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ODE DA ALMA LISBOETA (altíssima lisboa e eu, a minha cidade vida)

Na manhã fresca de uma Primavera qualquer
deste Domingo citadino percorrido em avenida larga
que ao ponto da chegada tem-me á espera este rio…
um rio que já foi mais azul que o azul do céu e que hoje
é menos azul que o azul verdadeiro….
eis-me chegado de perto ás minhas recordações vãs da infância.
De recordações cuja angustia me provoca não sei bem o quê (?)
Se tristeza se uma sensação de morte e fim de todas as coisas (?)
Mas quero por dentro de mim ultrapassar todas estas angustias
que a vida me deu.
Quero recordar-me a mim mesmo criança de um a infância alegre…
quase feliz !
Quero lançar sobre os meus pensamentos
essa alegria que ás vezes não me deixaram saborear.

Percorro de novo os sonhos de menino.
Sonhos feitos de azul. De um azul verdadeiro
como se nenhuma nostalgia fosse
suficientemente forte e capaz de toldar
a cor azul dos meus sonhos de infância.
Um azul muito próximo da cor
do Tejo de então…!
De um tom como aquele azul japonês
pintado nas doces palavras do grande poeta !

E eis-me chegado ao azul estragado
do Tejo dos nosso dias.

E que medo que todos têm em encontrar
dentro de si todos os dias
a criança que ali está !

A vergonha de nos olharmos no espelho
do tempo e da vida para nos
confrontarmos com as nossas
próprias frustrações e medos interiores.
A vergonha de termos feito isto ou aquilo
tal como nos apeteceu e não como
nos mandaram fazer ou como os outros
gostaria que tivéssemos feito!
É como se nos tivéssemos sublevado
ás ordens de um qualquer ditador
que nos empurrou por viagens
construídas de peripécias
e á conquista de aventuras
cujo desfecho é sempre imprevisível !

Nesta manhã de uma Primavera
sinto na face uma leve frescura
com o sabor a saudade de tudo e de nada.

Mesmo assim desço a larga avenida
desta Lisboa que há séculos conheço.
Tantos quantos aqueles em que nela
viajei mesmo sem o ter feito de facto.
É como se fosse ela a minha Mãe
e a minha vida também.
É como se eu não pudesse viver sem ela.
É esta sensação que passa por mim
de que não posso pertencer a mais
nenhum lugar senão este.
É como se as grandes avenidas
e praças e ruas e becos
fossem elas mesmo as minhas veias
por onde corre o sangue e o meu tempo
e a vida e o tempo da minha própria morte !

E Lisboa continuará por certo viva
mesmo depois da minha morte !

E que seria de mim sem esta cidade
e que seria de Lisboa sem este rio ?
Sem este Tejo ?

(?) Que teria sido de mim em calções
de miúdo sem ver as suas águas
sem avistar este rio que me prende à vida…
Sem ter vivido a corrente da História
deste rio que viu partir marinheiros
em viagens de grande Odisseia !
E agora que vai ser dos meus filhos sem um rio…
tão azul como o azul como o meu ?

Que mal o deles que já vivem a olhar o Tejo
que banha esta cidade e que está menos azul
que o azul verdadeiro .

Mas continuo a caminhar pelas margens
deste domingo feito de velhos eléctricos
a subir e a descer a grande avenida…
Uma viagem de cinco tostões
até ao extremo da cidade.
Até ao extremo do meu amor !

Ah…que bom que era e quem me dera
que a minha infância nunca tivesse acabado…

Serão saudades desse tempo
ou saudades de mim mesmo ?

E eis-me de repente a interromper
a grande viagem á grande cidade.

Entro na tabacaria e compro o jornal.
Leio os títulos e enfio por uma velha
leitaria das que resistiram ao tempo.
Peço um café e pago com os trocados
que trago no bolso contrário ao bolso
onde transporto a saudade.
E revejo a minha própria mocidade !

Desando agora para mais um pouco
deste passeio nostálgico…
que nostalgia nunca ficou mal a ninguém !

Mas no que estou eu para aqui a pensar…?
Numa coisa que já não há que não existe
que ficou para trás do meu espaço e do meu tempo !
Agora só me resta este rio e nem sequer
o seu azul é o mesmo de outrora…
Porque os homens mudaram a cor
das próprias cores !!!

E vou fazendo desta minha viagem
a grande aventura de todos os dias.

Há muitos anos eu fazia este passeio a pé
na companhia do meu avô.
Caminhava-mos juntos por aquela
avenida abaixo.
A mesma que me viu nascer
e crescer para a vida.
E ás vezes embora muito criança
também arriscava um passeio sozinho.
E pelos passeios largos da avenida
caminhava sempre acompanhado
pelos conselhos e as palavras da velha
sabedoria que me serviam de guia.

Tenho saudades desse tempo!
Ou serão saudades de mim mesmo ?

Mas a saudade é uma coisa
que ás vezes nos destrói.

É preciso pensar em frente que na frente está um rio
talvez mais azul que o azul verdadeiro…!

Eu tinha não sei quantos anos (?) mas sei que já andava só
a passear pela larga avenida geometricamente recta e larga
que nos leva ás águas de onde partiram caravelas umas vezes
de noite outras de dia deixando no ar esse cheiro a maresia...
e dentro de mim crescia a saudade por esses tempos heróicos
de aventuras de imprevisível .

Depois cresci. Fiz-me adolescente antes de ser homem
antes de partir por águas dantes navegadas
a caminho da guerra que me deram de presente
por eu ter atingido a maioridade.

Nas matas por onde andei e na terra que pisei
não vi nenhum rio azul igual ao da minha cidade.
Apenas pela minha face rolaram lágrimas de saudade.

E também não vi mares nem caravelas.
Ficou tudo para trás de mim e do meu tempo.
Menos as armas. A minha e as dos outros
que disparavam na minha direcção.
Mas rios…não vi nenhum.

E de repente regresso á minha cidade.
A esta Lisboa agora vestida de cravos e madrugada
e com sorrisos de Abril.

Quase vinte anos passados e passeando
neste Domingo qualquer
pelo passeio largo de uma avenida
geometricamente rectilínea
que desagua nas velhas águas do rio
vejo ao descê-la um Tejo de azul estragado.
Um rio que também é desta cidade.
E rio-me com um sabor amargo
por ver um rio estragado
pelos homens como eu.

E Lisboa tem um rio !
E Lisboa tem o Tejo !

Lisboa…e então vi-te.
Foi numa tarde de Inverno.
Depois subi ao ultimo andar
de um edifício moderno
olhei-te por uma janela
e no meio da multidão perdi-te !

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domingo, abril 4, 2010 - 21:58

Ministério da Poesia :

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