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Um dia fui ao cinema!
Um dia, e nem digo há quanto tempo me trazem pelas memórias o dia em que fui assistir a esse filme que me marcou, uma ante estreia, e sabia lá eu o que era isso naquela altura!
Teria de pagar? Dinheiro escasso para gastar na mensalidade do quarto, despesas da cantina, viagens de autocarro, e uma sopinha ao jantar…Sabia lá eu o que isso era! Já tinha gasto dinheiro em muitas idas ao cinema, mas convidada para uma ante estreia…ai! Ainda por cima esfriava naquela cidade fria com cinco ou sete f’s . Caramba! E naquela manhã, a cidade já se encontrava repleta de neve, um branco a que nunca antes tinha assistido. Já tinha visto nevar, claro que sim! Nasci e cresci nos invernos frios das casas geladas! Pela tarde também continuava a nevar, impossibilitando a ida ao colégio nesse dia. Por vezes e quando amanhecia, fazia sol, ou o tempo estava de cara triste e nebuloso, ou quando calhava chover pela manhã, o sol abria durante a tarde e voltava a chover ao fim do dia e … e… durante a noite gelava num gélido gelo que cortava. E assim foi tão bom…
Quando amanheceu, transformámos a neve em verdadeiras obras de arte, e por pouco não demos vida aos dois bonecos brancos e gigantescos que aproveitariam para contrariar os mais crescidos donos do primeiro andar quando nos abordavam no regresso das noites de quinta-feira para sei lá… para quê! Do pub ao disco, do comer guardanapos com mostarda e educadamente os empregados que nos convidavam a sair, … bem, até ao chegar a casa, no rigor da noite a clarear, depois de termos mastigado algum pão quente com iogurtes frios no jardim da praça.
Naquela noite, nem percebemos o porquê dos dois melhores amigos após roubarmos juntas as tulipas todas do quintal da dona senhora, que nunca vimos e nem ela nos viu passar, deparámos com aquela troca de murros… e como puderam dizer ainda: “… na amizade como quem carrega ovos” e a vontade do xixi que poderíamos fazer ali mesmo, passou de imediato quando um gato apanhado na terra que adoptamos de nome “ Bichano Ricardo Micas Marlene” a quem esse “Ovo” juntamente com aquele cozinheiro de Férias em Inglaterra para pagar o curso, que me ensinou a cozinhar divinamente arroz branco divinamente seco e solto, experimentou trocar a ciência pela física ao atirar o gato pela janela …. Porquê? Ele miava, ele tinha sete vidas! Rica experiencia! Caramba! A nossa mascote que nunca vos incomodou, que me acordava pela manhã lembrando da hora de ir estudar, competir com os doutores e engenheiros, e me dava dentadas na anca…. “Quero sair! Abre a porta para ir à minha caixa e tu ires à tua vida!”
Acabou-se ali mesmo! Durante dias ouvimos um miar contínuo e então… bichano, bichano, o quanto procurámos pelo bichaninho! Ainda poderia ter uma pata partida, assustado com tanta crueldade dos amigos que tantos miminhos lhe deram em tantos dias em tantas noites de conversas.
Pois nessa noite não ficámos em casa com os de casa, fomos convidadas para ir ao cinema e assistir à ante estreia dum filme com aqueles que não passeavam connosco como quem leva ovos na mão! E nós fomos!
Aquele gato pulguento que veio parar à minha casa e o meti numa cesta …naquela cesta dos tantos piqueniques que fizemos juntas, Lembras-te? Do frango, rissóis, e dos bolinhos de bacalhau que levávamos para as nossas aventuras. Até fomos parar numa noite à rua dos Caldeireiros no Porto longe de casa, e em que tu foste quase livre por uma vez e eu quase pronta a te oferecer uma bofetada bem assente na cara! Nesse dia, tu aprendeste algo comigo. Quem me dera que me tivesses acompanhado mais tarde, quando precisei de aprender tantas outras coisas contigo!
Mas nada disso importou naquela noite em que perdemos para sempre o bichano, aquele gato pequeno! E lembras-te quando parámos naquela paragem que te fazia relembrar o quanto o teu pai estava ausente, a trabalhar naquela cidade próxima e tão longe da tua casa? E ao mesmo tempo que demos oxigénio ao pulguento, ainda sem nome na altura, e vimos passar o “Goipo”, aquele bêbado abandonado pela mulher e muitos filhos, nos fez pensar em alguém tão próximo?! Um dia sonhei com ele a espancar a mulher enquanto saltava em cima da barriga dela. Também sonhava que um dia tudo acabaria na minha casa, mas de forma diferente.
Seguimos pela rua e fomos ver a ante estreia nessa noite com uns cavalos tidos simbolicamente astrais! Subimos a avenida com uns cachecóis de metro e meio do tipo algodão e lã que a minha mãe trouxera de África (do pouco que veio e se aproveitou) e eu fiz aquelas mantinhas quentes para que nos protegêssemos do frio da meia-noite enquanto subíamos a avenida de calçada paralela salpicada de sal e desenhada por artistas na transformação do granito. O frio cortava mais que a imaturidade da juventude, ai a neve, a poderosa neve… como nos fortalece!
E lá fomos as duas à primeira ante estreia de uma história de amor, para lembrar profundamente uma outra história de amor. No desenrolar dessa história eu bem tentava conter as minhas lágrimas que insistiam em cair. Caramba! Tantos anos depois ainda não aprenderam o significado do autocontrole. Ingratas que tanto fiz por elas! O que sofri para não as deixar cair e, mesmo quando até nem é um filme arrebatador de grandes sentimentos. Bolas! Porque não se controlam, e quem autorizou a inserção de uma sempre take sentimentalista, se sabem à partida que vou chorar no cinema? Já quase não vou ao cinema! Gostaria de ter saído daquela sala ou nunca ter entrado nela, só para ninguém perceber como aquilo se poderia transformar num “hunhmf”. O meu peito chorava de tanto sentimento, o meu coração tinha um som estranho como se nunca tivesse esquecido o primeiro amor e ele me tivesse dado um anel de nikles para a vida inteira! Enfrentei o frio, a neve, o gelo e a noite para isso. Que vergonha! Eu, aquele ser tão forte descobrindo a vida, sempre à frente dos toscos em qualquer expectativa e, agora ali sozinha a chorar para mim ao descoberto de todos, lacrimejando por um grande amor…por um filme!
Um filme que mais parecia não terminar, uma comovente e embaraçosa tragédia com alguns intervalos de choro graças à grande actriz Whoopi Goldberg que me fazia chorar de tanto rir! E foi num desses intervalos que ganhei coragem e consegui olhar de esguelha para o cavalo do lado esquerdo. Foi nessa altura que percebi que os bravos também choram.
Carla Bordalo
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Comentários
Re: Um dia fui ao cinema!
Re: Um dia fui ao cinema!
Uma narrativa, Carla,
cheia de requintes,
que lhe dão uma
imensa beleza.
:-)