas esperanças logradas, tantas más decisões. Seria esta uma delas?
Adães, era a personificação do nada. Era como se via ao espelho, e contemplava-se lá de baixo demonstrando o desgosto de se ter tornado assim. Mas como? O que o teria feito ser desta forma? Não seriam de todo os genes verdadeiros que tinha herdado de seus pais, estes estavam acima de quaisquer suspeitas. Então o quê? Que mal era esse que vivia dentro dele?
Teria muito tempo para dissecar essa dúvida dilacerante, pelos caminhos errantes da estrada em frente que o esperava.
Levantou um vento norte, cortante e frio, que bruxuleou o pirilampo do seu cigarro no negrume imenso da noite, Adães, levou a mão ao peito molhado, e depois alçou-a em concha ao nível do rosto, protegendo o cigarro, o seu último enfim, portanto merecedor de ser convenientemente fumado. Sentia-se um pouco ridículo, assim, com as ondas míudas que lhe íam batendo nas ancas, e a mão erguida em sentido de aprumo, todavia, nestes momentos finais, o ridículo é o pouco mais ou menos que de todo interessa. Votado a que o seu cigarro, de mais a mais, o último que fumava, chegasse ao fim, reduzido ao filtro amarelado, lutou estoicamente contra o vento que fazia erguer em crescendo as ondas que já lhe batiam nos ombros, e por cada passa de fumo que tirava, contava os segundos prolongados daqueles últimos momentos de prazer.
Tinha já, incontáveis vezes, tentado deixar de fumar, mas o pobre vício, um entre muitos que retinha, puxava-o sempre á espiral nefasta de névoa cinzenta que fazia bufar por entre os lábios. Chavão ou não, a necessidade de o fazer, sobrepunha-o, era mais forte, e por cada vez que determinava acabar, andava ás voltas, até acender o próximo cigarro.
Quando teria começado este desejo insaciável? Lembrou-se, que um dia tinha sido um estudante de abalada para a Universidade, corria o ano de 1990, era ainda um tipo cheio de vontades, embebido em sonhos de um futuro risonho e próspero, a ilusão de viver alimentava-o, era um pobre coitado, um idiota desmiolado, e por isso erguia-se todos os dias com a força anímica de acreditar que poderia ser alguém importante, ou talvez fosse apenas um puto que não fazia a miníma ideia do que andava a fazer mas que dava gosto vê-lo assim, dava!
E foram esses tempos de vivacidade, de constantes descobertas, que o impeliram para os vícios. Não é nenhuma novidade, que um jovem desperto para a vida, longe de casa, e do mundo que sempre conheceu, virgem e ansioso por descobrir, não tivesse senão latente esse desejo imenso de experimentar, de ultrapassar as fronteiras que sempre lhe haviam sido impostas ou negadas.
Adães, era então, um jovem imberbe de 18 anos, e nem sequer o calor do abraço nú de uma mulher havia conhecido. Fumar, foi apenas o destilar tépido de 18 anos de ternura e inocência, que desejava matar. Queria ser homem, e os homens fumam.
Mas estes são pequenos fragmentos do seu passado, sinto que de novo, confundo e entorpeço a mente desperta do leitor, com estes relatos algaraviados. Voltemos ao presente. Porta batida, saco mal amanhado com alguns pertences na mão, perna dorida, Adães, caminhava agora com passos decididos, na sua fuga.
Arremessou os pensamentos para o fundo do cérebro, enquanto calcorreava a Rua da Agonia na debandada da fuga, ao fundo desta rua, vindo do cais, fica a viela de S.Lourenço, espécie de corredor estreito e sombrio, que liga a Rua da Agonia á Rua do Cais Velho. Esta viela tem trinta passos de extensão e dois de largura, quanto muito, mas tinha um valor quase místico para Adães. Adorava aquela viela, quase como se se tratasse de uma pessoa, mais ainda. O pavimento de lajes pardacentas, gastas, desconjuntadas, ressumava uma humidade ácida, mas, naqueles dias lindos, quando o Sol ardente dardeja sobre as ruas, uma claridade alvadia, elevava-se daquele lugar, dando-lhe um sentido de existência. E por isso, ele apreciava imenso caminhar aí nesses dias, fazia-o sentir-se vivo, envolto na luz e nos cheiros, como se fosse o único homem que percorria aquele pavimento sujo de terra e esquecimento.
Redobrou-se em alegria, ao percorre-la no dia da partida, até que um rugido de roldana em seco, que acabou por degenerar num ataque terrível de tosse, o fez voltar de novo á realidade. Tendo tossido, com a garganta esfolada por um pigarrear profundo, escarrou para as lajes modorrentas da viela, e já sentiu a saudade dos seus 18 anos, quando fumava para ser homem, lamentando-se por se ver agora, quase quinze anos em cima, cara chata, de uma palidez lívida, pintalgada de manchas rosas de vícios que deixou correrem mais rápido do que a vida, pescoço esgalgado, barrigas das pernas para fora, com braços que mostravam mãos quadradas que lhe caíam até aos joelhos, de resto, já nem forças tinha para galgar os últimos metros da sua viela querida, faltava-lhe o ar que desdenhara anos antes, quando quis ser homem.
- Que me sucede? - Perguntava Adães. - Estremeço por tudo e por nada. Desfaleço por dentro como se estivesse a bordo de um navio que balança. Tudo se tornou tão intenso e tão vivo! E eu não. -
Uma frase musical, pensou, uma grande e imensa paneleirice, digo-vos eu, pois ninguém fala assim nos dias que correm, nem mesmo de si para si.
Queria tanto acreditar na nossa relação, assegurar-te de que vou estar sempre aqui, mas não te posso dar essa certeza.
Faz o que tiveres de fazer – Murmurou Lurdes de rosto cabisbaixo – Sempre o fizeste de qualquer forma.
O que eu sinto por ti não mudou, aliás acho que nunca mudará. Sou eu que estou diferente. É em mim que reside o medo da entrega, a devoção e compromisso que te prometi no dia do nosso casamento, é por minha causa que isto se desmorona.
E com “isto”, referes-te a quê?
Eu.. – A sua prosaica vontade de dilatar o dircurso ficou-se por ali.
Enquanto subia já os degraus do autocarro que o levaria para longe, atacou-o uma última dúvida. Teve consciência clara de que floreara em demasia o seu discurso, para impressionar o ego, ou talvez para enganar a dúvida. Já no autocarro, enquanto se sentava no banco ao lado de uma senhora de feições enigmáticas, que trazia encostado ao ouvido, um pequeno rádio a pilhas, sentiu a garganta a apertar-se-lhe, e um vômito inusitado a querer surgir. Tal era o medo latente que lhe atormentava o peito, que Adães, sentiu tremores físicos, propriamente físicos, a trespassarem-lhe o corpo de cima a baixo. Sentou-se em tremores, ao lado da senhora que suspirava e gemia como alguém que se debate num grande sofrimento, e assim se manteve durante toda a viagem, o rádio colado á orelha, e aqueles suspiros profundos, vez em quando.
Não precisavas de morrer para te afastares, bastava pedires-me! Eu deixava-te. De tanto te amar, eu deixava-te, para que fosses feliz, não era preciso morreres para tal. E agora, Alfredo, e agora? Agoras já és feliz?-
Inadvertidamente soçobrava a consciência entre o que lhe acontecia então, e o que lhe acontecia na memória.
Durante o primeiro quarto de hora, ele ignorou-a, já de si tremeliquento e inquieto, mas a mulher, naqueles prantos, parecia ter o propósito aparente de afligir qualquer um que a notasse assim. Pois sempre que se lhe apercebia estar a ser observada, redobrava a expansão da sua dor inquieta, de um soluço abafado, para um trágico e prolongado suspiro de dor, inflectido pela sua voz.
- A senhora desculpe, - disse Adães. - Mas está tudo bem consigo? Não consegui deixar de me aperceber das suas tremuras. Sente-se bem?
A mulher, sem sequer desgrudar o transístor do ouvido, deixou apenas escorregar um olhar de soslaio na sua direcção, e grunhindo mais um gemido que outra coisa, assegurou-lhe com o olhar que estava tudo bem, continuando a sua ladainha.
Ao fim de outro quarto de hora, e não podendo suportar mais aquilo, Adães, voltou a reafirmar:
- Tem a certeza de que está tudo bem minha senhora?
A estranha mulher, que por essa altura parecia ter entrado num coma profundo, deixou correr um anjo pelo céu, e com um ar de total satisfação, levantou-se bruscamente, gritando, para todos quanto viajavam no autocarro: - Fumo Branco. Saiu fumo branco, e os sinos tocaram. Aleluia, aleluia, já temos Papa!
Toda a gente, começou a bater palmas, e a agradecer a Deus, a benzerem-se, e a murmurarem rezas que de tão rápidas, nem Deus as conseguiria decerto ouvir, quanto a Adães, torceu-se no banco, e fez por esboçar um sorriso de estômago vazio, que tanto se lhe dá como se lhe deu, respondendo ao olhar eufórico de alegria da mulher, que erguendo o rádio no ar, parecia agradecer aos céus aquela notícia.
Para ele foi, a principio, um esforço tênue de perspicácia, deslindar aquilo tudo, até que se lembrou, da morte recente do Papa, João Paulo II, e tudo encaixou.
Apesar de se ter também, afastado, havia já muitos anos, dessas coisas mais espirituais, tinha grande afeição, pelo defunto Papa, o qual considerava, um excelente e arguto comunicador, mas sobretudo uma boa pessoa. Tinha vivido toda a sua vida, sobre os auspicíos do seu pontificado, e nada de importante havia nesse facto, mas retinha, a importância da perda daquele homem, para a humanidade em geral, católicos ou não, crentes ou agnósticos. Todavia, quis o destino, que estas coisas, sejam sempre desviadas até ao cúmulo do absurdo. Vivia-se numa época de exageros, e a morte do Papa, o seu funeral, e a atenção atribuída, muito embora merecida, pareciam-lhe mais um carnaval mediático, do que uma sincera demonstração de pesar, coisa que o repugnava.
A visão daquela mulher, tão compenetrada na espera de saber o resultado das deliberações do conclave dos cardeais, apenas lhe reforçou o que já sentia. A ideia da morte do Papa, fazia-o pensar na morte, e trazia-lhe sobretudo a figura da sua Mãe, cuja morte trágica, havia antecipado a do Papa, em apenas alguns dias. Fez um esforço contido para não quebrar ali mesmo, num pranto de lágrimas. A sua força, porém, não chegaria para tudo. Ir embora, e lembrar-se da morte de sua Mãe, naquele momento, seria de facto demasiado. Tinha a cabeça a dar voltas, enquanto já se aproximava do término da viagem. E num brusco e inusitado lampejo, desatou mesmo a chorar. A mulher, a seu lado, ao vê-lo assim, não pode senão sentir compaixão por aquela criatura cristã, que, quis ela crer naquele instante, não poderia ser outra coisa que um sincero e devotado colega católico.
- Desculpe-me, - atalhou Adães. – Eu não queria ficar assim sabe? Pensei que me ía aguentar, mas foi por demais. É que acabei de abandonar a minha mulher e os meus dois filhos, e depois com a morte do Papa, lembrei-me.. – O olhar aterrorizado da mulher sobre si, abafou-lhe completamente toda a linha de pensamento. Naquele instante ela devia despreza-lo tanto, tanto, que até saiu do autocarro antes da sua paragem. Ele apenas pode trautear um tímido pedido de desculpas antes que ela voasse porta fora.
Assim que pôs um pé fora do autocarro, não mais se conteve, e o vômito aguentado, saiu por fim, prazentoso. Acabou “virando o barco”, num nauseabundo cesto de lixo na rua.
Havia chegado ao Porto, finalmente. Nunca lhe pareceu tão longa a viagem, como agora, e além disso sentiu-se perdido, não obstante ter trabalhado tantos anos naquela cidade, esta, parecia agora oprimi-lo num aperto claustrofóbico que lhe tirava o ar.
Vagueou ao acaso pelas ruas, sem sentido definido. Parou perto da porta de uma igreja, e decidiu entrar, tarde que fosse, os templos tinham a vantagem de nunca recusar as ovelhas extraviadas do rebanho, e por lá parou, sem ter ideia do que fazia.
O seu olhar foi atraído pelas escadas que conduziam a um púlpito. A luz escorrendo do alto, fazia brilhar os painéis de cores vivas dos vitrais cimeiros, revelando-lhe o desenho de um santo, sendo este trespassado por uma lança.
Mirando atônito, esta visão de uma beleza ímpar, de volutas brilhantes de azul, branco, vermelho e dourado, começou a murmurar a palavra “morte”, muito baixinho, como a ladainha de uma reza, até o significado da palavra se desvanecer, se tornar noutro, e nada mais existir senão o seu olhar fixo na superfície luzidia.
Graças à libertação que tal vazio lhe proporcionou, pode contemplar a revelação que lhe surgiu depois.
Um padre, já idoso e enrugado, que por ali deambulava, apressado no passo de saída, após a missa das sete, não pôde ficar indiferente àquela cena. Por essa altura, e ainda sem que se apercebesse do que fazia, Adães, já se tinha ajoelhado no sopé das escadas, ficando exposto ao fulgor da luz, que lhe banhava o rosto, concedendo-lhe um ar de sincero penitente. Chegou mesmo a soerguer a mãos lamentosas, juntando-as em adoração, e as cores alvadias perpassadas de luz, fundiam-se agora no seu rosto pálido de pecador, formando um halo em seu redor.
O padre, reduziu a passada, e finalmente estacou, perante tal cena. Benzeu-se três vezes, como se estivesse a presenciar um autêntico milagre. Não conseguia discernir o murmúrio que Adães entoava, mas sentiu a força daquele quadro invadindo-lhe a alma de homem casto da igreja, ciente que aquele momento por si só, o recompensaria por anos e anos de fé devota. Tinha a certeza absoluta do poder beatífico daquele homem que observava, e não se conteve em lhe dirigir a palavra.
- Bem aventurado sejas, menino homem que aqui me surges. - Ao dizê-lo, ajoelhou-se a seu lado, mostrando estar completamente absorvido pela luz angélica do jovem.
- Bendito sejas, por me dares a ver o teu emissário, ó bom Deus! - Adães, só se apercebeu da presença do velho pároco, quando este avançou tocando-lhe no casaco.
- Desculpe. - disse. - Desculpe-me senhor padre, não queria perturba-lo. Só entrei aqui, porque pareceu-me tão bonita a luz que vi, que não consegui resistir.
- Meu filho. - Diz o sacerdote. - Nada tens que te desculpar. Tu mostraste-me o caminho para a salvação. Em ti, consegui ver novamente a luz do Senhor depois de tantos anos de sacerdócio, e nada há de mal nisso. – Achou exagerado o que disse, mas manteve-o.
- Eu! - Afirmou Adães, muito admirado com o comentário do padre. - Mas não, senhor prior, eu não! - Exclamou. - Eu sou o pior dos pecadores. Nunca poderia ter feito isso.
- Deus surge onde menos se espera, meu filho. - Respondeu o padre. - E hoje ele escolheu-te a ti. Os seus caminhos são sempre misteriosos- Adães, nem queria acreditar no que ouvia. Tendo se afastado da religião à tantos anos, não podia agora, ser, fosse o que fosse, de Deus. Tinha muito passado de pecado atrás para lhe conceder um bilhete de ida direitinho para Inferno se se deitasse a acreditar nessas coisas agora. Mas o estupefacto padre insistiu.
- Tu és a luz divina que toda a minha vida, esperei ver. Deus mandou-te hoje aqui, para eu sentir-me afim com o novo Santo Padre, agora eleito.
- Mas este gajo está completamente doido. – Pensou! – Logo a mim, que raio de sorte sair-me um padreco pírulas na rifa! -
- Está enganado – Prosseguiu Adães. - Eu, não posso ser o que em mim vê, é que..bem, sabe, eu sou um homem mau, tão mau...irremediavelmente mau, que entrei aqui, hoje, creio, por não ter mais para onde ir. Sou um fugitivo em marcha, nada em mim inspira bondade. - Acabou por ficar nervoso com aquilo, levantando-se num ímpeto brusco, afastando-se do padre.
- Se é abrigo que procuras, pobre alma perdida, - retorquiu o padre. - Eu ofereço-to. É o mínimo que posso fazer. Pão, um tecto, um pouco de compreensão...
- Não! - Continuou Adães. - Não procuro nada. Nem abrigo, nem consolo, nem paz. Não sou merecedor de nada disso. Deixe-me estar, por favor. - Exclamou por fim.
- Olha, digo-te com toda a sinceridade, depois da morte do nosso grande Papa, - e ergueu os olhos ao céu, benzendo-se ao dizê-lo. - eu quase que caí na desdita de deixar de crer em nosso Senhor, parecia demasiado doloroso, continuar a ter fé, depois de tão grande perda. Mas vi em ti, ou por ti que seja, um sinal de confiança que me impeliu a continuar a partir de hoje. Entendes? Olha para mim, rapaz. Eu estou velho, caduco. Se calhar é mesmo isso que estás a pensar, não? Raio de velho gágá, não me importa nada do que tenhas feito, podes ser até o mais ignóbil dos homens, hoje ensinaste-me de novo a acreditar, a ter fé, e por isso te agradeço, seja lá quem fores, mau ou bom, não interessa, Deus escolheu-te a ti.
- Mas ouça padre.. –
- Não, não. Nem penses sequer em dizer mais nada. Podes sair agora mesmo por aquela porta, e eu nunca mais te ver na vida. Mas não importa, percebes? O que está feito, está feito. E não será desta massa que é feita a vida? O teu papel está cumprido. O que Deus designou que tu fizesses, tu fizeste-o. –
- Deus! – Exclamou Adães, num grito esganiçado que ressoou pela nave da Igreja. – Deus, nunca quis que eu fizesse nada. Se o quissese tinha-me feito num barro mais moldável, em vez desta massa de merda..perdoe-me padre. –
O Sacerdote olhou novamente para ele com um brilho renovado dos intensos olhos azulados. – Tu sabes que eu estou certo. A vida aguarda-te para que faças grandes coisas, e eu tenho mais do idade para me deixar levar por luzes e falcatruas. O que eu vi aqui hoje, estampado no teu rosto, foi nada mais, nada menos, do que o dedo certeiro de Deus! -
Foram longos momentos que intercalaram o diálogo destes dois homens, pois Adães sentiu-se confuso com a confissão do clérigo. Poderia ele, ateu por preguiça, agnóstico, por necessidade, ter criado tal impacto, num homem de Deus? Num verdadeiro paladino da fé? Pareceu-lhe inverossímil que tal coisa acontecesse. Contudo, este momento mais do que outra coisa, fez-lhe reavivar a epifania que acreditou experimentar, ainda à pouco, quando mirava a imagem do santo mártir no vitral.
- Está bem, pode ser, senhor prior. Certo ou errado, eu aceito. Um tecto para passar a noite, e uma sopa quente viriam a calhar. - O padre, levantou-se lentamente como se acordasse de um sonho, sacudiu o pó da sotaina, e assentiu com um sorriso de bonomia.
Encaminharam-se, para um desgastado Renault 19, parqueado á porta da igreja, e partiram para a residência do padre. Nem uma palavra sequer foi proferida durante todo o percurso. Adães fechara-se no labirinto dos seus pensamentos, e quando assim o fazia, era como se não fizesse parte deste mundo.
Até que o padre rompeu o silêncio.
- Tento lembrar-me todos os dias de uma coisa boa que me tenha acontecido. Pelo menos uma por dia, e já me faz continuar. - Adães manteve-se imperturbável, nem um músculo do seu rosto concêntrico se moveu em resposta. - Mas que cabeça a minha. - Prosseguiu o padre. - Nem sequer me apresentei. Eu sou o Padre Chuvarria, mas que tolice – atalhou com um sorriso. - Padre Chuvarria! Isso já bem o senhor sabe que eu sou padre, está à vista de todos, não é?, Chuvarria, chamo-me Chuvarria Campos. É um nome exótico, mas a explicação acaba por ser bem simples, o meu Pai, Deus o tenha, nasceu naquele país conflituoso que fica dentro de Espanha. E o senhor?
- Que nome tão estranho? Basco então!
- Basco, para ser mais correcto. – Respondeu-lhe o padre, - mas não me disse o seu nome?
- É obrigatório que tenha de lhe dizer? - Grunhiu Adães com ar indisposto.
- Não, claro que não. - acrescentou o padre. - Só se o quiser.
- Chamo-me Adães, Alfredo Adães. Está bem assim?
- Muito bem, sim senhor. Não custou assim tanto, pois não? Olhe, já estamos aqui a chegar. O lar, é a fortaleza do homem virtuoso, e este é o meu.
Enfurecido pelo inofensivo comentário do padre, ainda nem bem o carro tinha parado, e já Adães saltava porta fora, afastando-se um pouco para o lado. Foi para si boa surpresa, descobrir, que o optimista padre morava bem perto da barra da foz, mais propriamente, junto ao bojudo enclave onde a água doce do rio abraçava a salgada do mar. Uma pequena casita modesta, mas muito bem situada e amanhada com grande gosto.
- Quer entrar, senhor Alfredo? Faça de conta que está em sua casa.
- Não, não faço! - Gritou-lhe Adães com as costas viradas para si, enquanto vislumbrava ao longe o mar. - Eu não tenho casa, percebe? Não tenho família, não tenho lar, como você. Não tenho nada. - O padre Campos aproximou-se dele, e colocou-lhe a mão sobre o ombro dizendo-lhe:
- Ninguém, não tem nada, meu filho. Ainda há pouco, saía da igreja de coração velado por dúvidas que me tem atormentado de há uns dias para cá, e agora estou aqui contigo, cheio de esperança, e pronto para prosseguir a minha missão neste mundo. Tu foste aquela coisa boa que me aconteceu hoje, quem te garante que a ti não te acontecerá o mesmo?
Ainda que tentando manter-se com ar amuado e furioso, aquelas palavras serviram de catalisador para lhe libertar um choro convulsivo que há muito continha sem razão aparente. Desde o funeral de sua Mãe, que não vertia uma lágrima, com medo de parecer falso aos olhos de outros. Toda a sua vida, era assim vivida. Com medo, com medo de tudo. Tinha medo de começar e receava acabar, com as mulheres, com os amigos, com a família, com qualquer um. Tinha medo de os enfrentar, e medo de se acovardar, sacudia-se em tremores sempre que lhe pediam uma decisão. E o mais extraordinário, era o medo que sentia agora, por já não ter medo de nada.
- Chora meu filho, chora que te faz bem. É a criança que vive dentro de nós. Essa mesmo que já mamou o leite materno em tempos, é a nossa inocência eterna, e por vezes, meu filho, por vezes ela chora.
- Oh Padre, - Soluçou Adães, limpando as lágrimas com a manga do casaco, - eu estou tão fodido, oh desculpe-me, tão desesperado, que nem sei o que fazer.
- Deixa lá isso. Enxuga agora essas lágrimas, vem deitar-te e verás que de manhã, terás uma perspectiva diferente das coisas.
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