À FLÔR DA PELE

Balanço o corpo ofegante
sobre uma cidade cruel
onde as casas em ruínas
brotam à flôr da pele.

Sento-me ao lado da ponte
de um rio sem margem
com o coração aprisionado
ferido de coragem.

Acendo um cigarro
crio com o fumo um barco inventado
abro o livro da vida
peço ao vento para desfolha-lo.

Lembro-me do teu corpo gelado
pintado em mármore de pecado
e da redoma que criaste
para o teu mundo encantado.

Nem o vinho apalavrado
com silabas de sentimento
embriagaram o monstro
que te nascia por dentro.

A mão com dez dedos
que uniu o nosso ser
é calçada cinzenta
revolução a morrer.

Não sei onde me leva este caminho
destino pintado na bruma
sei que o meu corpo desfalece
no sonho que se esfuma.

Vejo a luz ao fundo do túnel
sem a poder tocar
como o teu corpo nas fotos
que não consegui rasgar.

Mata-me esta fé
que se veste de esperança
carrego-a no ventre
como se carrega uma criança.

Adormeço cansado
em cima de palavras
queimadas pelo fogo
que parece ter asas.

Viraste-me as costas
arrancaste-me o coração
e no vidro embaciado
escreveste um adeus com a mão.

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Jueves, Agosto 4, 2011 - 00:35

Poesia :

Su voto: Nada (1 vote)

Rui Afonso dos Santos

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Comentarios

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Não sei onde me leva este caminho

Um dos poemas mais "transparentes"....

Tal como o título escolhido, tudo o que  sente é palpável, dolorosamente....

Gostei, Rui, parabéns

:)

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Obrigado Odete, é por si só

Obrigado Odete, é por si só um elogio enorme tendo-a como leitora.

É sem dúvida o mais transparente de todos, temos dias assim, deixamos as coisas sair, há outros em que escondemos o que nos vai na alma com palavras menos claras.

beijos.

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