A Menina do Outro Lado da Rua

O dia era chuvoso, chuvoso, mas não nublado
Chuvoso com o sol refletindo nas poças d’agua,
Porém sem refletir cor alguma
Mas isso não interessa a ninguém

Havia uma menina do outro lado da rua,
Ela segurava seu guarda-chuva vermelho, num dia quase preto e branco
Mas ninguém queria saber dela também
Ela não atravessou a rua, não atravessou a rua porque não havia nada do outro lado
Ou talvez porque esperasse alguém,
Mas essa é a verdade que eu não quero contar

Daqui, do outro lado, do lado da estação, eu seguro a mão de um amigo imaginário
E todas as palavras que dizemos evaporam, com o vapor da saliva dos beijos não dados
O dia seria triste se não fosse meio feliz
Mas ser meio feliz não diminui sua tristeza

O velho da frente tosse e cospe, e narra uma historia de terror
Talvez a história seja minha, ou talvez seja da menina do guarda chuva
Talvez ela tenha sido atropelada, no instante em que eu subi no ônibus
Talvez se ela tivesse atravessado, ela teria te encontrado
E isso talvez mudasse alguma coisa
Mas isso não aconteceu pelo simples fato de não ter acontecido
Pelo sentido primário da vida ou alguma baboseira assim
Essas coisas que não cabem nem a mim, nem a você nem a menina do outro lado da rua entender
Acho que vou pegar um agasalho antes que fique doente