CONCURSOS:
Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia? Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.
Yoanna
O seu grande confidente, o rio, dissera-lhe: “Yoanna não te deixes atrasar mais por desculpas e por desvios de um sem número de acasos. É lá que estás e é lá que te esperam. Algum dia a consciência virá por ti, a tua realidade se imporá…”
Escutou, interiorizou e decidiu-se. Regressou à sala de actos.
À entrada aquele odor de efervescência e de adrenalina suado. Deixou o olhar correr o soalho até bem ao fundo da sala. Envolveu-se e contribuiu para o silêncio inundado de muitas vozes daquele espaço e viu-o. O espelho. O experimentado espelho, sábio da técnica, conselheiro do caminho da perfeição. Pedagogo, pai… Reconheceram-se. Fitou-o, abraçou-o com o íntimo. Partilharam as vozes do silêncio.
E o espelho, feliz em bagos prenhes de carinho, dobrou-se em inusitada vénia, revelando todo um mundo guardado no seu baú opaco.
Projectado na sua pele vítrea fria o calor de muitos momentos, como um álbum de memórias, deixou correr todos os afectos, impressões de anos, tentações e sensações, notas, imagens, realidades… do universo de Yoanna. Esta, algo trémula, trocou de pé no equilíbrio da sua gravidade, trocou de olhar e pintou de sentir os sentidos, invadida, trespassada por todos aqueles casulos de vivências. E tanto que havia ficado para trás, por escolha ou por força doutras forças.
Reagiu e injectada de nervo chutou para canto os sapatos de tacão alto, acariciou nas mãos da imaginação os sapatos de pontas mágicos, transformou o tailler em maillot sob tutu (tão justo que revelava as formas leves e soltas) e ficou pronta para o lago dos cisnes. Dos cisnes ou de qualquer outro dos sonhos alados que lhe florearam de imediato o céu impregnado na cobertura da sala. A música, tamanha música redonda, cheia, omnipresente do passado a passos bailados em desejo para o futuro, sacudia-a, tentava-a como cachorro brincalhão à espera de companhia.
E, descalça e nua, Yoanna tingiu o espelho com bailado de doce fúria e desejo, bailado de visita a todos os seus seres espalhados nos anos, bailado de saudade, bailado de dor e felicidade, bailado de riso e lágrimas, bailado de memórias e memorável…
O espelho, ávido de atenção, registou cada saboroso movimento, como imagens sequenciais de lanterna mágica. Guardou-as no seu dorso opaco. Ficou tão brilhante e límpido, recolhendo-se por segundos, como mármore extasiado.
Dos pés corriam pequenos traços de sangue, do corpo ofegantes vapores transpirados elevavam-se como preces, dos lábios um beijo sorridente desmascarava a alma, agora tranquila, em paz. A pátria reconstruída, a nação reunificada e o império coeso novamente.
Retomou os sapatos de tacão e o tailler, era tempo de regressar a casa. À casa de agora, à casa de sempre. Ao lar que recuperara e à família que retomara.
Despediu-se do espelho, em silêncio, encostou-lhe o coração.
Ia solta, em dança interminável para os salões da vida que a esperavam.
E na sala, o espelho mostra a quem por lá passa e conseguir escutar as vozes no silêncio, a pureza e a bondade do ser humano… Yoanna.
Andarilhus “(º0º)”
XIII : V : MMVIII
Submited by
Prosas :
- Se logue para poder enviar comentários
- 1210 leituras
Add comment
other contents of Andarilhus
Tópico | Título | Respostas | Views |
Last Post![]() |
Língua | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Tristeza | Remos de Vida por Mar Inóspito | 3 | 642 | 07/29/2010 - 00:39 | Português | |
Poesia/Meditação | Derrubar os Nossos Muros | 1 | 623 | 07/29/2010 - 00:38 | Português | |
Poesia/Pensamentos | Aqueles Que Instigam os Nossos Demónios Cativos | 1 | 759 | 07/16/2010 - 15:58 | Português | |
Poesia/Intervenção | O Drama sem Argumento | 3 | 804 | 05/29/2010 - 15:31 | Português | |
Poesia/Tristeza | O Voar Rastejante | 1 | 629 | 04/25/2010 - 13:09 | Português | |
Poesia/Gótico | O Uivo da Lua (Um texto comum de MariaTreva e Andarilhus) | 7 | 1.034 | 03/04/2010 - 16:06 | Português | |
Poesia/Amor | A Obra do Amor | 4 | 776 | 03/03/2010 - 02:55 | Português | |
Poesia/Gótico | Protege-me com tuas lágrimas | 5 | 599 | 03/03/2010 - 02:51 | Português | |
Poesia/Amor | Outra vez... | 6 | 769 | 03/03/2010 - 02:06 | Português | |
Poesia/Aforismo | O Tesouro | 4 | 501 | 03/02/2010 - 17:19 | Português | |
Poesia/Meditação | Um Natal Aqui Tão Perto | 4 | 607 | 03/02/2010 - 03:04 | Português | |
Poesia/Dedicado | Vestida de Mar (ia) | 4 | 661 | 03/01/2010 - 20:18 | Português | |
Poesia/Meditação | Fado Vadio | 5 | 612 | 03/01/2010 - 15:29 | Português | |
Poesia/Geral | Farei de ti um concorrente do Sol | 7 | 752 | 02/28/2010 - 19:45 | Português | |
Poesia/Meditação | Um bom ponto de partida... | 7 | 547 | 02/28/2010 - 19:24 | Português | |
Poesia/Meditação | O Fio Ténue da Marioneta | 5 | 619 | 02/28/2010 - 13:55 | Português | |
Poesia/Desilusão | O Canto Escuro | 7 | 766 | 02/28/2010 - 12:39 | Português | |
Poesia/Aforismo | Lições de Vida, Lições de Amor | 5 | 778 | 02/28/2010 - 01:38 | Português | |
Poesia/Aforismo | Folha de Outono | 5 | 684 | 02/28/2010 - 01:17 | Português | |
Poesia/Paixão | Guarda-me no teu beijo | 8 | 928 | 02/28/2010 - 00:48 | Português | |
Poesia/Tristeza | Coroa de Espinhos | 3 | 724 | 02/27/2010 - 21:07 | Português | |
Poesia/Fantasia | A Pura Dimensão | 3 | 857 | 02/27/2010 - 20:56 | Português | |
Poesia/Geral | Das Certezas (tomo IV) | 2 | 967 | 02/27/2010 - 15:03 | Português | |
Poesia/Paixão | Saída | 3 | 779 | 02/26/2010 - 17:26 | Português | |
Poesia/Amor | Obra-prima | 3 | 647 | 02/26/2010 - 17:13 | Português |
Comentários
Re: Yoanna
Uma vénia por tão intimo momento e tanto saber sobre o "lado" do espelho.
Um beijo, Sábio.
Re: Yoanna
Um espelho mágico que liberta a mulher nela própria :-)
Este texto está genial.
Bjs
Re: Yoanna
Bem... acho que tenho que ler-te mais... gostei.
Re: Yoanna
1º acto:
O jogo, linguagem corporal dá-se..o qual poderia chamar-lhe "Fantasmagórico".
2º acto:
As imagens precipitam-se em apoteose, pelos movimentos conseguidos através da consciência artistica, que remetem-me para a conjugação cénica/ilusão.
3º acto:
Grandioso bailado. actua plenamente na intuição, no firmamento sossegado do fundo do espelho, prolongando-se após os panos fecharem-se...
...levanto-me e aplaudo.
Beijo*