Noturno Vulgar

Um sopro abre fendas operádicas nas paredes, — embaralha o eixo dos tetos
podres, — dispersa os limites dos foyers, — eclipsa vidraças. — Pelas
videiras, apoiando o pé numa gárgula, — desci nesse coche de uma época bem
indicada pelos espelhos convexos, almofadas bojudas e sofás distorcidos.
Carro funerário do meu sono, solitário, casa de pastor de minha tolice, o
veículo vira sobre o mato da grande estrada desaparecida: e num defeito no
alto do espelho, à direita, giram pálidas figuras lunares, folhas, seios; — Um
verde e um azul escuros invadem a imagem. Desatrelagem perto de uma
mancha de cascalho.
— Aqui vão assoviar às tempestades, e às Sodomas, — e às Solimas, — e aos
animais ferozes e aos exércitos,
— (Postilhões e animais de sonho vão voltar sob as matas mais sufocantes
para me afogar até os olhos na nascente de seda) — E a nos enviar, açoitados
por ondas crispadas e bebidas derramadas, rolando entre latidos de dogues...
— Um sopro dispersa os limites do foyer.

Jean Arthur Rimbaud
Livro: Iluminações

Submited by

Lunes, Febrero 23, 2009 - 19:31

Poesia :

Sin votos aún

JeanArthurRimbaud

Imagen de JeanArthurRimbaud
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 23 semanas
Integró: 10/11/2008
Posts:
Points: 263

Comentarios

Imagen de Henrique

Re: Noturno Vulgar

Muito bom, gostei de ler! :-)

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of JeanArthurRimbaud

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Fotos/Perfil Rimbaud 0 1.590 11/24/2010 - 00:36 Portuguese
Poesia/General Génio 1 950 03/04/2010 - 04:20 Portuguese
Poesia/General Democracia 1 878 03/04/2010 - 04:19 Portuguese
Poesia/General Devoção 1 720 03/04/2010 - 04:19 Portuguese
Poesia/General Movimento 1 908 03/04/2010 - 04:18 Portuguese
Poesia/General H 1 1.147 03/04/2010 - 04:18 Portuguese
Poesia/General Bottom 1 883 03/04/2010 - 04:17 Portuguese
Poesia/General Tarde histórica 1 772 03/04/2010 - 04:17 Portuguese
Poesia/General Cenas 1 1.055 03/04/2010 - 04:16 Portuguese
Poesia/General Promontório 1 793 03/04/2010 - 04:16 Portuguese
Poesia/General Juventude 1 961 03/04/2010 - 04:15 Portuguese
Poesia/General Guerra 1 855 03/04/2010 - 04:15 Portuguese
Poesia/General Fairy 1 828 03/04/2010 - 04:14 Portuguese
Poesia/General Saldo 1 911 03/04/2010 - 04:14 Portuguese
Poesia/General Bárbaro 1 894 03/04/2010 - 04:14 Portuguese
Poesia/General Metropolitano 1 888 03/04/2010 - 04:13 Portuguese
Poesia/General Angústia 1 981 03/04/2010 - 04:13 Portuguese
Poesia/General Festa de Inverno 1 853 03/04/2010 - 04:12 Portuguese
Poesia/General Marinha 1 1.057 03/04/2010 - 04:12 Portuguese
Poesia/General Noturno Vulgar 1 1.043 03/04/2010 - 04:11 Portuguese
Poesia/General Flores 1 1.059 03/04/2010 - 04:11 Portuguese
Poesia/General Aurora 1 803 03/04/2010 - 04:10 Portuguese
Poesia/General Mística 1 811 03/04/2010 - 04:10 Portuguese
Poesia/General Vigílias 1 992 03/04/2010 - 04:10 Portuguese
Poesia/General Cidades II 1 790 03/04/2010 - 04:09 Portuguese