A VERDADE DA MENTIRA

Não, não basta estar vivo.

Estar vivo é uma folha mortal à deriva no exacto das coisas imortais, é um nó cego para subir as escadas surdas do destino escondido na garganta dos porquês inacabados, viver é um adeus inalterável neste chão de frutos apeados num canhão que nos dispara em frente no ramo da nossa estadia neste mundo, atolado por reinos de cobiça.

Percorri-me do lado de fora, pousado em gotas secas de más-línguas que tentam sacudir as leituras bruscas que faço nos meus pensamentos em hora de folga na realidade, sopro a película fina de poeira que range nos meus sonhos e acordo no perdão pateta que guardo no bolso dos meus instintos, atordoados no meu lado perdido nos achados do cata-vento da minha inteligência sem pressas, interceptando o mais fundo de mim com promessas debruçadas em demasiadas recordações, com inexcedível alívio da mente que escorrega no ritmo do relógio.

Encomendo o passado para sortear as portas do meu início, dilatando a minha voz nas tréguas espessas de um papel em branco, sujo por um nunca que quebra o medo em tom de mistério no culto das minhas palavras perplexas, escritas tão rápidas pelo inseguro lento que avermelhava o céu recostado no conforto dos meus olhos fechado.

Fui sumo espremido pelas primaveras que escolheram o meu sorriso para florir, fui tronco vergado pela saudade que me enterrou os pés na lama, fui envenenado por ilusões impiedosas que me assanhavam para paragens falsas.

Era pacato o convite da loucura que afastava a neblina do peso do meu corpo, violei o meu ego através da minha janela tímida sem paisagens, de satisfações intocadas pelo vício de prazer desprovido de sentido.

Chorei lágrimas francas para apanhar o comboio de um Sol de inverno, com meios sorrisos de despedida para um sítio salvaguardado no tempo, um de repente que esperava irracional num pulo para nenhures, algures perturbado pelo desalento nunca inocente das frases interiores em vão, abrindo clareiras sonolentas na poltrona de veludo de um absurdo espreitado pelo vento que despe toda a minha verdade emocional, zumbida na embriaguez do meu equilíbrio sem suspeitas da liberdade, que não me cansa de escavar instintivamente as elites das minhas vontades preguiçosas, com quem danço no baile de ir embora.

Sou o custo da algazarra, semeada no esterco meditado na intimidade com o passado, dispersado em toneladas de vazio rasgado por trapalhadas nas idas e voltas, pelo tormento das minhas paredes crivadas de dor mentirosa.

Fui poesia nos mergulhos da lua ao mar, volta e meia pedaços de mim chegavam ao fim das viagens que nunca cheguei a inaugurar em mim.

Fui porco-espinho no berço dos meus serões apregoados no comportamento das estrelas, citadas no meu respirar fluente por entre o furor poético da paixão, dona das sequelas ciumentas da insónia destinatária da minha fúria, ripostada no desperdício dos dias que mantive em segredo.

Fui caça dos meus disfarces, caçador de simplicidade desdenhada na gula das denúncias da ambição que embarcara num navio de luxúria, batendo retiradas no imaginário ancorado num oceano chuvoso, insultado por distâncias decepcionantes onde eu era o alvo dos trovões na pasmaceira do meu peito numa tertúlia de cigarros pensativos.

Sonhador andante, atravessei noites de luar em silêncio embaraçoso, depositado nos meus lábios abandonados num romance de amor ansioso, em tempos que sustentavam a delicadeza dos desejos aposentados nos elogios de perigo iminente, que soava ambulante nas tentações que me beijavam as mãos com estremecimento inclinado para os desmentidos da alma.

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Miércoles, Abril 1, 2009 - 02:28

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Henrique

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Ficou muito bom... Abraço,

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Abraço, ...)...(@

:)

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Re: A VERDADE DA MENTIRA

Excelente!! deixa-me dizer-te que não sou fã de leituras extensas,mas esta está muito boa!

quero que continues mas nunca esqueças de escrever o que sentes! assim como agora.

beijinho 8-)

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