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A Uniformidade dos disfarces

A UNIFORMIDADE DOS DISFARCES
Jorge Linhaça

     Fotografar grupos de mulheres islâmicas, trajando as suas burkas, é
algo que nos leva a refletir na propriedade de certos comportamentos.
Não, fiquem tranqüilos, não vou aqui discorrer sobre a questão da
religiosidade envolvida.
A questão que levanto é apenas e tão somente sobre a foto em si. Como
se pode realmente reconhecer quem está na foto tirada, oculta por uma
indumentária uniforme que recobre tudo menos os olhos dos fotografados?
Talvez a resposta esteja justamente contida na pergunta: reconhecemos
pelo olhar...
Dizem que os olhos são a janela da alma, eu de minha parte sempre
aprendi a olhar as pessoas nos olhos para falar e expor meus pontos de
vista. Já vi muitos olhares se desviarem, disfarçarem e olharem em outra
direção, buscarem pontos de fuga em algum lugar no espaço. Já vi pessoas
fecharem literalmente os olhos, alegando que assim se concentram melhor no
que é dito.
Já vi pessoas que esbravejam e falam coisas duras, mas que não tiram os
olhos de seus interlocutores, e já vi também pessoas que falam suavemente,
sem no entanto terem a coragem de fitar os olhos de seus interlocutores. Se
os olhos são a janela da alma, qual dos dois não teme a verdade? O que fita
profundamente ou o que dissimula o seu olhar?
Muitas vezes o ser humano se traja de armaduras uniformes para defender
algum ponto de vista ou o ponto de vista de alguém de seu grupo mais
próximo.
Vivemos hoje uma época de tribos urbanas, onde o visual das roupas
define a que grupo se pertence. Normalmente isso está ligado à adolescência,
pois é nesse período que as pessoas sentem a necessidade premente de
aceitação por um grupo.
Na maioria das vezes isso é praticamente inofensivo e até mesmo
benéfico já que se aprende a conviver em grupo. O risco está nas
lideranças tornarem-se personalistas, ou seja, de os grupos, tribos ou
agremiações passarem a cultuar a personalidade de fulano ou sicrano. Isso
leva geralmente a uma ilusão de que tal pessoa é isenta de falhas, de que é
o salvador ou salvadora do mundo, ou ao menos dos ideais de um grupo.
Não importa quantos erros tais líderes cometam em nome de uma
pseudo-defesa de seus ideais comuns, o grupo como um todo considerará aquilo
no mínimo como um mal necessário.
Por trás de toda a liderança personalista existem sempre as mesmas
atitudes ou ferramentas:
Segredos supostamente partilhados entre duas ou três pessoas sob a
exigência de sigilo absoluto; elogios fáceis e exagerados em relação a este
ou aquele; intrigas disseminadas na boca da noite, reuniões secretas entre a
cúpula dos grupo, ou entre o líder e seguidores escolhidos à dedo de acordo
com a intencionalidade do momento; campanhas de silêncio contra fulano ou
beltrano que discorda de algum ponto de vista e claro...a busca de um bode
expiatório para ocultar as próprias falhas de caráter ou objetivos pessoais
da liderança em questão.
Assim como as burkas escondem a beleza do corpo de algumas mulheres
islâmicas, ou mesmo a sua falta de beleza, já que é impossível ter uma idéia
concreta de quem está sob aquela roupa, muitas vezes um sorriso amarelo e um
olhar dissimulado escondem a alma do ser humano.
É bastante interessante perceber que essas pessoas fogem da discussão de
idéias com seus pretensos inimigos, escondem-se atrás do escudo dos que
conseguem manipular e que acham ser livres e donos de seus próprios
pensamentos.
Jamais olham olho-no-olho, e estão sempre dizendo...outra hora falamos
sobre isso...agem dissimuladamente em qualquer reunião onde seus "inimigos"
se façam presentes, fingem aquela cordialidade digna dos vilões de
cinema...sorriso, beijinhos, educação refinada...mas basta fulano ou
beltrano virar as costas e lá vem os comentários sobre o que ele fez ou
deixou de fazer...imediatamente reúnem seus seguidores e, com ar sofrido,
falam de sua "profunda" decepção em relação a fulano ou beltrano...sempre
pelas costas claro, jamais correriam o risco de cobrar frontalmente aquilo a
que acreditam ter direito.
Afinal, sua máscara poderia dissolver-se sobre sua face, tal qual uma
burka arrancada pelo vento da verdade, e revelar toda a podridão existente
dentro de um sepulcro caiado.
É por essas e por outras que não uso burka...saio nas fotos
completamente feio ou bonito, elegante ou maltrapilho, mas apareço como
realmente sou.
 

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sábado, maio 21, 2011 - 17:20

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Jorge Linhaca

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